A entrada de Gavin, Nathan e eu na cozinha chama a atenção de Edgar, cujo o rosto está úmido de suor por conta do calor emanado pelo vapor das panelas sobre as bocas acesas do fogão. Ele usa o tecido do avental amarrado na cintura pra enxugar o excesso. Em seguida, ele fita tanto os dois filhos perto da porta dos fundos quanto eu.
- O que vocês aprontaram na floresta, meninos? - indaga ele à nós, curioso.
- A gente deu uns pegas no Anthony - responde Gavin, surpreendendo-me com um abraço por trás de mim e um beijo estalado na minha bochecha.
- Engraçadinho - considerando a cena uma brincadeirinha do primogênito, Edgar apaga o fogo das bocas do fogão e se vira para Nathan e Gavin. - Ajudem à colocar a mesa. O almoço tá quase pronto. León e Rose ainda estão na sala, mas assim que vocês acabarem eu chamo eles.
A dupla de irmãos se adianta à apanharem os pratos, copos, talheres e guardanapos, levando tudo pra sala de jantar. Estou prestes à segui-los pra auxiliá-los na tarefa - por mais que seja simples - quando sou segurado pelo toque suave da mão do pai deles no meu ombro. Olho para ele, sobre os olhos dele, assombrados por uma nebulosa preocupação.
- Anthony, posso falar um pouquinho com você? - pelo tom, é de suma importância.
- É claro, Edgar.
Ele me conduz até a entrada do corredor. Encosto-me na parede e ele se apoia com o braço na superfície rígida ao meu lado. Ficamos cara-a-cara.
- Escuta - a voz trovejante dele fica baixa. - O que rolou hoje mais cedo me deixou preocupado. Eu sei que León fez aquilo com os corpos pra proteger à nós de um destino cruel. Você não só tava lá pra ajudar ele como também assistir todo o processo, não foi?
- Sim - confirmo, assentindo. - Eu não podia deixa-lo carregar tudo nas costas. Ou seja, eu colaborei com ele.
- As imagens do que você viu dificilmente serão apagadas da sua memória. Então, presumo que isso lhe esteja concebendo sufocantes pesadelos. Estou certo?
- Eu diria que serei atormentado por um bom tempo.
Ele suspira mantendo o olhar penetrante.
- Já pensou em algum jeito de lidar com isso?
- Ainda não. Bom... - fazer conchinha com meu padrasto é o melhor que tenho feito, mas ainda sim acordo soando e arquejando por conta de um sonho conturbado. - Eu não sei se dormir junto com León conte como algo que ajude.
- Mas tem ajudado?
- Um pouco - pelo menos, ele tá lá do meu lado pra me acalmar com a ternura cálida dele.
- Não se preocupe. Você pode ir superando isso aos poucos. Afinal, a vida sempre vai render à nós momentos inimagináveis, seja amáveis ou cruéis.
Olho para Edgar com interesse em saber sobre sua possível experiência com mortes violentas.
- Você já passou por isso? Ou alguma coisa parecida durante a sua carreira como militar? Ouvi dizer que muitos, se não, todos os ex-soldados já mataram alguém.
Ele desvia os olhos para a janela aberta próxima à pia com vista para o campo verde extenso, meditando antes de me fitar novamente e me dizer:
- Eu já matei algumas pessoas, Anthony. Mas bastava um tiro na cabeça ou quebrar o pescoço ou qualquer maneira que fosse rápido e indolor. Nunca gostei de tirar vidas à não ser que meus filhos e eu estejamos em perigo. No começo é mesmo difícil de aceitar que as mãos estão manchadas de sangue.
- Quem diria que apagar um cervo não fosse pesar na minha cabeça como três homens mortos.
Ele ri.
- Nem se compara, meu jovem.
- Tem razão - concordo.
- Falando em cervo, tô planejando uma caçada com os meninos pela floresta no próximo final de semana. Gostaria que León e você também viessem. Será mais ou menos onde vocês foram da última vez.
Todo o clima sombrio instaurado pelo assunto anterior se esvai, dando lugar à uma luzinha de empolgação crescendo dentro de mim.
- Tá convidando a gente pra caçar mais cervos? - pergunto.
- Dessa vez, o alvo é de um nível mais elevado - ele apoia as mãos na cintura. - Uma pelagem mais grossa, 270 quilos, com uma agressividade esmagadora. São bastante comuns na América do Norte.
- Ursos, né?
Ele dá um sorriso maroto e assenti positivamente, desencadeando uma série de palpitadas velozes em meu coração.
Aê! Caralho!
- Porra. Sério? Eu tô dentro.
- Perfeito. Falta ouvir a resposta do seu padrasto, mas já adianto que esse cara não vai querer perder essa. León é um macho predatório.
Que ridículo. Minhas bochechas coraram depois de eu ouvir isso. Valeu, Edgar.
- Sobre isso, não me resta dúvidas - digo bem baixinho.
- O que disse? - ele percebe e fica confuso.
- Nada - disfarço.
Ele volta para a cozinha desfazendo o nó envolvendo os fios do avental e pendura a peça de pano em um ganchinho perto do armário.
- Edgar - chamo ele. - Como se sente agora que Ziff, Greg e Sam não virão mais aqui?
- Tranquilo... Por enquanto.
A resposta dele invoca um mal pressentimento em mim.
- Acha que outros podem vir?
- Não só outros vão vir como também vão suspeitar de que Nathan, Gavin e eu fizemos alguma coisa.
Engulo em seco. Não é o que eu esperava. Isso é muito ruim.
- Caralho.
- Não adianta, Anthony. A Foice pode nunca descobrir o que León e você fizeram. No entanto, minha família e eu não escaparemos da marcação deles - explica ele, um pouco tenso.
- Eu sinto muito. Eu... Não sabia que isso poderia acontecer... Puta que pariu - tento manter a calma mesmo que meu corpo inteiro esteja tremendo.
- Tá tudo bem. O importante é que estamos bem. Errado são esses caras que acham que devemos temer à eles. Mal sabem eles que estão mexendo com as pessoas erradas.
- Isso quer dizer que... - se for o que estou pensando.
- É, garotão. Não vamos baixar a guarda. Aqui é bala por bala - ele me lança uma piscadela e de repente isso me transmite um pouco de confiança.
Tudo bem. Acho que posso me sentir menos amedrontado por poder contar com Edgar. O problema é que eu não sei se isso me encoraja à enfrentar uma facção de criminosos perigosamente armados capazes de saírem marchando de dentro da floresta até invadirem a fazenda de Edgar. Mais homens cairiam, mais sangue escorreria.
- Vamos lá? - ele bate as mãos, sorridente. - Bora botar o rango pra dentro. O cheiro tá no capricho.
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Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay)
RomanceMorando em uma cidadezinha do Colorado, Anthony Wilson é um jovem estudante de 18 anos, rebelde, impulsivo e inexperiente, cujo a vida ainda tem muito à lhe ensinar. Sua mãe, Rose, casou-se recentemente com León Pascal, um ex-militar das forças arma...