Madden
7 anos atrás..Passei a mão por minha testa, deixando as gotas de suor longe dos meus olhos. Havia ficado a manhã toda no dojo junto com meu pai e meu avô. Eles tinham uma tradição de todo domingo soltar as energias em meios a socos ou como eles falam "defesa pessoal".
Comecei a fazer parte com 7 anos, apenas observando seus movimentos. A forma como os dois tinham jeitos muito parecidos de se comportar, o olhar sempre afiado e atento a cada músculo retorcendo. Era uma sequência rápida de passos, quase que como uma dança. O suor escorria de suas faces, e o olhar focado e atento só escondia uma satisfação imensa por estar ali.
Sabia que meu pai se segurava, afinal vovô já estava começando a sentir a idade, por mais que se negasse a isso. Ainda em forma e cada vez mais grisalho. Papai tinha medo de ele se sobrecarregar, mas ao mesmo tempo sabia que ele amava fazer isso.Depois de aprender o básico comecei a fazer parte de algumas lições. E peguei muito rápido a maioria dos movimentos. Já que era bom em tudo aquilo que me interessava. E por mais que no começo fosse uma forma de tentar agradar papai e consequentemente vovô. Comecei a gostar disso.
Ali, eu não pensava em nada a fora. Só no próximo movimento do meu oponente. Focava a minha mente em algo que por mais que eu não pudesse controlar, eu podia prever. E a sensação de poder saber o que ele iria fazer antes mesmo dele fazer era indescritível. Isso junto a adrenalina que a capacidade do perigo me causava. Ali nada importava, não sentia nem mesmo meus ossos gemendo de dor e cansado. Só o que importava era a luta, só o que importava era o meu oponente.
O que no final me trazia paz. A verdadeira paz que você espera ter depois de vários pensamentos de merda. E aquilo pra mim era muito valioso.
Contava nos dedos as coisas que conseguiam me fazer sentir assim.-Se despeça de seu avô e vamos pra casa.- Papai disse me mando tapinha nas costas de satisfação, saindo pelo corredor.
Encarei vovô do outro lado da sala dando alguns passos em sua direção. Por mais que estivesse cansado sua expressão nunca evidenciava isso. Com seus olhos pretos sempre serenos.
Gostava dele, não trocávamos mais palavras do que socos. Talvez fosse por isso que gostasse dele. Ele só acenava a cabeça esperando que eu fosse o melhor de mim. E eu não era, e ele sabia disso. Mas a decepção não me acarretava como a maioria. Apenas ficava como um lembrete em meu cérebro. Para meu avô não era questão de o dar orgulho, mas de manter a honra.A poucos passos de mim eu e vovô nos saudamos. Com os pés retos e alinhados, esticando a coluna para frente, como a tradição japonesa diz. Mas o principal, com os olhos a todo momento no oponente. Ele havia me ensinado isso apenas uma vez. Mas finquei em meu cérebro como uma regra. Nunca tire os olhos do inimigo, nem em um momento de respeito mútuo. A hora mais suscetível a um ataque é quando relaxa o suficiente por se sentir seguro. Ficando desarmado.
E sendo penetrado.E sem trocar nenhuma palavra olhei por cima do ombro para meu avô, imaginando quantos mais domingos teríamos. E cruzei a porta o deixando.
Papai nos levou para casa com um sorriso sereno no rosto. Dias tranquilos com sua família o deixavam feliz.
-Chegamos!- Ele anunciou ao abrir a porta.
Mamãe estava na cozinha provavelmente preparando o almoço, e quando nos viu abriu um sorriso. Cintilando seus olhos verdes. Papai foi em direção a ela a dando um beijo apaixonado e feliz. Ela riu e deu tapinhas nos seus ombros o mandando a soltar, enquanto ele dava beijinhos em seu pescoço.
Ela saiu de seu agarre e parou a minha frente, esperando que a abraçasse também. O suor estava por toda a minha pele, me deixando grudento. Só queria subir e tomar um banho, isso estava me deixando agoniado. Mas mesmo assim sorri, e a abracei dando tapinhas em sua costas.
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ARMOR
FanfictionMadden Mori era uma sombra, sempre à espreita, sempre preparado, carregando consigo os pesadelos de todos. Indie Grayson era uma tempestade, a vista de todos, barulhenta e imprevisível, uma risada travessa e um conjunto de surpresas. Nova geração...