Capítulo Um

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Ha Sooyoung passou a odiar cadeiras de plástico laranja. No entanto, aqui ela estava sentada em uma. De novo.

Sozinha no corredor, estudando a textura da parede chanfrada, seu coração batia mais rápido do que provavelmente seria bom para ela, mas isso fazia sentido, dada a natureza da tarde. Essa batida rápida e repetitiva serviu como o único som no corredor vazio, adicionando uma qualidade sinistra ao evento já estressante.

Yves estava contando os dias e, mais recentemente, as horas até esse encontro com Jinmi, e em menos de vinte minutos, tudo estaria acabado, e o destino de sua carreira não seria mais um mistério. Ela respirou lentamente em uma tentativa de acalmar seus nervos, porque o resultado dessa conversa significava tudo. Ela olhou para o corredor solitário, em uma direção e depois na outra, antes de finalmente voltar seu olhar para a grande porta marrom que marcava o ponto de entrada para o escritório de Kim Jinmi. Ela piscou duas vezes, sacudiu a cabeça com firmeza e sorriu brilhantemente quando a porta se abriu. Não, nenhuma dançarina nervosa aqui. Apenas uma funcionária muito grata. Esta sou eu.

— Yves? Entre — disse Jinmi. Ele foi o Maestro do balé chefe do Seul City Ballet por vinte e seis anos, e o chefe de Yves por nove deles. Ele era alto, magro e bonito para um homem de sessenta e um anos. Um emaranhado de cabelos brancos no topo das feições esculpidas fez uma série de pinturas notáveis dele em torno de Manhattan e além. Kim Jinmi era uma lenda no mundo da dança e quase todo mundo o respeitava.

— Obrigada, Jinmi. Espero que sua tarde tenha sido boa. — Ele a puxou para um abraço de um braço quando ela passou, e deu um beijo em sua têmpora, sua saudação padrão, e a seguiu até seu escritório.

— Não tão ruim. Nem um pouco. Ocupada, no entanto. — Sua tarde teria consistido em encontros individuais com cada dançarino da companhia, dos quais havia cerca de noventa, para suas avaliações anuais. Em reuniões como essas, os dançarinos eram promovidos, aconselhados sobre o progresso, ou pior, informados de que seus contratos não seriam renovados para a temporada seguinte. Para Yves, esse encontro era a chance de uma promoção de solista à bailarina principal, o mais alto escalão da companhia. Ela era solista há cinco anos, se matando e forçando seu corpo além dos limites para dar o salto para o papel principal, e então sentando naquela cadeira laranja no final de cada temporada esperando contra toda a esperança.

Ela tinha sido preterida todas as vezes.

 Talvez Jinmi acreditasse que ela não estava pronta no passado. Ou que ela não tinha dedicado tempo suficiente. O que quer que fosse, ela estava preparada para deixar o desgosto para trás. Esta próxima temporada era dela, e Yves estava preparada para dizer isso a Jinmi se chegasse a hora. Ela estava determinada a não deixar nada ficar em seu caminho. Ela sacrificou muito. 

— Como está seu pai? — perguntou Jinmi. — Não tenho notícias de Taemin há uns bons seis meses.

— Ele está indo muito bem — ela disse a ele. — Ainda é o papai. Ele é o coreógrafo convidado em Miami nesta temporada. Está indo tão bem que eles podem querer ele de volta para a próxima temporada também. Embora eu duvide que ele vá aceitar. Ele recebeu muitas ofertas.

— Aí sim. Me lembro de ouvir isso. Bastardos sortudos por tê-lo agarrado.

— Concordo — disse Yves, acomodando-se em sua cadeira em antecipação ao que a reunião traria. Ela estava, no entanto, familiarizada com a conversa fiada obrigatória sobre seu pai antes de qualquer grande conversa sobre sua própria carreira. Ha Taemin alcançou fama como um dançarino de balé Russo de renome mundial, antes de imigrar para os Estados Unidos no final dos anos setenta e fazer a mesma coisa aqui. Como se poderia imaginar, ele recebeu toneladas de atenção. Assim, Yves foi comparada a seu pai por toda a sua vida. O fato de ela não ter visto o mesmo sucesso tinha sido... difícil. Para ambos.

Number One (Chuuves)Onde histórias criam vida. Descubra agora