04 • Promise me

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voz de meu pai era uma das coisas que eu nunca pensei que ouviria

Quando minha mãe chorava por ele nas madrugadas, ele não a ouvia, nunca ouviu, nem mesmo quando ela sussurrou seu nome antes de morrer

Ela sabia que teria sido bem melhor se ele estivesse lá, se ele tivesse ficado, ela não estaria morta

Ele nos deixou desamparadas, e o único homem que nos ajudou, foi o mesmo que acabou com sua felicidade

Na garganta..

Tudo oque eu queria ter dito ficava em minha garganta, era como se eu me afogasse com tudo oque estava preso dentro de mim "quando for atingir alguém, foque na garganta"

Era isso que ele me dizia, Klaus Graazer

Eu nunca me esqueceria de seu nome, ele me tornou oque sou hoje, me fez passar por uma grande depressão, uma dor incomparável

Talvez um dia eu me tornaria alguém melhor do que a criança que ele abandonou para trás

- Lucy..? - a voz grave me acordou de meus pensamentos

Ele tinha uma barba bem feita, e roupas formais, aquele que estava na minha frente era meu pai, eu nunca tinha o visto

Seus olhos demonstravam um orgulho, como se ele estivesse feliz em me ver, mas algo dentro de mim, me fazia pensar que tudo era um grande teatro

- Hidan ou melhor pai - eu falei sem animação nenhuma

- você não parece contente..- ele falou e abaixou a cabeça

Eu não queria iniciar uma discussão logo de cara, mas quando vi, já estava cuspindo as palavras

- é óbvio que não estou contente.. com meus dezoito anos eu vejo meu pai pela primeira vez, se queria que eu morasse com você em algum momento de sua vida, deveria ter sido presente na minha - eu falei e respirei fundo, não queria mostrar o quão chateada eu estava com ele

- me desculpe okay? Eu não queria ter colocar no meu mundo - ele falou no mesmo tom que eu

- no seu mundo? - eu dei uma risada sarcástica - se não queria me colocar no seu mundo, não deveria ter fodido minha mãe - ele se assustou com as minhas palavras - oque foi papai? Você achou que eu era um docinho? - perguntei com ironia

Seu silêncio já foi o suficiente para que eu me acalmasse, pelo menos um pouco

- tá bom, vamos começar de novo... Olá pai, esses anos que eu não sabia da sua existência eu estive muito bem, tomando remédios e indo a psicólogos - eu falei tentando me controlar de novo

- eu soube disso, quem você acha que pagou seus psicólogos e remédios? Eu queria te ver bem, mesmo estando tão longe - eu olhei para seus olhos, e permaneci calada

" Assim que eu soube da morte da sua mãe eu busquei auxiliar você, mesmo estando longe, sempre me preocupei com sua saúde mental, eu sei oque você viu naquela noite, e sei que era apenas uma criança quando viu sua mãe ser assassinada"

- como sabe disso? - eu o olhei curiosa, eu tinha certeza absoluta que nunca tinha dito aquilo a ninguém

- depois conversamos sobre isso, eu preparei um quarto pra você - ele caminhou até as escadas e me olhou, eu caminhei junto a ele ainda pensando em como ele sabia que eu tinha assistido a morte da minha mãe

O quarto era em tons totalmente escuros, e revezavam entre roxo e preto, eu sabia que ele tinha ido atrás de informações sobre mim, ou não teria decorado o quarto daquela forma

Assim que ele saiu, eu me joguei na cama, pensando em tudo oque se passou esses últimos anos

É meu aniversário, hoje faço 11 anos, meus avós sempre faziam um pequeno bolo apenas para nós, mas hoje quando acordei, apenas o bolo estava na bancada, e meus avós tinham desaparecido

De início eu pensei que sobraria mais bolo para mim "tanto faz" depois de comer a primeira fatia, as lágrimas escorriam pelos meus olhos automaticamente

"Eles devem estar brincando comigo" meu rosto já estava começando a ficar vermelho, eu chorava sem parar

Eu acendi as velas, e elas queimavam a linha e derretiam a vela, caindo sobre o bolo, me impedindo de o comer mas mesmo assim eu não parei

Eu comia sem parar, minhas mãos tremiam e o bolo se misturavam com minhas lágrimas, o desespero estava tomando conta de mim

Eu parei e pensei no meu pai, ele deveria estar aqui, ele não deveria ter ido embora

Em um momento de fúria o bolo foi jogado contra o chão, as velas começaram a pegar no tapete e fazer uma grande chama quente

É o meu aniversário e ninguém está aqui, eu observei as chamas se espalharem pela cozinha, todos os quadros estavam ali, pegando fogo

Um grito fino saiu da minha garganta, de raiva, que logo se tornou algo angústiante

Vou chorar até as velas queimarem esse lugar, vou chorar até está festa se tornar apenas cinzas

É meu aniversário, meu presente vai ser lágrimas

Ter o mesmo sonhos a muitos anos já se tornou algo normal pra mim, todos os meus aniversários seguintes foram da mesma forma, tudo culpa do meu pai

Ele não estava lá quando eu precisei dele, mas agora que eu estava bem, ele quer dar uma de pai

Não sei se vou aguentar isso por muito tempo

Mergulhada em meus pensamentos me lembrei da maleta que o homem gorducho jogou em meu colo antes de morrer, e também dos olhos famintos do rapaz que o matou

Eu levantei da cama e foi até minha mala, a abrindo, a maleta coube perfeitamente ali dentro, e foi ali que ficou a viagem toda

Eu a peguei e coloquei sobre a cama, criando coragem para abrir ela

Os trincos destravaram, e assim que a mala estava aberta, senti vontade de gritar

Ali tinham fotos minhas, durante toda a minha vida, e tem também do cadáver de minha mãe, mas oque realmente me chamou atenção, foi uma foto em preto e branco, que era a única ali

Nela tinha um homem, sua barba estava cortada e ele tinha um cigarro entre os lábios, e usava roupas elegantes mas nada luxuoso

Meu coração acelerou quando percebi de quem se tratava a fotografia

Ele ainda estava vivo

Ele ainda estava vivo

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•1033 palavras

𝔓𝔞𝔦𝔫 𝔬𝔣 𝔏𝔬𝔳𝔢 - 𝕿𝖔𝖒 𝕶𝖆𝖚𝖑𝖎𝖙𝖟Onde histórias criam vida. Descubra agora