Chromos - Ascensão dos Moráfeis

22. Consternação

Após ouvirem as terríveis revelações feitas por Leroy na gravação, um silêncio pesado pairou sobre a sala. O choque das atrocidades ditas a sangue-frio deixaram todos sem palavras, com um sentimento avassalador de medo e horror. O ambiente ao redor refletia a tensão no ar. Cada móvel parecia testemunha muda de um segredo macabro, congelado no tempo.

Gael, em um estado de profunda consternação e desespero, mal conseguiu conter suas lágrimas. Ele se levantou da cadeira e saiu correndo em direção ao seu quarto, seu refúgio, onde poderia tentar processar aquela cruel realidade. O corredor parecia longo e estreito, como se estivesse encurtando para abraçar o desespero que o consumia. As paredes pareciam sussurrar palavras de conforto, mas o grito do coração de Gael era ensurdecedor.

Yves, seu amigo de longa data, sentiu uma urgência de seguir Gael, mas Maya o deteve com uma mão firme no ombro. Ela acreditava que, naquele momento, Gael precisava de espaço para lidar com a dor que o consumia. O ambiente ao redor parecia conspirar para criar uma atmosfera opressiva, como se estivessem aprisionados em um pesadelo do qual não podiam acordar. Gael, buscava o isolamento para confrontar seus próprios tormentos.

— Lembro-me daquele dia como se fosse ontem... - disse Yves, com a voz embargada pela dor. - Aquelas palavras, aquele ódio... eu não sabia o que fazer, só sentia meu coração apertando cada vez mais.

Yves, desolado e com lágrimas escorrendo pelo rosto, começou a compartilhar uma história extremamente pessoal e angustiante com seus amigos Theo, Alicia, Maya e Gael, que ouvia da sua cama, envolto em uma tristeza avassaladora.

Enquanto Yves se abria, ele revivia uma memória dilacerante de sua infância durante um culto religioso. Ele explicou que, desde criança, sabia que era atraído por pessoas do mesmo gênero. Ele contava com o total apoio e compreensão de seus pais amorosos, que haviam presenteado-o com um amuleto de anjo quando ele veio ao mundo.

No entanto, durante uma cerimônia religiosa específica, outra criança presente não parava de zombar de Yves por suas maneiras e orientação sexual, provocando-o e fazendo gestos extremamente ofensivos. Esse tormento persistiu por muito tempo até que Yves não pôde mais conter sua raiva, que havia crescido como um vulcão de desespero.

Em um momento de fúria avassaladoramente incontrolável, as emoções de Yves desencadearam uma manifestação abrupta de asas angelicais gigantescas em suas costas. Essas asas liberaram lanças afiadas que, sem querer, perfuraram e destruíram as colunas do templo, fazendo o teto ruir e, de maneira trágica e devastadora, ceifando a vida de várias pessoas inocentes, incluindo os pais de Yves.

O cenário do templo, agora transformado em escombros, ecoava como um palco macabro de uma tragédia que Yves nunca poderia esquecer.

De forma avassaladora e trágica, uma das lanças atingiu em cheio o garoto que o atormentava, levando sua vida de forma abrupta e não intencional. Yves enfatizou que todo o incidente foi um terrível acidente, que ele era apenas uma criança inocente dominada por uma onda avassaladora de emoções.

A atmosfera na sala tornou-se ainda mais carregada com as emoções reveladas. As paredes pareciam ondular, como se absorvessem a angústia e o remorso que pairavam no ar. A verdade sobre o poder de Yves era tão complexa quanto o próprio garoto, uma dádiva amaldiçoada que o atormentava até hoje.

O fardo de ser visto como o "anjo gay", mesmo sem ter tido qualquer relacionamento amoroso, era esmagador para Yves. O peso emocional do evento trágico e o rótulo social que o seguiram deixaram Yves em um estado de angústia insuportável, lutando para lidar com a carga imensa de culpa que o esmagava, um fardo que o corroía a cada dia.

Enquanto Yves compartilhava essa história que dilacerava a alma, Gael, ouvindo da sua cama, não pôde conter as lágrimas por seu amigo e pela imensidão da dor que ele havia enfrentado e ainda carregava consigo.