ghostface

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A formiga percorre as tábuas de madeira às pressas, em suas costas há um pedacinho de folha e ela parece dar duro para conseguir passar pelos obstáculos que você criou. Gotículas de água, latas de cerveja, o sexo interrompido que ainda assombra sua mente. Coloca ambas as pernas entre a cerca de madeira mediana que sustenta a maior parte da varanda, assim podendo balançar os pés sem risco de cair.

O sabor amargo da cerveja parcialmente quente baila pela garganta causando uma careta, mas não reclama. Pedro parece concentrado em seu próprio caos, as lumes de jabuticaba permanecem fixas em um único ponto da floresta, e mesmo que você tenha tentado encontrar o objeto merecedor de tanta atenção, falhou.
Sobreviver até Finados é uma tarefa fácil, difícil mesmo é estar ao lado do chileno e não se atrever a trocar uma mísera palavra sobre sexo. Ele não disse nada sobre a sua relevação, na verdade, pareceu insensível as suas palavras, impossibilitando que tu perguntasse sobre ele, pois está curiosa com a resposta.
Sete latas de cerveja para cada, duas barras de cereal e o silêncio. Pascal a convenceu de lavar a fantasia o máximo que conseguisse, apenas para se livrar da maior parte do sangue seco, assim o deixando em um tom terroso que seria confundido com terra. O plano é bom, de fato. Entretanto, a parte ruim é esperar o maldito vestido secar.

Duas horas se passaram desde o início da festa e nada foi capaz de te surpreender. Três mortes supérfluas, um manequim com partes humanas não deveria entrar na lista, mas você entende que faz parte do montante, apesar de tudo.

- Fui atacado e pedi para você correr - ele quebra o silêncio. O timbre rouco, porém suave, chama a sua atenção instantaneamente.

- Tropecei pelo nervosismo, tentei voltar para a festa e acabei entrando na água sem perceber. Molhe meus cabelos, Pedro.

Fodidamente deliciado é a expressão correta para descrever o jeito que ele te mira. O sorriso de canto, o brilho no olhar, a maldita sugestão aflorando.

- Nos separamos. Você deve chegar depois de mim por ter entrado em luta corporal contra o Ghostface e foi assim que ganhou o corte na mão.

- Ghostface?

Se move dobrando os joelhos e os deixando de apoio para o queixo. A pobre formiga, agora sem alimento, sobe pela viga da cerca lentamente e dá para notar que está sem uma de suas patas.

- Um pouco antes de encontrar você, eu vi um dos Ghostface esfaqueando um rapaz na mata.

Respira fundo e abraça os joelhos, lembrando do fervor da lâmina afiada, que rasga a carne numa dança desordenada, faz com que você umedeça os lábios. O esguicho do sangue, o som da morte abraçando cada fibra de um estômago e peito, trazem uma beleza fora do comum. Você sente o coração pulsar ao se recordar dos olhos ainda brilhantes encarando o nada e tenta imaginar a sensação de dor absoluta que os golpes devem trazer. Contar para Pascal nos mínimos detalhes traz um quê de excitação e satisfação grandioso para dentro de ti.

- Copiador do caralho.

- O quê? - as sobrancelhas franzem e seus lábios se entreabrem ligeiramente, Pedro fica a encarando, impassível. É como se ele tivesse simplesmente desligado - Pedro?

- Sim?

- O que quer dizer?

- Com o quê? - dessa vez, o chileno demonstra desnorteamento. O que diabos está acontecendo?

- Você disse "copiador do caralho".

- Não, abelhinha. Com puta dor do caralho, por causa do ferimento. Acredito que esteja na hora de voltarmos.

Não é exatamente o que escutou há poucos segundos, mas dá de ombros, afinal, está mesmo na hora de voltar. Mantém-se animada com a ideia de um assassino a solta, e seu instinto grita para que você inicie uma caçada, mas precisa se conter.

POPULAR MONSTER | PEDRO PASCALOnde histórias criam vida. Descubra agora