capítulo 3

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TEMPOS DE DESESPERO
Sienna


Meu estômago tremia com os alarmes estridentes do quarto de Michelle.
— Não, — eu respirei.
Josh correu para o quarto de sua companheira, e todos nós o seguimos.
— Saiam! — Aiden rugiu para a equipe de notícias, que estava tentando se espremer atrás de nós. Eles se foram antes que ele se repetisse.
Lá dentro, o bipe do monitor cardíaco estava disparando.
Michelle parecia estar lutando contra o ventilador. Por um momento, pensei que ela estava acordada.
Mas seus movimentos estavam muito descontrolados, como se ela estivesse tendo algum tipo de convulsão.
Josh agarrou a mão esquerda de Michelle, implorando. — Calma, amor. Tudo bem. Vamos. Você tem que superar isso! — Enquanto eu
observava, o corpo de Michelle se soltou e se imobilizou. Os bipes do monitor cardíaco estavam diminuindo.
Jocelyn estava trabalhando rapidamente — fazendo o quê, eu não tinha ideia. Mas sua expressão era sombria.
O monitor cardíaco continuou a apitar irregularmente, mesmo enquanto o corpo de Michelle permanecia em repouso.
Sua frequência cardíaca aumentava e diminuía.
Rápido e lento.
Empurrei Irene para o outro lado de Michelle, agarrando sua mão direita.
— Michelle, estamos todos aqui. Amamos você, Michelle. Aguenta firme, — eu implorei.
— Afaste-se dela, — Irene disparou para mim.
Eu cambaleei para trás em estado de choque.
— Você deixou aquele vampyro chegar perto dela, Sienna. Você deveria ser amiga dela, e você nem percebeu que ele a estava possuindo.
Ela se virou, fixando seus grandes olhos castanhos em Michelle. — Por favor, apenas... saia. Deixe-me ficar com minha filha. Pela última vez.
Entorpecida, voltei para onde Aiden estava de pé contra a parede.
Percebi que o tempo todo, o olho fixo da câmera havia captado tudo.
Monica esperou do lado de fora do quarto do hospital, seu cameraman observando tudo.
Abutres imundos.
Pressionei minhas mãos em minhas bochechas, meus olhos ardendo.
Irene estava certa. Qualquer um poderia ver isso.
É minha culpa Michelle estar aqui.
Lutando por sua vida.
E perdendo a batalha.
Balançando a cabeça, observei enquanto o monitor apitava em uma rápida série de bipes novamente.
Eu sabia que algo estava acontecendo.
Eu poderia dizer que algo estava errado.
A maneira como ela agiu.
O jeito que ela falou.
Eu deveria ter visto. As mil maneiras pelas quais Michelle havia chorado por ajuda.
Mas eu estava cega demais. Muito envolvida em meus próprios problemas egoístas.
Ah, claro, eu disse algo a Jocelyn sobre isso, mas nada útil.
Eu fiz soar como uma preocupação ridícula — não ser levada a sério.
Eu falhei em ajudá-la.
Falhei completamente.
Uma longa pausa nos bipes de repente encharcou a sala em um silêncio opressor. Prendi a respiração e eles começaram de novo.
E naquele momento, busquei qualquer poder divino lá fora.
Qualquer um. Nada.
Por favor, orei.
Salve Michelle.
Faça alguma coisa. Qualquer coisa.
Eu não posso perder minha melhor amiga.
De novo não.

