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- Alice Narrando -

A hora do almoço chega pra todos, menos pra mim.
Já são exatamente 13h32 e eu ainda não parei pra almoçar, nem o chefe, pois não vi nenhuma comida chegar.

Acontece que foram surgindo relatórios e relatórios do inferno pra poder revisar. E não é pra só passar o olho, é pra revisar TRÊS FUCKING VEZES CADA RELATÓRIO!

Sinto uma dor de cabeça vir do nada, meu estômago ronca e como quero mostrar serviço, vou até a sala do chefe.

Bato na porta duas vezes e ouço "Entra".

Entro e vejo ele de óculos, com uma caneta na mão, sem terno, com os três primeiros botões da camisa abertos e falta pouquinho pra eu cair pra trás.

Respiro fundo e me concentro.

- Senhor? Eu posso esquentar minha comida e comer ali na minha mesa? Assim, eu consigo adiantar o serviço que ainda tenho. - Falo.

- Vai, Alice. - Ele diz sem fazer nenhuma questão.

- Com licença. - Falo e saio da sala.

Pego minha bolsinha de marmita e vou pro refeitório.

Por mais que o meu chefe seja o mais cretino de todos, o mais grosseiro, ignorante e idiota que alguém já viu, eu penso que ninguém merece ficar sem comer por tanto tempo.

Volto à minha mesa, pego o cartão corporativo e desço até o hall, vou até a Marina que me olha sem entender.

- O que o Sr Miller come? - Pergunto baixinho para que apenas ela ouça.

- Como assim o que ele come? - Ela diz um pouco alto e as outras olham.

- Fala baixo, mulher! Tô perguntando no almoço. Ele tá até agora sem comer e como eu parei agora, decidi ir comprar alguma coisa pra ele também. Saco vazio não para em pé. - Falo e ela assente.

- Sabe que esse trabalho não é seu, né? Que se ele quiser comer ele que peça, né? - Ela fala e eu assinto. - Ali na esquina tem uma cantina italiana, eu sei que todas as vezes ele vai lá e pede uma massa a carbonara. - Ela diz e eu dou meu melhor sorriso pra ela.

- Obrigada, te amo. - mando um beijinho pra ela e saio em busca da cantina italiana. - Uma massa a carbonara, por favor. - Peço e aguardo.

A mulher olha pra minha bolsinha de marmita e olha o meu pedido.

- Não é pra mim a massa. - Me justifico e ela sorri, e vai fazer o meu pedido.

Demora uns 10 minutos e logo fica pronto. Pago, pego meu pedido e saio em direção a empresa.

Volto para o meu andar e dou duas batidas na porta.

- Entra. - ele diz, eu entro e ele parece reconhecer o cheiro da comida, pois me olha na hora. - O que...? - O interrompo na hora.

- Antes que o senhor me dê um fora ou haja grosseiramente comigo, tomei a liberdade de pedir sua comida e trazer até o senhor, pois saco vazio não para em pé e o senhor não comeu nada até agora e se o senhor não tiver gostado da minha atitude, eu levo a comida e como. - Falo logo tudo de uma vez sem rodeio.

O silêncio se faz presente e a única coisa que consigo ouvir são as batidas do meu coração que parece até que vai sair pela boca.

Ele tira o óculos e põe sobre a mesa. Ele me fita de cima a baixo e respira fundo soltando a caneta na mesa. Lá vem xingo.

- E qual é a minha comida? - ele diz depois de suspirar.

Apenas ando em sua direção e coloco a comida em cima da mesa dele em sua frente.

Mais uma vez o silêncio vem a tona, mas não fica por muito tempo, pois a minha barriga ronca tão alto que até eu me assusto.

- Obrigado. - Ouço sair o primeiro agradecimento do dia da boca do Sr Miller que eu nem acredito.

- Disponha. - falo e me viro pra sair.

- Ah Alice? - Ele me chama e eu o encaro. - Vai comer. Agora! - Ele diz e eu assinto, abrindo a porta e a fechando novamente, logo soltando todo o ar que eu nem sabia que estava prendendo.

- Anthony Narrando -

Fico um tempo analisando a comida que ela trouxe.

Primeiro ela colocou todos os papéis com a minha listagem em ordem alfabética. Uma coisa que nenhuma outra funcionária já fez.

Depois, aquele café dela... Aquele café tava surpreendentemente melhor do que eu já tomo há anos. É uma coisa de louco aquele café.

E agora, como eu estava sem tempo pra nada, ela pediu minha comida e trouxe pra mim.

Respiro fundo sentindo o cheiro da minha carbonara, mas logo meu olfato é invadido por um cheiro que na hora me dá água na boca.

A carbonara perde a graça na hora. Me levanto tentando reconhecer o cheiro e não consigo.

Meu estômago ronca alto, abro a porta e olho pra Alice que acaba de se sentar em sua cadeira e abrir a tampa do pote que está sua comida.

Minha boca saliva, o cheiro disso está divino.

- Senhor? O senhor precisa de algo? - Alice pergunta me tirando da minha inércia.

- Não, não... - Falo ainda olhando o pote dela, mas me dou conta da vergonha que tô passando e abro a porta para voltar a minha sala.

- Senhor? - Ela me chama e eu olho pra trás. - O senhor quer? Eu coloquei comida aqui o suficiente pra três pessoas. O senhor quer? - Ela pergunta e eu nego.

- Pode comer, Alice. A comida é sua. - Respondo, mas meu estômago grita por aquele Strogonoff com batata.

- Mas, tem bastante comida aqui. Pegue a sua comida lá e eu te dou um pouco. - Ela diz e eu penso um milhão de vezes antes de aceitar.

O que é isso Anthony? Você está parecendo um esfomeado!

- Está tudo bem, apenas coma e depois tire o seu tempo de almoço. - Falo e volto pra minha sala fechando a porta em sua cara, sem dar tempo de que ela diga algo.

Pego meu telefone e disco o número de uma das empregadas que tenho na minha casa.

- Oi senhor, o que deseja? - Ouço sua voz ao fundo.

- Quero comer no jantar Strogonoff com batata gratinada. - Falo.

- Ok senhor. - ela diz. - Mais alguma coisa?

- Não.  - Falo e desligo o telefone.

Volto pra minha cadeira e começo a comer a comida que eu antes gostava tanto e que agora já não tem mais graça alguma.

O meu ceo. Onde histórias criam vida. Descubra agora