Olá! Bora de mais um capítulo e de mais drama porque a gente está aqui pra sofrer por essas duas. Boa leitura!
- Lin? – Bill chamou-a pela segunda vez percebendo que ela estava alheia demais à conversa que tinham. Resolviam burocracia. No fim das contas, a Agência Espacial Norte-Americana aceitara sua solicitação de se transferir para a Tailândia e atuar junto às pesquisas em Terra. Ao menos em um primeiro momento. Bill deixara claro que um talento como o dela não podia ser desperdiçado de maneira nenhuma.
- Desculpa, eu... – ela encarou o vazio – Me desculpa. O que você disse?
- Falei que a nosso porta-voz quer conversar com você. Tem uma equipe de TV querendo uma entrevista. Estamos intermediando.
- Outra? – ela estava exausta daquilo. Já tinha perdido as contas de quantas entrevistas concedera só na última semana falando sobre exatamente a mesma coisa: como foi sobreviver ao espaço. Sendo sincera, Lin se sentia como um animal exótico exposto no zoológico.
- BBC. Essa é grande.
Com um suspiro desalentado, ela se limitou a assentir e a pedir que negassem novos pedidos de entrevista pelo menos por um tempo. Agora que recebera autorização para ir embora, não queria e nem iria prolongar sua estadia ali. Tudo que ela mais desejava era poder retornar para casa, gozar de um merecido descanso e retomar sua rotina.
Despediu-se de Bill para ir tratar com a assessoria da NASA sobre os encaminhamentos da tal entrevista. Saiu da agência com hora e local marcado para se encontrar com a equipe da TV. No caminho para o apartamento, ela tomou a liberdade de entrar em uma confeitaria atrás de algo que pudesse, sei lá, adoçar seu paladar já que sua vida parecia amarga demais para ser degustada como se devia. Parou diante do balcão escolhendo qual daqueles donuts enormes levaria para casa. E enquanto seus olhos percorriam a vitrine, ela sentiu olhares sobre si. Claro que sua história ganhara o mundo. Claro que alguém a reconheceria. O que ela não gostava era dessa atenção toda.
Uma ironia, porque quando mais nova, Linlada Sasinpimon amava ser vista e sempre dava um jeito de nunca passar despercebida. Em geral, dava um show de carisma. Mas anos e anos vivendo sozinha em uma escuridão infinita parece que haviam lhe tomado aquele traquejo social. Hoje, tudo que ela mais queria era passar despercebida.
Mas o problema era os outros.
- Oi – uma mulher de cabelos pretos parecendo tímida se aproximou com o celular nas mãos – Você é a astronauta que ficou presa no espaço, não é?
Entediada, mas esboçando um sorriso amarelo, Lin assentiu. Foi a deixa para a moça pedir uma foto. Estava aí uma coisa que ela não entendia: qual a necessidade que as pessoas tinham de viverem eternamente postando as próprias caras em todo canto. Que diferença na vida de alguém faria uma imagem com ela? Mas Lin não prolongou o momento. Assentiu, deixou a moça se aproximar, abriu um sorriso meio sem vida e ouviu o clique da câmera do celular. Ela agradeceu e retornou saltitante para a mesa que compartilhava com um grupo.
- Qual o seu arroba? – a mulher perguntou antes de se sentar.
- Desculpa... – arroba? Lin não entendeu. Franziu o cenho e deixou claro que estava total por fora do que quer que fosse aquilo.
- Deixa ela, a coitada passou dez anos em outro planeta – ouviu um rapaz sussurrar. Lin mudou o peso de perna se sentindo incomodada pelo comentário. Poxa, ela podia ter passado anos fora de órbita, mas não era uma completa idiota, muito embora estivesse parecendo uma naquele momento.
- Você tem Instagram? – a moça perguntou. Lin assentiu e abriu o celular mostrando para ela sua página que Taeng havia atualizado outro dia. Ela foi obrigada a trancar o perfil pelo tanto de gente aleatória lhe seguindo do nada. A foto de perfil era ela de traje e capacete espacial. Na descrição, uma única frase: "Olhem para as estrelas e aprendam com elas". A moça agradeceu e retornou para a mesa.
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Black Hole (Uranus2324)
أدب الهواةO quão misterioso pode ser o tempo? Talvez fosse ele a força mais implacável existente. Poderoso e, ao mesmo tempo, perigoso. Cruel. Apaziguador. Capaz de curar, mas também de abrir ainda mais feridas nunca verdadeiramente tratadas. Medir forças com...