Sonhos e Realidade

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"Apenas as pessoas que são capazes de amar fortemente podem sofrer grande tristeza, mas esta mesma necessidade de amar serve para neutralizar a sua dor e curar."

___Liev Tolstói








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Ter ciência das coisas era como adquirir uma perturbação interna garantida pelo resto da vida, como grandes mentes anteriores já concluíram, o conhecimento as vezes se tornava uma maldição e a ignorância fazia falta.

Dazai gostaria de poder voltar no tempo, para dois dias atrás (quando teve uma imensa reflexão sobre seus sentimentos e o entendimento lhe sobreveio), controlar seu corpo para que chutasse Akutagawa á tempo de o impedir de soltar a maldita frase que desencadearia todo seu sofrimento seguinte. Céus! Como era horrível estar no mesmo ambiente que Fyodor após ter ciência de que, por uma maldade do mundo, gostava dele de maneira romântica.

Sua mente em estado de normalidade já era recheada de ansiedades e previsões, tal costume se intensificou no dia seguinte á suas reflexões, quando, ao por os pés na escola, se deu conta de que seu corpo dividiria espaço com o russo. Não era mais a mesma coisa de antes. Quando não entendia o que sentia era mais simples, mas agora a benção da ignorância havia o deixado, e só lhe restara o tormento infernal de sentir-se nervoso e inquieto como um grande paspalho sempre que olhava para o Fyodor.

Desejava que raios o partissem de vez do que permanecer nessa tortura agoniante. Chegava a sentir uma profunda saudade dos dias passados, quando agia normalmente e a vida seguia não sendo grande coisa nem lhe trazendo novidade alguma. Agora seu coração palpitava descontrolado, suas mãos suavam por baixo das bandagens e toda sua saliva sumia completamente, deixando sua boca em estado desértico sempre que sentia o olhar felino sob si.

Sentado em sua cadeira de sempre, com tranquilidade bem fingida e coluna curvada, mordia a tampa da caneta e evitava a todo custo tirar os olhos da lousa, onde sequer havia alguma coisa escrita além da data.

-Vai ficar evitando ele o resto da vida?- Chuuya sussurrou, a falta de paciência evidente em seu tom de voz, como sempre.

Os olhos azuis o miravam irritados, sentado de lado na cadeira e se escorando sob sua mesa, Nakahara parecia pronto para socá-lo por motivos desconhecidos. Tendo o silêncio como sua única reposta, o ruivo bufou e cruzou os braços indignado, esticou as pernas cobertas pela calça de couro, fazendo as botas pretas batucarem o piso encardido.

Chuuya e Dazai eram amigos desde sempre, não se lembravam de uma época onde não estivessem se provocando e discutindo, ao mesmo tempo que acompanhando um ao outro para todo lado. Tinham uma intimidade que dava passe livre para Chuuya dizer o que pensava dos assuntos pessoais do mais alto, sem temer perder o amigo ou magoá-lo.

-Devia tentar ao menos agir normalmente com ele.- Disse simplesmente, antes de virar as costas para o moreno de maneira dramática.

Osamu suspirou e largou a caneta babada na mesa, sabia que não podia fazer isso pra sempre, não era justo com Fyodor uma vez que haviam iniciado algum tipo de amizade, não faria sentido na cabeça do garoto russo que parassem de se falar do nada. Encolhendo os ombros, o moreno resolveu se esforçar para superar seu nervosismo, apesar de toda a aflição que a situação lhe trazia, não podia esquecer que, lá no fundo, gostava da ideia.

Gostava de saber que havia mais alguém igual a ele, mais um ser vivo que compartilhava do cansaço de uma vida nunca vivida. Fyodor parecia o entender de certa maneira, não haviam tido contato suficiente para ter certeza disso, mas Osamu colocaria sua mão no fogo dessa vez, uma intuição do além lhe fazendo crer que, quando estava na companhia de Dostoyevsky, estava com sua outra metade lhe completando.

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⏰ Última atualização: Sep 26, 2023 ⏰

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