é sempre na porra de uma floresta

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- Hey, abelhinha, você está bem?

A íris exibe uma rica variação de marrons, indo de um castanho suave e quente nas bordas a um marrom profundo e intenso perto da pupila, e pela baixa claridade, parecem sugar toda a sua atenção, a obrigando a se manter fielmente fixa sobre ele. Os lábios se movem, mas o silêncio agradável criado pela sua mente avoada faz com que, novamente, você ignore tudo que existe ao redor.

Um drinque no inferno, uma troca de beijos no profano, o desejo obscuro de provar do líquido rubro que escapa lentamente em direção ao chão. Umedece os lábios, excitada.

- Caralho, eu realmente achei que fosse ele! - a voz, antes chorosa e banhada pelo desespero, torna-se divertida.

Ainda paralisada, tenta se recompor, focando apenas nos olhos de jabuticaba a sua frente. Pedro segura em seu braço com tanta firmeza, que ao soltar, a marca de seus dedos permanecem.

Olha ao redor, desorientada. As pessoas riem, bebem, dançam, fodem. Não há motivos para alarde, existe apenas um ermo imenso entre o que é realidade e ficção. Não há entranhas verdadeiras, a construção de cena é tão bem produzida, que até mesmo você se deixou ser enganada, mesmo que por um instante. Um manequim bem maquiado, sangue falso de qualidade, uma máscara com a fisionomia de um homem.

- Pela comoção em relação a festa, acreditei que teríamos de fato um assassinato, mas é apenas um boneco qualquer.

- Não é como se não tivéssemos tempo.

- Preciso de ar fresco - murmura e seu hálito quente paira sobre o centro da face de Pascal, que parece inspirar profundamente, captando cada mísero fragmento seu.

- Quer dar uma volta? Precisamos apenas de uma boa garrafa e privacidade.

E você provavelmente escorregaria cinquenta e sete vezes no pau dele. Imagina que tragédia?

O espaço amplo, antes não tão bem avaliado por ti, parece promissor agora. Nota que não é tão difícil se perder na mata, e o reflexo da lua sobre o rio traz um quê de horror ainda maior, se você contar com todas as decorações espalhadas. Além é claro, dos manequins que parecem sempre à espreita, há sangue falso escorrendo pelos troncos de árvore, pedaços de corpos decepados pendurados pelos cantos, sacos de lixo em formatos sugestivos.

- E uma boa companhia, suponho - seus olhares se encontram - Só assim para sobreviver a essa noite.

Enquanto seu acompanhante se responsabiliza pelo álcool, a curiosidade te move até o local onde o corpo jaze. Precisa se esquivar dos jovens que se entregam à música genérica, ouve alguns gracejos e reclamações, ganha um copo de bebida duvidosa e a descarta logo em seguida. Não sabe explicar o motivo, mas algo a chama para cada vez mais perto, ignorando as vozes que tentam te alcançar. Seu organismo começa a sofrer com as consequências de vários shots de vodca, levemente embriagada com o senso de direção comprometido. De passos lânguidos e boca seca, dá continuidade a sua missão particular, o vestido longo arrasta-se pelo chão pincelado de sangue, criando quase um degradê na barra.

Comentários surgem baixos o suficiente para serem ignorados, com a ponta dos dedos, sente a temperatura ambiente do plástico revestido, vagueando pela textura dura até chegar às entranhas, mornas. Mornas? Morde o lábio, fodidamente atentada, e mesmo que vire o assunto do ano, não dá tréguas, e abaixa-se ficando na altura do ferimento. Sua percepção clínica entra em ação, lentamente, com os olhos atentos a tudo que te ronda, você leva o indicador até os lábios captando o sabor ferroso. Puta merda, deveria escutar seu sexto sentido com mais frequência, pois no momento em que avistou a peça, soube que havia algo errado nela.

POPULAR MONSTER | PEDRO PASCALOnde histórias criam vida. Descubra agora