CAP. 1

536 26 2
                                    

Madden
Dias atuais..

O chiar da chaleira impregnava meus ouvidos, enquanto tentava me concentrar nas torradas a minha frente. Haviam passado do ponto, tostadas demais nas pontas.
Acalmei minha respiração, partindo para a xícara de café preto a minha esquerda, ignorando a falha em meu prato.

Já minha irmã, Jeet, ao meu lado, devorava um prato cheio de ovos e bacon como se estivesse faminta a meses.

-Vai se engasgar se continuar a comer como um porco desse jeito.- Comentei, sentindo o amargo do café descer pela minha garganta.

-Ah vá se ferrar!- Jeet revirou os olhos, carrancuda.

-Jeet.- Nosso pai repreendeu, enquanto abaixava os olhos checando seu relógio.

Minha mãe, ao meu lado direito, comia suas panquecas tranquilamente, mas me agitei quando sua faca arranhou o prato fazendo um barulho agudo e persistente, que ficou martelando em minha cabeça.

Tínhamos essa regra de fazermos uma refeição no dia, sendo obrigatório a presença de todos os membros de nossa pequena família. Geralmente era o café da manhã já que, papai sempre voltava tarde e mamãe não estava livre nos almoços. Então acordávamos uma hora mais cedo que o aconselhável, para podermos ter uma refeição tranquila em família antes da escola. O que Jeet, não aceitava muito bem, já que sempre enrolava para acordar mais tarde, tendo que correr para ter tempo de comer.

Jeet era dois anos mais nova que eu, era caloura no ensino médio, enquanto eu, já estava no último ano. Na parte física ela havia puxado os traços japoneses do nosso pai, o cabelo preto liso e os olhos pretos puxados. Já sua personalidade teimosa e mandona foram tirados da minha mãe.

Já eu.. eu era diferente.
Também tinha os cabelos e olhos pretos, mas não muito puxados. O olhar afiado da minha mãe e as sobrancelhas grossas do meu pai.
Mas por dentro, eu era..
bufava um riso toda vez que chegava a conclusão que a melhor forma de me descrever seria como, Tio Damon.
Damon Torrance, irmão da minha mãe e um dos melhores amigos do meu pai.
Gostava dele, ele não me fazia perguntas intrusivas como os outros e nem se esforçava para tentar me manter confortável.

Já tinha ouvido alguma de suas histórias, coisas que ele já havia feito, até com seus próprios amigos. Fingi estar dormindo para poder prestar atenção nas conversas dos adultos, várias vezes.

-Vamos.- Gesticulei para Jeet me acompanhar até o carro para irmos a escola.

-Pode ir indo na frente, vou com os Grayson hoje.- Ela disse ao meio das garfadas desesperadas para acabar seu café da manhã.

Will Grayson também era um dos amigos do meu pai. Tendo duas filhas com idade bem próxima de Jeet e um filho mais novo. Indie, Finn e Will quarto.

Balancei minha cabeça quando comecei a pensar demais nessa informação, me lembrando do cheiro dela.

Parti em direção ao carro, parando para dar um beijo na bochecha da minha mãe, que sorriu e me desejou um bom dia e um comprimento de cabeça para meu pai.

Era uma BMW série 3 com um preto fosco e janelas escuras, não permitindo visão para as pessoas de fora.
Dirigir, talvez fosse uma das poucas coisas que realmente gostasse. Ali, eu estava no controle, tudo podendo ir por água a baixo por apenas um deslize.
Aspirei com força o cheiro do carro e apertei minhas mãos no volante, sentindo o couro macio do banco.
Meu pai havia me dado esse carro alguns meses antes de fazer 16 anos, porque acabei descobrindo a surpresa antes do esperado. Talvez fosse o meu item mais precioso, a sensação de quando o dirigia era indiscritível, principalmente quando corria. Começou com noites em que eu acelerava mais que o permitido enquanto música estourava em meus ouvidos e a adrenalina era carregada em meu ser. Depois comecei a saber das famosas corridas clandestinas e aquilo me fez me sentir vivo. Não tinha vozes, não tinha arrepios e meu corpo não ficava desconfortável. Só havia a adrenalina de dar mais uma volta em alta velocidade.
Aquilo não era por dinheiro, era pela necessidade de viver e não sobreviver.

Engatei a marcha e dirigi para fora. Enquanto virava a esquina pude ver o jipe cinza de Tia Emory ir em direção a minha casa. Mas meus olhos pararam na garota que se esgueirava no banco do passageiro. Indie, seus cabelos voavam para fora -estavam maiores desde a última vez que vi- e ela parecia contestar algo que sua mãe dizia.

Respirei fundo novamente não me permitindo mergulhar em nenhuma memória ou pensamento indesejado.

Eu não me importava com Indie Grayson.
E ponto final.

ARMOROnde histórias criam vida. Descubra agora