nem sempre dá pra consertar tudo sozinha
e olha que eu tentei como ninguém. eu fiz o que ninguém faria por você. e nós dois sabemos que ela não faria, não fará. eu suportei tudo de pior que você podia me proporcionar, quase calada, mas sempre errada. sempre acuada, amuada, esmiuçada, até esfolada, mas nunca amada.
você, que tentou bastante destruir meus sonhos, se esqueceu que sou feita de luz. eu jurei a mim mesma nunca deixar as trevas se infiltrarem no meu coração e essa é a primeira vez em toda minha vida que cumprir essa promessa parece difícil.
não consigo erguer sozinha as paredes que caíram aos pedaços, e vai ficar tudo bem. não consigo limpar os escombros do chão, e isso é ótimo porque a minha vida vai seguir longe de sua masmorra em destroços. não consigo sequer acreditar que talvez, lá no fundo, uma parte sua tenha me amado — porque você vivia dizendo que não acreditava no amor, e está certo. você não acredita porque não possui. o amor é uma dádiva dos céus, e as dádivas dos céus nunca lhe alcançarão. mesmo hoje, eu precisava de algo que você nunca será capaz de possuir nem mesmo dentro do seu peito, que dirá para me oferecer.
acho que você sabe disso também, por isso tão facilmente decidiu caminhar cada vez mais perto do abismo, permitiser dominado pelas suas próprias sombras. porque você acha que foi abandonado, quando na realidade, você quem abandonou os deuses.
e eu entendo que está tudo bem em não conseguir mover montanhas, porque só se tira o arcano xvi quando precisa dele no jogo.
não é de hoje que este lugar-tempo começou a ruir.
