Capítulo 3

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Do sertão Bahiano, rumo ao sul do País, atravessariam todo o Estado de Minas e grande parte do Estado de São Paulo, porque o objetivo, era a região que estava sendo desbravada com chegada da Estrada de Ferro Sorocabana. Lá onde estariam as oportunidades, o sonho do eldorado, o futuro de terras férteis e a abundância de água.

Tome pé na estrada

Primeiro dia caminharam cerca de doze léguas ao entardecer, chegaram as margens, de um riacho de águas cristalina, fresquinha, potável, por que era uma região sem nenhum sinal de poluição, era uma riqueza. Eles estavam em parte da Chapada Diamantina, modesta parte é um dos lugares naturais, mais lindo do nosso País. Armaram suas redes, descansaram, banharam-se e dormiram as margens de um riacho. Se a gente calcular que uma pessoa, pode andar até seis km por hora, a viagem rendeu, pois com todas adversidades, andaram bastante.

Levantaram antes que o sol nascesse, tinham que fazer render na parte da manhã, seguiam agrupados, sempre um perto do outro companheiro, porque já tinham se distanciado da velha morada.

Tudo corria bem, o cansaço é inevitável, como disse, poeira, umidade do ar precária, pés ardendo, porque imaginarem, usar uma alpercata (sandália) feito de couro cru, nada comparado com os modernos tênis de hoje, que tem até entrada de ar para refrescar os pés.

Seria um dia cansativo, mas normalmente, pela propositura dos nossos heróis, daí uma situação muito desconfortável, surgiu.

Francisco Dois, começou adoecer, apresentando os sintomas de febre alta, tremores, não é nada fácil ver um dos companheiros, em estado febril, passando realmente mal.

Fizeram uma parada, a sombra de uma árvore frondosa e comeram um pouco, tomaram um gole de água, que eles levavam em uma cabaça (espécie de coité), começaram a trocar ideias, sobre o estado de saúde do amigo, o momento era de uma avaliação de como seguir. Lugares inóspitos, sem moradores e povoados, mas quem está na guerra não pode fraquejar, sabiam disto.


Retornaram a caminhada, bem a tardezinha enquanto Francisco Dois, tinha condições de andar.

Manhã seguinte, o amigo apresentava vários outros sintomas, (além do estado febril, fraqueza, sudorese), viram que Francisco Dois, não tinha condições de caminhar mais. Requer uma pausa de um dia, para tratar do companheiro, com chá de algumas plantas medicinais conhecidas. Descansaram e replanejaram as estratégias futuras.

Existem coisas e decisões que não dá para voltar, é avaliar uma forma de seguir, seguir e seguir ao rumo da viagem, não se tem retorno, quando a vontade de vencer é maior que todos os obstáculos apresentados. Requer força, fé e coragem, isto Eles tinham, eram jovens.

Sabiam que jamais deixariam um companheiro para trás, não conheciam a estória dos três mosqueteiros, mas tinham como princípios, honra, caráter e principalmente amizade sincera. "um por todos e todos por um"

A estratégia seria levar o companheiro, mas como? pensaram e deduziram conduzi-lo na própria rede. Como era hábito naquelas paragens, em um enterro, conduzia o morto em uma rede até o sepultamento, atravessa uma vara no suporte de amarrar a rede e o transportavam dois a dois revezando, a título de informação, o cortejo de enterro do morto, era anunciado onde passavam por um acompanhante, batendo a matraca (dois ferros em forma de quadrado, presos de um lado em uma tábua). Detalhe a rede fúnebre era de uso comum, tinha que se trazer de volta, na necessidade a usariam em outro enterro. Então passaram a transportar o companheiro enfermo desta forma, mas sem a matraca pois ele estava doente não morto.

Andaram muitos quilômetros, revezando-se, daí a viagem se tornou mais penosa, mas jamais deixariam o amigo para trás. Caminharam várias léguas, claro descansando e se revezando. Situação angustiante em ver o amigo, naquela penúria. Não encontraram nenhum morador, naquele trajeto, que os pudesse socorre-los. Um estava doente os outros cansados demais. Dormiram embaixo de uma pedra grande, porque é um lugar de montanhas, rios, lagos, cavernas e antigamente eram região de lavras de diamante. Amanheceu e eles partiram. No final da tarde, chegaram a uma cidade, já maior e deduziram aqui vamos encontrar recursos, para tratar do amigo enfermo. Quando entraram na cidade encontraram as primeiras casas, mas não era de moradores com família, viram que era um prostíbulo, "sempre ficavam isolados do centro da cidade" onde as mulheres damas, davam expedientes, era o nome dado a estas mulheres naquela época. Poderiam encontrar, quem fosse jamais faltariam com respeito, educação, que lhes foram dadas, desde pequenos. Cabisbaixos, foram andando, pois esta era postura que o momento exigia.

Saga dos Retirantes da Seca - BahianaOnde histórias criam vida. Descubra agora