23. Tempestade interna

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O inverno havia chegado à ilha, e a mansão agora estava coberta por um manto branco de neve, uma paisagem que refletia a frieza que tomava conta dos corações de todos. Gael passava seus dias e noites solitários olhando para as janelas de seu quarto, perdido em seus pensamentos, revivendo os eventos recentes.

Alicia, sempre presente, ficava ao lado de Gael, tentando animá-lo e apoiá-lo nos momentos difíceis. Às vezes, as palavras não eram necessárias, e o silêncio entre eles se tornava uma conexão mais profunda do que muitas conversas.

Theo, incansável em sua busca por respostas, permanecia na mansão, trabalhando arduamente ao lado de Maya para juntar as peças da história de Leroy e desvendar os mistérios ocultos.

Yves, compreendendo a dor que Gael estava enfrentando, abraçava-o várias vezes ao longo do dia, tentando oferecer conforto e apoio dentro do possível.

Mas Gael, exausto e cansado da escuridão que o envolvia, finalmente decidiu que era o momento de enfrentar seus medos e demônios interiores. Vestindo-se com poucas roupas, ele saiu de seu quarto e da mansão, correndo em direção à tempestade de neve que assolava a ilha.

Todos observaram a cena com compaixão, percebendo que Gael estava lutando para lidar com toda aquela situação. Alicia tentou correr atrás dele, mas Gael era mais rápido e logo desapareceu em meio à tempestade de neve, deixando para trás um rastro de incerteza e preocupação.

Yves, profundamente incomodado com a situação e determinado a ajudar seu amigo, não conseguiu ignorar seu coração. Ele se encheu de determinação e decidiu ir à procura de Gael, mesmo que isso significasse enfrentar os perigos da tempestade. A amizade verdadeira e a necessidade de apoio mútuo os guiavam, dando-lhes a força para enfrentar o desconhecido, dentro e fora de si mesmos.

Sob a fúria da tempestade de neve, Yves lutava para avançar e voar. Com um esforço hercúleo, ele finalmente conseguiu elevar-se acima da tormenta, graças às suas asas poderosas. Utilizando sua Visão Panorâmica, ele avistou Gael rendido à fúria do inverno, perdido em meio à tempestade.

— Gael, segure-se! Vou protegê-lo! - Yves gritou acima do vento cortante.

Gael, quase desistindo de sua própria existência, olhou para Yves com olhos encharcados de dor e desespero. Ele expressou que a dor era insuportável, e que a qualquer momento seus poderes descontrolados poderiam machucar alguém que ele amava profundamente.

— Não aguento mais... e tenho medo de machucar alguém... - Gael confessou, sua voz sufocada pelo desespero.

Yves, determinado e com convicção, pediu a Gael que liberasse seus poderes, deixando de lado tudo que o afligia.

— Se não podes desistir, então seja mais forte. Liberte seus poderes, mas a domine! - Yves encorajou, firme em suas palavras.

Gael, hesitante, argumentou que não conseguia fazer isso.

— Eu... eu não consigo controlar... - Gael murmurou, sua voz fraca.

— Seja mais forte! - Yves insistiu, sentindo a urgência do momento. - Domine seu demônio interno.

Gael começou a sentir um formigamento em seu corpo, seus sentidos se aguçando, seus olhos se tornando completamente brancos. A luta interior era uma batalha de titãs.

— Yves, está fora do meu controle! - Gael exclamou, desesperado.

— Controle isso, Gael! Você pode! - Yves abraçou Gael com mais força, transmitindo determinação.

A sensação de seus poderes o dominando era avassaladora. Gael estava à beira do abismo.

— Seja mais forte. Domestique o lobo dentro de você. Seus poderes vieram para ajudar, para ajudar seu pai, José. Você não pode se dar por vencido! - Yves falou com sua voz cheia de empatia e convicção.

Ao mencionar o nome de José, o pai de Gael, as emoções tomaram conta de ambos. Gael soluçou, uma mistura de tristeza e gratidão inundando seu coração.

— Meu pai... José... - Gael balbuciou, as lágrimas mesclando-se com a neve em seu rosto. O nome de seu pai era um lembrete poderoso de sua missão e do amor que ele tinha perdido.

Yves apertou o abraço, transmitindo força e compaixão, sabendo que aquele era um momento crucial para Gael.

— Faça isso por José, Gael. Ele está em algum lugar, esperando o retorno do filho valente que ele ama. - Yves sussurrou, as palavras carregadas de encorajamento e compreensão.

Gael, tomado pela carga emocional do momento, respirou fundo. Ele sentia o fogo de determinação se reacendendo dentro de si, um lembrete do propósito de sua jornada. Com um último suspiro de dor, ele começou a reunir a força para controlar seus poderes, aceitando o desafio que estava diante dele. E, apoiado pela amizade e pelo amor, ele sabia que poderia enfrentar qualquer tempestade, dentro e fora de si mesmo.

Gael desabou em lágrimas, um último desabafo de toda a dor e frustração. Ele respirou fundo, sentindo um turbilhão de emoções, e então desabou em gemidos de angústia e enfraqueceu-se.

Yves, não perdendo a determinação, carregou Gael nos braços, voltando para a mansão. O caminho de volta era uma jornada difícil, mas eles enfrentaram juntos. E, mesmo que o inverno continuasse a rugir, a chama da esperança se reacendeu dentro de Gael, iluminando o caminho obscuro que se estendia diante deles.

Chromos - Ascensão dos MoráfeisOnde histórias criam vida. Descubra agora