for you i was a flame, love is a losing game
você sempre disse que não sabia o que era amor, mas que me queria para sempre no seu jogo. um jogo que eu não queria jogar, porém aceitei achando que você estaria no meu time. que desastroso engano, você sempre deu indícios de que era meu adversário. e à medida que o jogo avançava, sua máscara caía e você me desafiava: até onde eu aguentava adentrar a sua mente? naquela época eu não sabia o que você estava fazendo e fui direto para a sua armadilha, como uma borboleta se enroscando cada vez mais nas teias de uma aranha.
você diz que eu tenho que falar sobre coisas legais, coisas que te enriqueçam e que desenvolvam conversas interessantes — “porque ultimamente nós só temos brigado”. e aí eu te mostrei tudo sobre meu dia e o passeio cultural que eu tinha feito e todas as coisas pelas quais você um dia já se interessou, e você ignorou.
você sempre diz que eu tenho que fazer mais, e recentemente andou dizendo também que eu estava perdendo meu posto. que posto é esse que nunca me pertenceu? eu sempre busquei por algo que não estava lá, percorri seu labirinto com a promessa de um grande prêmio, contudo ele nunca chegava. e eu me via cada vez mais e mais perdida nas profundezas, esmagada entre as paredes confusas e radioativas da sua loucura.
você sempre diz que faz de tudo por mim, mas todos esses anos quem esteve cuidando de quem? eu te tratei como um rei, você é quem nunca mereceu seu posto.
você diz que eu sou só sua, e que você vai matar quem se aproximar de mim. e diz isso com a mesma boca com a qual mente para mim e para ela todas as noites. você diz isso como quem disse aos seus novos amigos que morava sozinho e estava sozinho, e também como quem me chamou para um almoço de família na mesma semana porque até para o seu próprio sangue você mente, orgulhosa e descaradamente.
você diz que me ama com a mesma boca com a qual me mandou para fora de casa várias e várias vezes, a casa que eu me esforçava sozinha para trazer à vida, para manter limpa e organizada — a mesma casa que você também dizia que era minha tanto quanto sua — porque você nunca deu conta, e por isso me chamava de volta todas as vezes.
você diz que não estamos mais juntos com a mesma boca que sussurra o quanto você me quer, o quanto pertencemos um ao outro, e que você ainda vai voltar a ser o que eu mereço após sua nova fase de descobrimento. com a mesma boca que me engana ao cantar o quanto só eu alimento a sua mente, e somente eu sou uma companhia feminina digna, porque as demais não têm graça e não te enriquecem como eu.
para depois dizer que não éramos nada, mas continuar com todas as minhas coisas — meus livros, meus materiais, toda a vida que eu trouxe para a sua frívola existência —, como parte da sua estratégia de chamar a atenção das pessoas que você escolhe a dedo e leva para sua casa, para que, sem conhecerem a sua miséria, te achem um pouco interessante — e assim, supram o seu ego, mas nunca é suficiente, não é? você sempre vai querer mais, porque sabe bem o que falta dentro de você.
eu fui descobrindo e aprendendo muitas coisas enquanto jogava com você.
aprendi sobre os terrenos nos quais eu pisava — ora jardins mágicos, ora cachoeiras de lava, de sinuosos caminhos à beira de precipícios, até campos minados. estudei sobre os limites da razão, compreensão e emoções humanas, e sobre as pessoas como você, que passam a vida inteira fingindo que as dominam. aprendi sobre os outros personagens, também, mas não mais que as minhas próprias eus, todas as que eu tinha que criar a cada vez que o mestre enlouquecia, e que no final, serviram para que eu entendesse mais sobre eu mesma.
infelizmente, isso não mudou o resultado, e eu perdi. não é como se existisse qualquer forma de ganhar.
afinal, você sempre trapaceia.