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Lucas Paquetá

Indo ao inferno em busca de luz, foi assim que eu me senti quando finalmente voltei da sedação e estava sozinho naquele CTI, separado de outras pessoas que só Deus sabe o nível crítico de saúde, por apenas duas cortinas privativas que me impediam de descobrir quais eram as minhas companhias.

O cheiro fétido e ardente invadiu minhas narinas, a luz extremamente forte machucava minhas pupilas sensíveis recém habituadas com a mínima claridade, a sonda incomodava meu nariz, os acessos doíam nas dobradiças dos dois braços, uma breve cãibra que se iniciava na minha perna agora completamente estendida e suspensa que foi enfaixada até o meio da virilha, os "bips" das máquinas ao meu redor... Exatamente tudo naquele lugar me incomodava, afinal, eu estava em um lugar estranho, com pessoas totalmente estranhas para mim e absolutamente sozinho.

Mas a leveza que me tomou quando eu acordei e percebi que não havia sido necessário fazer amputação, é simplesmente inexplicável e fez todos os pontos citados acima serem reduzidos a um completo nada. Lágrimas escorriam pelo meu rosto de maneira lenta ao qual eu podia sentir aquecendo cada extensão de pele rolada, juntas de suspiros em alívio por saber que tudo não passou de um pesadelo.

Todavia, embora grato pela oportunidade cedida a mim de manter o meu sonho, havia algo que eu ansiava naquele momento mais do que acordar e sentir minhas pernas, era acordar e encontrar um par de olhos castanhos vividos e brilhantes que seriam todo o meu conforto independente da situação física que eu me encontrasse àquela altura. Tudo o que eu queria e exatamente quem eu precisava, era Loren.

Eu ainda estava sob efeitos da anestesia quando uma enfermeira, diferente das que me visitaram no curto período em que estive no quarto antes, adentrou o pequeno espaço de no máximo 4m² que eu ocupava afim de me auxiliar e verificar.

__ Olha só quem já acordou. Vemos que ser atleta tem lá suas vantagens, não é? __ Brincou simpática num sotaque francês carregado. __ Boa noite, senhor Lucas, eu sou Sophie, sou a enfermeira de plantão no CTI pelas próximas 32h e responsável por você e seus tratamentos dentro deste espaço de tempo. Tudo bem para o senhor? __ Ela era amigável e aparentava ser uma boa pessoa, então sem muita escolha apesar do "diagnóstico " ao qual eu acabara de fazer da mesma, eu assenti em concordância.

__ Correu tudo bem na cirurgia? Nenhuma complicação? __ Questiono minha maior dúvida naquele momento.

__ Bem... Dado ao seu estado atual e aos relatórios que chegaram para mim, não houve nenhuma intercorrencia. Porém os médicos responsáveis pelo seu caso viram na ronda pela manhã para conversar melhor com o senhor. Por agora, saiba que está tudo perfeitamente bem e que o senhor não corre perigo de nada.

__ Por favor, temos quase a mesma idade aparentemente e eu não sou um paciente babaca. Não precisa ser totalmente formal comigo, Sophie. Eu sou tranquilo, não precisa dessa formalidade, mas fico feliz em saber que está tudo bem. __ A mulher sorriu mais tranquila e anotou minhas informações na prancheta que eu acredito ter meus prontuários.

__ Obrigada Lucas.

__ Sophie... Tem alguém aí fora para me ver?. __ Pergunto na expectativa e ela dá um sorriso amarelo.

__ Ainda não chegaram. Mas se fosse pela menina que estava antes, com certeza teria, mas o Dr. Louis praticamente expulsou ela pra que fosse para casa junto com os outros dois homens. Só faltam duas horas para o horário de visitas começar, então fica tranquilo que já já alguém chega. __ Ela me conforta e sai do quarto após um aceno de cabeças.

Fechei os olhos e acho que acabei cochilando de novo, pois só os abri novamente quando as cortinas da minha baia se abriram.

__ Oi, minha vida... __ Ela falou baixinho contendo um sorriso mínimo no canto da boca.

Spaces | Lucas PaquetáOnde histórias criam vida. Descubra agora