Aiden

A sala estava lotada demais.
Eu não era da família, e Michelle e eu nunca fomos muito próximos.
Eu saí da sala, tentando não chamar atenção para mim.
Até quase colidir com Monica Birch.
— Com licença, Alfa Norwood! — ela disse, olhando feio. — Você está bloqueando a visão.
Eu me virei para ela, toda a minha raiva inútil por não ser capaz de ajudar Michelle estava vindo à tona.
— Saiam daqui. Agora! — Eu rosnei.
Em vez de obedecer, no entanto, Monica se virou para olhar para mim, seus olhos brilhantes e penetrantes.
— Tem noção do tamanho da tragédia, Alfa Norwood? Se Michelle Daniels não se recuperar, o número total de mortes na tragédia de
Konstantin chega a três. Ou seja, três que conhecemos...
— Michelle vai ficar bem! — Eu disparei de volta, mais emocional do que pretendia. — Ela vai se recuperar.
— Mas se ela não...
— Isso não vai acontecer! Não sob meu comando!
Enfurecido, girei nos calcanhares e voltei para o quarto do hospital.
— E saiam do terreno da Casa da Matilha antes que eu os expulse! — Eu disse.
— Temos passes de imprensa por um motivo!
Dentro do quarto de Michelle, todos estavam em um círculo tenso, a poucos metros da cama para que os curandeiros pudessem trabalhar.
Jocelyn estava com as mãos no peito de Michelle, realizando a RCP.
A Curandeira Lowell estava se movendo, sentindo diferentes pontos — seus pulsos, sua barriga, seus pés, gritando coisas que eram incompreensíveis para mim.
— Rigidez abdominal no quadrante inferior direito. — Ela correu algo que não consegui ver na sola do pé de Michelle. — Resposta ascendente
do hálux.
Jocelyn deu a ela um olhar alarmado.
Owen cobriu a boca com as mãos, afastando-se da cama.
Eu não aguentava ver tudo isso se desenrolar.
Com um olhar para Sienna — que estava congelada, olhando para sua amiga moribunda — eu hesitei.
Se Michelle morresse, Sienna precisaria de mim.
Mas o que isso significa?
Estar ao lado de Sienna não significa focar em derrotar ameaças externas?
Ou significa ficar ao lado dela quando ela está perdida e temerosa por sua amiga?
O que um Alfa deve fazer quando dividido entre o dever para com sua matilha e o dever para com sua companheira?
Eu estava no quarto do hospital, lutando comigo mesmo.
A melhor maneira de ajudar Sienna — ajudar a todos — é matar Konstantin.
Eu balancei a cabeça em meus próprios pensamentos.
Se Michelle morresse, seria um golpe devastador para Sienna, e eu não poderia abandoná-la assim.
Mas se eu não saísse daqui e começasse a fazer algo sobre o vil assassino que já tinha feito tanto para me prejudicar e aos meus entes queridos, eu iria enlouquecer.

Havia uma coisa que eu poderia fazer, mas eu tinha que fazer rapidamente para poder voltar aqui o mais rápido possível.
Saí da sala.

Monica

Observei a família de luto de Michelle Daniels enquanto a jovem se debatia e resistia na cama médica.
Eu soube então que meus instintos estavam certos.
Era isso. A matéria que solidificaria minha carreira.
— Ei, devemos parar de filmar? — meu cameraman, Curtis, perguntou, olhando para mim com o canto do olho. — O Alfa acabou de
nos expulsar da Casa da Matilha.
Como eu poderia desligar as câmeras agora, sendo que a companheira do Beta está prestes a bater as botas?
Era entretenimento puro.
Mas se Aiden Norwood nos visse no local depois de nos dizer para sairmos, isso poderia interferir em meus planos maiores.
E isso não serviria de jeito nenhum.
— Guarde isso. Vamos sair daqui, — eu disse decididamente, já me virando para sair.
— Mas e se ela morrer? — Curtis perguntou, baixando a câmera de seu ombro e seguindo atrás.
Meus sapatos de salto alto ecoaram alto nas escadas quando saímos da ala médica e fomos para o gramado.
Dei de ombros. — Se ela morrer, ela morre. Encontraremos um novo ângulo.
Sempre há um novo ângulo.
— Não deveríamos falar com a matriz sobre isso? Na verdade, não temos permissão para estar aqui. — Curtis parecia nervoso e revirei os
olhos.
Se ele não criasse coragem — e logo — eu teria que encontrar um
novo cinegrafista.
O que seria uma pena, porque Curtis não era péssimo na cama.
— Pare de ser molenga e confie em mim. Os Norwoods são o nosso bilhete de loteria.
Minha van estava esperando. Entramos e saímos para compilar as filmagens do dia.
Os caras do Jornal da Matilha iriam me amar.
E logo, o mundo também.
Quando tudo isso fosse dito e feito, Aiden Norwood se lembraria de mim para sempre.

