quando o mar agitado se acalmou,
entoei seu nome por entre o som das ondas; o oceano me respondeu com seu timbre profundo: "não".
uma vez, anos atrás, pedi ao mar que pudesse amá-lo; que fôssemos felizes juntos. sua resposta foi incerta, como um "veremos", e eu nunca tive certeza de que era você mas durante anos quis acreditar que sim; que só podia ser você, que eu era incrivelmente sortuda por tê-lo encontrado e todas essas bobagens que as paixões arrebatadoras nos fazem sentir, mas você estava mais para um karma, uma lição — do que para um verdadeiro amor que duraria mais que nossas vidas.
porém, naquele tempo, estava bom. nós não tínhamos começado da maneira certa e nem estávamos tão bem, mas ainda éramos apaixonados, eu acho. e durante um tempo, antes de você se perder na sua loucura, nos seus vícios e nas suas sombras, você parece ter tentado.
de qualquer forma, isso não importa mais. o tempo não lhe devolve as memórias assim como o oceano não devolve o que você perdeu. já era, já foi. será corroído até se diluir, seja nas águas do tempo ou nas águas do mar.
eu sempre quis te levar para a praia, mas se eu o jogasse na água, acho que iemanjá te arrastava para o fundo até afogá-lo, e depois devolvia os restos. ela não ia querer isso para mim e por isso, me levou de volta ao lugar onde eu sempre posso contar com ajuda.
e os mortos sempre, sempre me ajudam.
estou com saudade do mar, como sempre estive, e muito em breve estarei no abraço das ondas, lembrando-me de onde vim, de onde todos viemos; isso sempre me ajuda a perceber, vez após vez, o quanto todas essas coisas são insignificantes perante a imensidão do Universo, e este é um consolo inigualável.
este mundo ainda vai me abençoar com muito mais amor do que eu posso sequer imaginar, e está tudo bem, vai ficar tudo bem.