2. Se acostume.

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Segunda-feira 07/01/2016

O final do ano foi muito interessante, foi legal, somente eu e minha mãe, e foi legal eu estava bem melhor já, mas sabe aquela cena de Harry Potter onde milhares de cartas voam para dentro da casa de seus tios? Estava acontecendo conosco, a diferença é que eram contas, iríamos ser despejadas em breve e eu com 10 anos, não deveria estar me preocupando com contas. Minha mãe procurou trabalho em tudo quanto é lugar, mas nada acontecia, eu ia pra escola e voltava, era tudo um inferno, eu odeio a Megan, ela é uma menina do meu colégio que diz que eu sou tão feia quanto um rato do bairro sujo aonde eu moro, eu tento não ligar para oque dizem de mim, mas as vezes não dá.

- Mia venha aqui agora!
Minha mae grita da cozinha e eu saio correndo

- seja lá oque for, não fui eu!
Digo ja me protegendo vendo minha mãe de óculos é super concentrada em papéis

- eu consegui querida! Um emprego, mas... eu não posso aceitar
Ela diz agora lendo a folha direito

- porque não mamãe?
Digo puxando uma cadeira e sentando ao seu lado

- é o dia inteiro, você só tem 10 anos não posso te deixar sozinha mia piccolina.
Ela diz e sorri, mas dava para ver tristeza em seus olhos

- você vai aceitar sim, nós vamos achar um lugar para eu ficar, eu sei que não temos amigos nem parentes aqui mas vamos achar, eu prometo mamãe aceite

- não, eu não posso, não vamos achar, eu tenho ate depois de amanhã para responder a isso
Ela diz e bufa soltando a papelada, a encaro com um olhar de pena, eu não queria que as coisas fossem assim...

(...)

Eu estava em meu quarto lendo Harry Potter, porque em uma casa sem energia e apenas uma vela é difícil fazer alguma outra coisa, por mais que eu ame pintar, nunca consegui, não posso dar o luxo de ter tintas e pincéis. No quarto ao lado ouço minha mãe roncar ridiculamente alto, rio do trator que eu chamo de mãe e me levanto indo até o seu quarto abro a porta que chia mas minha mãe nem se desdém para acordar, vejo o celular de minha mãe na cabeceira de sua cama e tenho uma ideia não tão genial, pego seu celular e saio do quarto me sentando no corredor, desbloqueio, sua senha era meu aniversário, é tao óbvia. Vou no WhatsApp dela e procuro o nome " Cora hospital " e então acho, algumas conversas, online a 23 minutos, fico receosa por um tempo mas crio coragem e clico no botão "ligar" saindo de perto do quarto da minha mãe. O celular chama, uma, duas, e na terceira é atendido.

- Marielle querida, algum problema?

- oi Cora tudo bem? Desculpa encomodar essas horas, é a Mia
Digo com vergonha doque eu mesma estou a fazer

- Oi querida, estou bem, algum problema?
Ela pergunta sua voz levemente preocupada

- na verdade sim... Minha mãe conseguiu um emprego mas não quer aceitar porque ninguém pode ficar comigo, você acha que... você poderia ajudar, com uma babá ou não sei?
Digo e a ligação fica um completo silêncio, eu sou uma estupida mesmo, ou desesperada.

- ah querida, eu não posso te ajudar com uma babá, porque você vai ficar aqui em casa comigo. Combinadas?
Ela diz e meu sorriso se abre, com empolgação respondo

- Sim! Claro, muito obrigada Cora, muito obrigada!

- não tem que me agradecer querida, boa noite, até depois
Ela diz e eu retribuo sua despedida desligando em seguida, entro nos e-mails de minha mãe e respondo com seus dados e em seguida concordando que vou começar a trabalhar, sorrio e deixo o celular na cabeceira da cama novamente, saio e vou me deitar, eu dormi feliz naquela noite.

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