Josh

Meu coração bateu forte contra minhas costelas enquanto eu observava Jocelyn e a outra curandeira — Lowell — se moverem em torno de
Michelle.
Eu estava vagamente ciente de Aiden recuando para fora da sala e, em seguida, pelo corredor.
Onde ele está indo?
Para finalmente caçar Konstantin?
Eu deveria ir também.
Mas como eu poderia?
Eu não conseguia tirar meus olhos de Michelle.
O monitor ainda estava enlouquecendo.
— Precisamos do quarto! — Jocelyn latiu. — Por favor, todos, limpem a sala!
— Por cima do meu cadáver, — rugi.
Sem. Chance.
Eles teriam que me carregar chutando e gritando.
— Ela precisa de uma tomografia computadorizada e possivelmente uma ressonância magnética, — argumentou a Curandeira Lowell. — Temos que transferi-la da Casa da Matilha para um hospital cirúrgico!
— Ela não vai aguentar. Temos que estabilizá-la primeiro! — Jocelyn explodiu.
— Você não tem os recursos aqui, Jocelyn. Temos que transferi-la para uma instalação externa imediatamente, — Lowell insistiu.
Jocelyn balançou a cabeça. — Eu não posso parar, ou ela pode ter uma parada cardíaca! — ela disse novamente.
— Ninguém vai a lugar nenhum até que Michelle esteja estabilizada!
— Eu gritei.
A Curandeira Lowell se virou para me encarar. — Você não entende,
Beta Daniels. Jocelyn não pode fazer muito. Michelle está mostrando sinais de uma lesão cerebral muito grave.
Minha respiração ficou presa na minha garganta.
Eu cavei minhas mãos em meu cabelo.
— Jocelyn está tentando estabilizar sua frequência cardíaca, — Lowell continuou, — mas se o problema se origina em seu cérebro, o que Jocelyn está fazendo não a salvará.
Eu não entendo isso.
Não entendo por que isso está acontecendo.
— Mas se eu parar durante o tempo suficiente para movê-la, ela pode sofrer uma parada cardíaca assim que eu remover minhas mãos, —
argumentou Jocelyn.
— Você não pode entrar e... consertar o que quer que esteja errado com o cérebro dela? — Eu perguntei, agarrando-me a qualquer
esperança.
Lowell franziu os lábios e balançou a cabeça. — Não há tempo suficiente.
A finalidade de suas palavras retiniu na minha cabeça.
Eu estava prestes a assistir minha companheira morrer.
— Nenhuma de vocês pode fazer alguma coisa? — Eu perguntei, forçando-as a encontrar meus olhos.
Os olhos de Jocelyn se estreitaram.
— Eu posso, — ela disse.
A Curandeira Lowell e eu nos viramos para olhar para ela.
— Não, você não pode, — ela disse.
— O que? — Eu exigi. — O que você está falando?
— O ritual.
— É proibido por uma razão, Curandeira White. Não terei essa discussão novamente. Nem vou participar. — A outra mulher parecia furiosa.
Nesse momento, o monitor cardíaco disparou com uma série de bipes estridentes, depois se estabilizou.
— Talvez, — Jocelyn disse, sua voz tremendo. — Mas eu tenho que fazer algo.
— Não! — A Curandeira mais velha saltou para frente, mas era tarde demais.
Jocelyn fechou os olhos, pressionando as palmas das mãos firmemente no peito de Michelle.
A Curandeira Lowell recuou.
Por um momento, nada aconteceu.
Em seguida, a sala foi envolvida por uma luz branca ofuscante.

Os Lobos Do Milênio (Livro 3)Onde histórias criam vida. Descubra agora