a que transa sempre morre no ato

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Rajadas de vento lançam seus cabelos ao ar, dificultando parcialmente sua visão. Aturdida, furiosa e com o diabo e Deus furiosos dentro de ti, sua respiração profunda toma lugar no mundo agitado. Passos rápidos, vozes incessantes e ininteligíveis, o mistura desconfortável de fragrâncias que irritam o nariz. É como se fosse capaz de sentir a textura extremamente adocicada e enjoativa no ar enquanto respira e isso trás mais aversão.

Seus olhos varrem o ambiente com cuidado, o capuz que cobre a cabeça, ocultando qualquer traço de identidade, a máscara branca com seus olhos vazios, a faca de plástico ensanguentada. A pequena barata passa quase despercebida ao seu lado, vagueia tão confusa quanto você, buscando pelo que deveria ser tão fácil de encontrar. A ardência cresce sobre seus lábios, o mais brando sabor de metal baila pelas papilas gustativas, o pé se move sem parar, esfregando a sola no chão de terra batida, onde o som úmido do inseto dilacerado se torna cada vez mais alto em seus ouvidos.

A festa anual de Halloween não levava apenas os jovens, pelo contrário. A tradição era um convite aberto para todos que gostariam de explorar seus desejos proibidos, onde tanto adolescentes, adultos e idosos eram convidados a participar, e se você encontrar alguém conhecido fazendo atos libidinosos, decerto não irá se surpreender. Sem limites, sem julgamentos, liberdade ao extremo. A santa trindade do vai dar merda.

Um grupo de líderes de torcida zumbies passa por ti na velocidade de uma bala, e isso a arranca de todo o devaneio promissor, seu coração descompassa à medida que elas te fitam de soslaio, cheias de maldade no olhar.

Pelo susto, olha ao redor discretamente, as orbes saltadas, buscam qualquer vestígio de um lugar seguro, mas não há nada para temer. O estacionamento não oficial começa a ficar vazio com o passar dos minutos e Pedro não está em lugar nenhum.

Ergue a face mirando o céu estrelado, os pontos brilhantes não lutam por espaço contra as nuvens, apesar de algumas delas estarem presentes em sua sutileza. Pela posição da maior, percebe que passou tempo demais e agora está completamente a sós com as malditas vozes na cabeça que sempre atrapalham tudo.

Checa o celular, mas o sinal está fraco demais para a internet se conectar. Nada que uma boa dose fétida de álcool não resolva.

Enquanto caminha pela estrada levemente íngreme, a floresta parece abraçá-la com seus sussurros noturnos, o quebrar de folhas envia uma reação imediata, um ímpeto arrepio, intenso ao ponto de seus ombros se moverem pelo espasmo. Três dias de comemoração, iniciando no famoso Dia das Bruxas e finalizando apenas em Finados, cerca de vinte e sete horas seguidas, onde apenas os fracos iriam embora.

Doces ou travessuras tem outro significado nessa parte lutuosa da cidade. Jogos de sedução, verdade ou desafio banhados de malícia, tabuleiros de Ouija, conversas com o oculto. Todas essas baboseiras sobrenaturais que você não acredita nem um pouco. Uma floresta amaldiçoada? Onde ninguém pode sair depois das três da manhã? O que é isso? O script de mais uma temporada de American Horror Story?

Não há nada de excepcional sobre a data. Superstições criadas por gente sem roupa na cadeira para dobrar. Um desaparecimento seguido de morte. Se é que isso é capaz de expressar abertamente o que houve. Em todo caso, desde que o primeiro corpo foi encontrado na noite de Halloween, a cidade inteira passou a caminhar entre a realidade e o medo do oculto inexistente.

Celular erguido, sobrancelhas franzidas, frustração gritando. Se encaixa entre as árvores longas, o velho canivete enferrujado sai da bolsa pequena e te faz companhia. Sombras se projetam ao mesmo tempo em que a mesma nuvem atrevida de antes cria uma breve sombra, dificultando parcialmente a visão. Sua caminhada a leva para os confins da sua paciência. A silhueta umbrífera, paralisada no meio da mata, parece a fitar com ansiedade. Aperta o objeto cortante entre os dedos e franze o cenho, pedir por um roteador parece a melhor saída.

POPULAR MONSTER | PEDRO PASCALOnde histórias criam vida. Descubra agora