Capítulo Oito

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Yves jogou a toalha na bolsa de dança em frustração e puxou o cabelo do nó na nuca e sacudiu a cabeça com raiva. Que raio foi aquilo? Ela teve ensaios ruins antes. Eles aconteciam o tempo todo, mas este estabeleceu um novo recorde e destacou todas as maneiras pelas quais ela era péssima nessa parte.

Vergonhoso. Isso é o que tinha sido, e na frente de todo o elenco.

Eles se concentraram no clímax da peça naquele dia, que começa com um solo sofrido de Mira e depois cresce em uma dança em parceria onde Titus se junta a ela e os personagens lutam até que sua paixão os una como um.

— Tente de novo, Yves. O personagem tem que sentir alguma coisa, — Kai gritou para ela de sua cadeira na casa. Ela ainda podia ouvir suas palavras ecoando pela extensão do teatro. — Como isso poderia ser diferente de antes? — ele disse quando ela terminou. — Saia da sua cabeça, Yves. Isso não é matemática, é poesia.

Ela jogou sua bolsa de dança no banco e se inclinou contra a parede de cimento.

— Não é tão ruim. — Ela abriu os olhos para ver Jiwoo parada perto dela nos bastidores. Ela estava arrumada e pronta para ir, sua bolsa de dança pendurada no ombro, jeans por cima do collant.

— Você acabou de assistir ao mesmo ensaio que eu? Ele ama tudo que você faz e me odeia.

— Isso é só porque você teve tempo para me colocar no caminho certo, me mostrar todas as maneiras que eu estava estragando tudo. Talvez eu possa retribuir o favor agora.

Ok, então essa foi uma proposta interessante. Talvez Jiwoo pudesse ajudar. Independentemente disso, Yves estava sem ideias e disposta a tentar qualquer coisa.

— O que você tinha em mente?

— Encontre-me no estúdio quatro. Vamos brincar. — Sério, o que ela tinha a perder?

Dez minutos depois, era exatamente onde elas estavam. Jiwoo ocupou um lugar no banco no canto e pegou seu telefone. Yves observou enquanto ela percorria sua música

— O que estamos fazendo exatamente?

Jiwoo olhou para cima e sorriu.

— Nós vamos dançar.

— Ok, mas essa variação em particular...

Jiwoo se levantou e colocou um dedo sobre os lábios de Yves.

— Nós não estamos dançando o show.

— Não estamos?

— Deus, não. Estilo livre.

— Não vejo necessariamente como isso é produtivo.

—Você não precisa. Deixe para mim. Esta é a parte divertida. Eu vou tocar uma música e você vai dançar. Use o que você está sentindo agora e apenas vá.

— Eu não acho que posso fazer isso. Eu não improviso.

— Besteira. Você só não quer. Você odeia se deixar levar e pensa demais em tudo como se fosse seu trabalho. Quer que eu vá primeiro? Isso vai ajudar?

Yves fez um gesto largo com o braço, convidando Jiwoo à sua frente porque não estava confortável com todo esse exercício.

— Demais.

Jiwoo assentiu uma vez, conectou o telefone no alto-falante portátil e selecionou uma música com um toque na tela. Yves observou enquanto Jiwoo decolou pelo chão em uma série de movimentos que nada lembram o balé. Uau. Nos três minutos seguintes, ela observou com admiração a mulher à sua frente, tão destemida em tudo o que fazia. Não havia nenhuma restrição, nenhuma autoconsciência na forma como Jiwoo girou a cintura e jogou a cabeça para trás, pulando uma e outra vez, girando quando sentiu a necessidade de girar. A respiração de Yves ficou presa na garganta com a beleza, habilidade e pura inibição à sua frente agora. O que ela não daria para ser tão livre.

Number One (Chuuves)Onde histórias criam vida. Descubra agora