- O QUE?!
Ninguém, absolutamente ninguém tem tempo de preparar o psicológico para lidar com o susto proporcionado pela freada brusca que León dá no carro no meio da rua. O veículo atrás solta uma buzinada de reprovação e passa para o lado, cortando a frente e seguindo à diante. No banco de trás, Jeffrey e Quinn suspiram, recompondo-se. Ajeito-me no assento do passageiro, dolorido pelo aperto do cinto de segurança. Olho para o rosto de León e ele encara a pista em choque.
- Ele fez... Isso? - questiona ele, com as mãos esmagando o volante.
- Fez sim. Aquele fodido, e covarde. Mal tínhamos chegado lá na casa e ele já tinha metido o pé. Com medo da gente pegar ele na porrada - responde Quinn, revoltado.
- Eu tirei umas fotos da mamãe depois que fomos pra lá - dito isso, Jeffrey passa o celular para León, que analisa, enojado, as imagens da própria mãe, uma bela senhora de cabelo grisalho arrumado e pele enrugada, coberta de hematomas no rosto e nos braços.
Ele é bem parecido com ela.
- Ele foi longe demais agora - comenta Quinn.
- Eu tenho que falar com mamãe - às pressas, León religa o carro e o encosta próximo à calçada. - Jeffrey, posso usar? - ele balança o aparelho olhando para o irmão.
- Vai em frente, mano.
Assim que León digita o número na tela e sai para o lado de fora, indo até de baixo de uma árvore do outro lado da pista, viro-me para Jeffrey e Quinn, revelando meu estado de preocupação na voz.
- Vocês dois conhecem ele melhor do que eu. O que acham que ele vai fazer com o pai de vocês?
- Na real, Anthony, a gente tem que dar uma lição naquele velho - responde Jeffrey. - León vai ser o primeiro à dar ideia. E nós, meu caro, seguimos as ordens.
- Vocês vão mata-lo?
- Talvez - diz Quinn, pensativo.
- O pai de vocês costumava bater antes na mãe de vocês?
- Tudo tem uma intensificação - conta Quinn, catando um cigarro da carteira e acendendo com o isqueiro que tira do bolso interno da jaqueta de couro. - Morávamos todos juntos. Os cinco. Foi só León ser admitido no exército na época que nosso pai começou a mudar de personalidade. Ele botava pressão pro Jeffrey e eu casarmos com uma mulher, pra sairmos de casa, pra arranjarmos um emprego. Era óbvio. Ele não aguentava mais a gente, mas a mamãe... Ela nos queria por perto até a morte.
Ele dá uma tragada e passa o cigarro para o irmão consumir um pouco de nicotina.
- O que acontece, Anthony, é que aquele velho nunca prestou - continua Jeffrey. - Ele só casou com a mamãe porque ela tinha ficado grávida. O primeiro filho, foi León. Não tava nos planos dele ter uma família tão cedo. Ele abriu mão de muita coisa, incluindo a curtição. Tudo o que ele fez foi descontar na gente. E pegou mau, muito mau.
"Ele começou à gritar, quebrar as coisas, ameaçar bater na mamãe".
- Ele só não tinha feito antes pelo fato de nós dois estarmos lá ainda pra impedir - acrescenta Quinn. - Mas agora a criatura saiu da jaula perdendo o juízo, pedindo uma cova pra ser cavada e ser enterrada.
- Eu sinto muito por vocês - confesso, sentindo-me ruim por ouvir aquele relato turbulento da vida de León através dos irmãos dele.
- Tinha que ver a mamãe assustada e machucada quando Quinn e eu chegamos lá ontem pela tarde. Toda indefesa, magoada. Juro que eu mataria aquele cara ali mesmo. Juro - desabafa Jeffrey.
- Por isso viemos pro Colorado. León tinha que ficar sabendo. É a nossa mãe. Seja o que tiver de ser, nós temos que resolver isso - diz Quinn.
- Eu posso ir junto? - pergunto.
- É claro. Seria bom. Você é da família agora.
No exato segundo, a porta do banco do motorista é aberta e León se reuni com a gente outra vez.
- Falou com ela? - indaga Jeffrey, pegando o celular de volta.
- Sim. Ela tá bem, segundo o que ela me disse. Mas eu não acreditei. Ela tá quebrada por dentro - responde meu padrasto, inconformado. - Ela sabe que vocês dois vieram pro Colorado?
- Ela nem pode sonhar que estamos aqui. Caso ela descubra, o plano evapora. Você não citou, certo? - Quinn espera pela resposta do mais velho, apreensivo.
- Presumi que ela não soubesse. Então, não.
Aliviado, Quinn afunda no banco de olhos fechados e penteia com as mãos as mechas curtas cor de milho.
- León - ele me olha quando o chamo. - Ainda está afim de ir para a boate? Se quiser, a gente volta para a cabana.
- Não, não. Eu planejei essa noite. Nós vamos sim. Nem sempre a vida tem que ser uma merda. Lembre-se de viver os bons momentos - ele toca a minha nuca e desliza o polegar pela minha bochecha, desencadeando aquela sensação cálida entre nós.
- É isso aí, mestre - anima-se Jeffrey. - Vamos aproveitar essa noite e deixar o problema pra depois. Ou não vamos saber o que é a vida de fato.
- Antes de mais nada, o que vão fazer com o pai de vocês? - pergunto.
- Vamos ensinar à aquele velho que a nossa mãe não é saco de pancada de nenhum merda escroto - declara León, pisando o pé na marcha e girando a chave, revivendo o motor.
Cruzando com a avenida infestada de faróis, seguimos o fluxo do tráfego até que León estaciona o carro de Quinn em uma vaga do lado oposto ao da boate, cujo o letreiro Heliogábalo está com a luz neon rosa elétrico acesa. Saímos todos os quatro, atravessando a pista e se juntando aos outros caras prestes à entrarem na casa noturna.
O segurança moreno bombadão nos cumprimenta com um "boa noite, delícias". Quinn, que não perde uma, devolve com um "só vai saber se experimentar". Nós rimos e o segurança parece ter gostado também. Por fim, caminhamos para dentro, percorrendo um corredor iluminado por lâmpadas azuis até vararmos num grande salão com música agitada, um show de luzes coloridas e um mar de homens bonitos.
- Eu adoro essa música - diz Quinn, dançando ao ritmo de The Rush de Bob Moses.
É impossível não ser notado assim que passo com meus acompanhantes no meio dos outros. Recebo olhares discretamente interessados. A maioria daquele público é composta por caras mais velhos. Há poucos rapazes da minha idade por ali, e se são vistos, estão cercados por três ou quatro homens disputando. E de repente, dentre eles...
- Perdeu alguma coisa, ninfeto? - a voz rouca dele, invocada junto com o sopro da fumaça de cigarro eletrônico, faz eu paralisar.
Os traços marcantes que vou reconhecendo como o cabelo cor de mel em corte crew e a agressividade no olhar são de Rick Mason, aquele valentão filho da puta que escreveu PUTINHO DO PADRASTO no meu armário da escola e me fez quebrar o nariz dele.
Ao que tudo indica, ele está à alguns metros distante de mim, interagindo com um cara, empolgado e prestes à beija-lo.
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Meu Padrasto Irresistível (Romance Gay)
RomanceMorando em uma cidadezinha do Colorado, Anthony Wilson é um jovem estudante de 18 anos, rebelde, impulsivo e inexperiente, cujo a vida ainda tem muito à lhe ensinar. Sua mãe, Rose, casou-se recentemente com León Pascal, um ex-militar das forças arma...