CAP. 5

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Madden
7 anos atrás..

Os flocos de neve caiam com delicadeza, as janelas estavam fechadas mas os arrepios de frios me assolavam. Octávia estava deitada ao meu lado, com olhos fechados e respiração calma. Seus cabelos jogados pelo colchão ocupando mais da metade da cama. Queria poder dormir assim.

Era por volta de duas da manhã, na véspera de natal. Toda a família e amigos do meu pai se reuniam para a ceia na casa de Tio Michael. As decorações contornavam a casa inteira, do teto as paredes. Com papais noeis, trenós e bengalas por todas as partes. Além dos brilhos por toda a fachada da casa. E é claro, a grande árvore da sala. Não sabia quantos metros ela tinha, mas quase beirava o teto. Com estrelas e bolas coloridas, e um verde tão vivo do pinheiro, que nossos pais haviam pegado mais cedo.

Depois do jantar, todas as crianças caíram no sono, incluindo minha prima Tavi. Todas menos, eu. E os adultos, bom não queria nem imaginar o que estariam fazendo agora.

Mais um arrepio cruzou a minha espinha, estava estranhamente suando frio. Minhas mãos formigavam um pouco, e o terno tão amado parecia me sufocar agora. Afrouxei o nó da gravata mas aquilo não pareceu melhorar muito.

Levantei da cama com cuidado para não atrapalhar os sonhos de Octavia e sai do quarto procurando não bater à porta.

Meus passos estavam leves e apressados e não fazia muita ideia de onde estava indo. O corredor estava meio iluminado com algumas luzes amarelas espalhadas. Parei perto da varanda, não a abrindo é claro já que lá fora estava congelando. Tentei focar nos flocos de neve novamente, mas minha mente parecia tomar outro rumo. Não havia barulho, mas mesmo assim algo apertava meu peito. Sentia como se algo ruim estivesse tomando conta de mim.

E de repente a Noite da fogueira voltou a minha mente. Na verdade o que aconteceu ao final dela. Não sentia culpa por nada do que fiz. Só sentia algo dentro de mim a espreita, me sentia um monstro por não ter culpa. Nunca contém a ninguém o que aconteceu. Octávia foi a única que viu e ouviu tudo. Aquilo me causava ânsia, algo no meu peito parava de funcionar quando isso vinha a minha mente.
Principalmente quando lembrava da expressão do meu pai. Ele sim, me achava um monstro, ele sabia o que fiz e se envergonhava de eu ser seu filho.

Meus punhos de fecharam e senti minhas unhas penetrarem a minha carne. Meu fôlego ficou pesado, e cada respiração era mais difícil que a outra, como se o ar estivesse acabando. Fechei os olhos com força só querendo que isso acabasse, mas talvez eu merecesse. Merecesse um punição, eu era um monstro afinal. Não sentia culpa, por isso os outros me julgariam. Era essa a justiça não é?

Arfei em busca de ar e senti minhas mãos tremerem novamente, agora sem parar. Só queria desaparecer, desaparecer completamente. Sem ninguém em meu encalço e sumir completamente, seria melhor para todos dessa forma.

-Madden?- Ouvi alguém chamar ou talvez fossem só as vozes da minha cabeça. Não consegui, distinguir de qualquer forma.

Foi rápido. Vi apenas sapatilhas brancas aos meus pés, um peso nos meus ombros e quando suspendi minha cabeça, uma boca encontrou a minha.

Arregalei meus olhos, sentindo os lábios macios contra os meus, mas não tive forças para empurra-lá. Não sei nem se queria ao certo, minha cabeça está a milhão.

Não durou muito, cerca de segundos depois a pessoa se distanciou.

Indie.

Respirei fundo, com os olhos vidrados nela.
Mas o que?

Ela estava com um vestido branco com alguns babados, um presilha dourada prendia uma mecha de seu cabelo e suas bochechas estavam rosadas. Seus olhos verdes estavam em mim, um pouco envergonhados, como se estivesse sem jeito.

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