Capítulo 7

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Final da primeira etapa, chegaram a capital Mineira," - Meu Deus, como é grande esta cidade, o deslumbramento é geral, nunca tinham vistos tantos prédios e movimento de carros, de pessoas, avenidas, ruas, assustou-os, como disse, Eles eram semianalfabetos, mas com a capacidade de absorção muita rápida, sabia que logo, logo, estaria familiarizados com todas estas novidades. Viram que ali, apresentava a Eles, uma oportunidade de ganharem mais uns trocos, era obra para todos os lados, porque Belo Horizonte estava sendo construída, dentro de um planejamento, para ser Capital.

Ajeitaram um lugar para ficarem alojados, porque tinha falta de mão de obra pesada, eles não tinham medo de serviços, juntariam o útil ao agradável, serviço, lugar para ficar, adquiriam novos conhecimentos e naturalmente ganhariam umas patacas, para continuarem a viagem a terra da fartura.

Mas nem tudo é só alegria, tem seus percalços, o trabalho era árduo, moravam longe, e não tinham experiência na construção civil, visto que onde eles moravam as casas eram feitas de adobe ou taipas, mas não se preocuparam com isto, até porque a função deles seria braçal, não era de pedreiro. Ficariam até ter a quantia mínima necessária, para as despesas, até São Paulo. A maioria dos dias era só trabalho, não conhecia quase ninguém, as poucas horas era para descansar, mas...

Moçada nova, com vigor, começaram perder a timidez e já se arriscavam dar umas voltas nas horas de folga, porque a procedência deles é de um povo festeiro, a vida não é só lamento, tem de tirar proveito das horas boas, dar umas dançadas, olhar as moças, paquerar um pouco, faz parte. Em um destes festejos, todos ajeitaram uma namorada, para amenizar um pouco o stress, porque era muito tempo de secura.

Paquerar, namorar, dançar, festar, tudo bem, um compromisso maior, aí não, pelo menos da maioria deles, não poderiam perder o foco e objetivo da viagem.

Mas naqueles tempos, a coisa era diferente, de maneira nenhuma, poderia ter um envolvimento maior, sem um compromisso também maior. Moça é filha de alguém, um deles montaria na porca, encontraria um pai mais enérgico ai o bicho pega. E não foi isso que aconteceu, um pai deste modelo, mais os irmãos da moça, intimaram Anisio, para assumir um compromisso maior, claro que ele não queria, tomou uma bela camada de pau, ficou uns dias curando na salmoura, os outros ficaram acessos e de orelhas em pé, com este fato, trataram logo de juntar as tralhas e tomar rumo de novo.

Ficaram cerca de seis meses, atrasaram bem a viagem, mas aprenderam, tem que se planejar, para continuar, e daí sofrer menos.

Compraram as passagens para São Paulo, capital, naturalmente a mais em conta a segunda classe, duro de aguentar os solavancos e dureza dos bancos de madeira, mas ainda assim bem melhor que a pé.

Dinheiro pouco exige só se gastar o estritamente necessário, no trem, comiam o basicão, sanduba de mortadela, com café, quem já viajou de trem naqueles tempos principalmente na segundona, , vinha pelo corredor do vagão, um funcionário da ferrovia, que gritava saaaanduicheeeee, cafééézinho, trazia uma bandeja e um bule grande de café fraquinho, daquele que dá para ver o fundo da xicara, o sanduiche uma fatia de mortadela, para ficar mais barato, pois a freguesia era de baixo poder aquisitivo. Na primeira classe, totalmente diferente, era só para quem tinha grana, tinha restaurante, poltronas macias, e o funcionário trazia. Cesta com diversas frutas e também , não anunciava gritando, para não incomodar os passageiros, outro naipe, quem viajou de trem da época, lembra muito bem disto, uma verdadeira e cruel divisão de classe.

Saga dos Retirantes da Seca - BahianaOnde histórias criam vida. Descubra agora