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           TREZE

Wuxian olhou para a esquerda enquanto mastigava sua garfada de comida, sorrindo quando Wangji olhou para ele. Ele amava como todos aceitavam Wangji a cada noite da semana para o jantar na casa. Eles estavam caindo em uma rotina, e ele definitivamente gostou da ideia de ter algum tempo com Wangji todas as noites.

— Você pode passar a salada? — Perguntou Yao, colocando a jarra de limonada na mesa.
Wuxian pegou a tigela, passando-a para a direita de Mingjue. Ele espetou a sua própria salada algumas vezes e encheu sua boca de novo, apreciando a acidez do molho e o crocante da alface. Ele olhou para o prato de Wangji e viu como ele empurrou um dos tomates-uva de lado em seu prato. Ele ainda odeia. Wuxian rapidamente enfiou o pequeno tomate uva na boca, sorrindo quando Wangji olhou para ele e sorriu.

— Yao, onde está o refrigerante? — Perguntou Ryan.

— Tenha um pouco de limonada. É mais saudável. — Yao respondeu dessa forma paternal dele.

Ryan sorriu. — E é exatamente por isso que eu preciso do refrigerante. Para compensar todo este material saudável que você me faz comer. Meu corpo vai entrar em choque.

Um círculo de risada ecoou na área de alimentação. Ryan se levantou e caminhou para a copa, agarrando uma das garrafas de dois litros que Yao mantinha escondidas para reuniões. Ele pegou dois copos, encheu-os de gelo e refrigerante, um para ele e outro para Ben, que optaram por ignorar a salada e ir direto para um dos cachorros-quentes recém-grelhados.

Ben nunca se importava de comer alguma coisa saudável ou chique e sempre mergulhava de cabeça para os rolos e básicos hambúrgueres ou cachorro quente em vez dos bifes suculentos ou espetos.
Wuxian sorriu quando Wangji apertou sua coxa debaixo da mesa. O filho da puta sorrateiro sempre brincava com ele quando todos os caras estavam ao redor. Ele não podia esperar até que estivessem sozinhos hoje à noite na varanda de trás. Roubar beijos ou senti-lo, mantendo as coisas escondidas dos outros na casa, sempre cravou uma pitada de emoção nele.

Ben se aproximou da mesa para pegar a mostarda, acidentalmente derrubando seu cachorro quente sobrecarregado em Wangji. Ele descontroladamente moveu as mãos, gesticulando um pedido de desculpas.

— Está tudo bem. — Disse Wangji, pegando alguns guardanapos.
Wuxian olhou à sua esquerda.
Tempo e espaço congelaram em torno dele.
Tudo turvou.

Cada som parecia abafado e distante por milhares de metros de água, reverberando onde nada era distinto.
Seu coração batia em seus ouvidos. Ele entreabriu os lábios enquanto cada respiração vinha mais rápida. Pensou ter ouvido seu nome sendo chamado, mas ele não tinha certeza.

Tudo era um borrão nebuloso com exceção de um único ponto de foco: a mancha vermelha na camisa de Wangji.

Uma enxurrada de lembranças bateu-lhe de todas as direções e empurrou-o em seu pesadelo na velocidade da luz. O cheiro acobreado de sangue encheu seu nariz e o som dos ossos de Wangji quebrando perfurou seus ouvidos.

O grito violento de Wangji trovejou e ecoou em sua cabeça.
O desamparo e a dor o consumiam. Ele apertou os olhos e bateu as mãos sobre os ouvidos, tentando desesperadamente bloquear a memória vívida envenenando seus sentidos.
O corpo mole de Wangji.
O sangue.
As contusões.
Os sons. Cada barulho. Esse grito.

Wuxian foi transportado de volta para a versão de vinte e um anos de idade de si mesmo, segurando Wangji em seus braços, implorando por tudo que era sagrado neste mundo para tirar sua vida em troca da que ele segurava em seus braços.
— Wangji! — O grito rasgou a garganta de Wuxian até que sua voz quebrou. Ele abaixou a cabeça entre as pernas, tentando desesperadamente bloquear tudo para fora e aliviar a dor lancinante perfurando seu coração. Ele pensou ter ouvido o seu nome, o som tentando romper a escuridão sufocante.
Suas mãos foram presas e ele foi puxado na vertical, uma imagem de Wangji lentamente ficando nítida em sua visão. Aqueles olhos dourados, brilhantes e vivos.
— Olhe para mim.

— Pegue uma toalha. — Alguém gritou em voz abafada que ele mal reconheceu.
Ele engasgou cada respiração, implorando que a visão diante dele fosse real.

Wangji. Forte. Respirando.

