XI. Os delírios e alucinações de Branca

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Dias atuais...

  De volta ao Brasil, Gabriel que já andava de muletas, e agora se preparava para usar uma bengala não podia estar mais feliz ao lado de sua amada Perpétua. Ela não podia mais engravidar, e justamente por isso, eles acabaram adotando dois bebês da roda dos enjeitados, há uns cinco anos, antes de viajarem para a Europa na companhia dos pais do rapaz. Eles tinham dois filhos, um menino de nome Miguel Ângelo e uma menina, Maria Gabriela. A menina era uma mestiça de pele morena clara, quase branca, de cabelos cacheados e negros como a noite e olhos verdes amendoados. Ao passo que o menino tinha lisos e longos cabelos loiros, sendo até certo ponto, meio parecido com Perpétua, os olhos do menino eram azuis da cor do céu, mas com alguns detalhes em verde, ele era deficiente visual, por isso os seus pais o abandonaram na roda dos enjeitados. Já a menina era manca de uma de suas perninhas, mas apesar disso, os dois eram muito amados pelos seus pais. Perpétua não se cabia em si de tantas saudades que sentia de suas netas, do seu filho, de sua nora, e de todos que lhe eram muito queridos, e ainda se encontravam em Campos, ou em Águas Lindas. Apesar da diferença de idade entre os dois, e de tudo o mais que quase os separou há um pouco mais de cinco anos, no início de sua relação amorosa, Perpétua e Gabriel continuavam mais apaixonados do que nunca, um pelo outro. Sendo que em cada gesto, ambos diziam que se amavam, mas sem usar palavras, que muitas vezes, na linguagem corporal do amor eram mais do que desnecessárias.

  Os filhos do casal estavam dormindo, a viagem no navio e no vapor de volta havia sido deveras exaustiva, sobretudo para as crianças, que estavam exaustas.

- Tivemos uma temporada agradável na Europa junto dos meus pais, mas sabe, o meu lugar não é lá, mas sim aqui em Campos - Diz Gabriel - Junto com você e os nossos filhos.

- Sinto o mesmo, meu querido - Ela sorri e todo o ambiente se ilumina perante a luminosidade de seu belíssimo sorriso. Ambos estavam tomando um pouco de chá na sala de estar - Mas sabe, meu querido, eu estou morrendo de saudades do meu filho, de minhas netas, da Isaura que é um amor de nora e de todos que deixamos por aqui, quando nos aventuramos na Europa em nossa lua de mel e viagem em família.

- Eu também sinto falta de minha irmã, graças a ela e a sua generosidade infinita temos esta casa, sou muito grato a ela por isso - Ele sorri - Asssim como sei que ela é grata a mim, por tudo que já fiz por ela.

- De fato, a Tomasia é mesmo, uma mulher muito nobre e generosa, Gabriel - Diz ela se lembrando do modo como Tomasia defendeu o seu relacionado com o Gabriel - Ela tem uma nobreza que, em muito falta aos nobres de nossa terra - Ela bebe um gole de seu chá - A nobreza da alma.

- Minha irmã é mesmo uma mulher muito dócil e boa - Ele amava a sua irmã mais velha, a cumplicidade e amizade deles, era ímpar - Sem a ajuda dela, acho que não estaríamos juntos agora, minha linda.

- Eu o amo - Diz Perpétua - O amo desde a primeira vez que o vi. Foi amor a primeira vista.

- Também te amei desde a primeira vez que a vi, e ainda a amo - Junta suas mãos as dela - Vosmecê é a mulher dos meus sonhos e de toda a minha vida. Te amo para sempre e bem depois disso. Perpétua. Minha Perpétua. Minha mulher. O grande amor de minha vida. Meu amor. Minha vida, e luz dos meus olhos. Te amo. Te amo muito.





  Isaura lia animada a carta mandada por sua sogra, na seguinte epístola a mais velha dizia que já estava em Campos e que logo lhe faria uma visita, assim que pudesse. A amizade entre Perpétua e Isaura era lindíssima, e elas mais pareciam mãe e filha do que sogra e nora. Álvaro morria de saudades de sua mãe, de seus irmãos mais novos, e também do Gabriel, o marido de sua mãe. Ele via o quanto Gabriel fazia sua mãe feliz, e isso era mais do que o bastante, para que ele visse com bons olhos o casamento deles, e abençoasse, por fim, a união do sagrado matrimônio deles dois, e sem nenhuma espécie de preconceito envolvida nisso. Perpétua sempre apoiou o seu filho em tudo, quando ele se tornou abolicionista, e até mesmo quando o mesmo se apaixonou por Isaura, decidido a lutar por ela, apesar dela ser uma escrava, e não lhe pertencer. De modo que, era mais do que natural que Álvaro, visionário e devotado a mãe como ele era, aceitasse o romance dela com um homem mais jovem, que por ventura, também a amava. E isso, não era para menos, já que a mãe de Álvaro era uma verdadeira beldade.

Branca Vilella, a verdadeira assassina de Leôncio Onde histórias criam vida. Descubra agora