Mãos quentes e familiares seguraram seu rosto. — Concentre-se em mim.

Wuxian apertou os olhos fechados, querendo que a sua mente cooperasse. Ele foi puxado para frente em uma parede magra de músculos, o som de um coração forte pulsando contra seu ouvido.
— Wuxian, eu estou bem. Eu estou aqui com você.

Ele agarrou a camisa na frente dele, ancorando-se a esta versão da realidade que era muito mais agradável do que o pesadelo que continuava tentando agarrá-lo de volta à escuridão.

Ele cronometrou sua respiração com a carícia rítmica dos dedos contra suas costas, uma inspiração para cada carícia para cima, e uma expiração igual com cada carícia para baixo.
Wuxian pressionou seu ouvido contra o batimento cardíaco forte, deixando o ritmo firme e saudável trazê-lo de volta para o aqui e agora. A toalha fria pressionada contra a parte de trás do seu pescoço o sacudiu de volta à realidade com uma velocidade impressionante. Ele soltou uma respiração calmante, hesitante em abrir os olhos e arriscar descer de volta para o pesadelo.

— Abra os olhos. — A voz familiar de Mingjue subiu com autoridade.

Os braços fortes estavam em volta dele, segurando-o perto e mantendo a toalha no lugar, enquanto lábios quentes pressionavam contra sua testa.

— Eu estou bem. — A voz sussurrada de Wangji quebrou através da neblina persistente em sua mente. — Estamos bem.

Ele abriu os olhos e, lentamente saiu do abraço, puxando a toalha longe da parte de trás do seu pescoço. Ele engoliu em seco enquanto inspecionava a sala. A cozinha estava muito bem iluminada, e o cheiro da comida na mesa encheu seu nariz. Ele abaixou a cabeça, constrangimento inundando-o com a preocupação evidente nesses cinco pares de olhos olhando-o.

— Diga-me que você está bem, Wuxian. Eu estou com fome e não vou tocar nesta comida até que eu saiba que você vai comer alguma coisa.

Ele espiou acima em Mingjue, sabendo que esta era à sua maneira de ter certeza que ele estava bem durante a tentativa de diminuir o seu desconforto.
— Eu estou bem. — Ele murmurou, sua voz rouca. Ele respirou fundo, na esperança de acalmar seu coração acelerado. — Eu poderia ir direto para os biscoitos de chocolate, embora.

A preocupação nos olhos de Mingjue diminuiu como se sentisse o sutil agradecimento na resposta de Wuxian.

— Você vai ter que passar por mim primeiro. — Disse Mingjue com um meio sorriso.

— Comam, rapazes. — Disse Yao, inclinando-se para frente e entregando a cada um dos rapazes um prato.

Wuxian jogou a toalha de um lado para o outro, agradecido que os donos da casa não estavam fazendo um grande negócio sobre seu anormal pequeno surto.

Wangji pegou a toalha de sua mão e dobrou-a, colocando-a sobre a mesa. Ele segurou o rosto de Wuxian, chamando sua atenção.
Ele não precisava dizer uma única palavra, a preocupação naqueles olhos dourados cortava direto para sua alma.

Ele olhou para a mancha vermelha na camisa de Wangji em seguida, olhou para cima novamente.
— Eu estou bem. — Ele sussurrou. — Eu prometo.

Wangji assentiu uma vez e virou na cadeira para frente, reconhecendo claramente que a última coisa que Wuxian queria naquele momento era se debruçar sobre o que tinha acontecido e agravar o constrangimento na frente dos outros.
Ben fez outro pedido de desculpas, que Wuxian aceitou com um sorriso fraco.
Wuxian respirou fundo, preparando-se.

Aquela noite havia mudado sua vida para sempre e o perseguiria até o último suspiro de vida. Ele olhou para a comida em seu prato, engolindo o nó na garganta. Ele poderia fazer isso.
Wangji alcançou debaixo da mesa para ele, tomando conta dele e colocando suas mãos entrelaçadas em sua coxa. Ele desajeitadamente comia com a mão esquerda, se recusando a liberar a mão de Wuxian.
Uma corrente lenta de paz se espalhou pelo corpo de Wuxian com o forte aterramento. Ele se inclinou e deu um beijo na bochecha de Wangji, não se importando com os outros sentados à mesa ou o olhar de Ben focado neles.

Ele endireitou-se na cadeira e pegou o garfo novamente, mantendo o aperto forte na mão de Wangji, precisando dessa conexão para mantê-lo aterrado.
Ele perfurou outra garfada de salada e voltou a comer seu jantar, sabendo que sempre encontraria uma maneira de atravessar qualquer coisa, contanto que Wangji se mantivesse estável ao seu lado.

(...)

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