Ano-Novo.

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Terça-feira, 31 de Dezembro.

É coração de Han Soo Hee.

Contemplo meu reflexo no espelho do banheiro e passo o dedo sobre a cicatriz, que ainda está vermelha e inflamada, embora eu já esteja usando o creme há sete meses e meio.

Sei que é o coração da Soo Hee. Não só por causa do tipo sanguineo ou da data da morte dela. Mas por causa dos sonhos.

Já faz meses e a dose de esteroides que estou tomando é quase nada em comparação ao que era antes. Mas os sonhos não apenas são mais vividos como estão mais longos e detalhados. Eu sinto mais. Vejo mais. Sonho que estou no bosque pelo menos duas vezes por semana, às vezes mais.

Vejo os tênis nos meus pés enquanto corro. Mas os pés não são meus. São tênis diferentes... e de um número maior. Na noite passada eu vi minha mão. Vi o que eu tinha na mão. Era um revólver.

Não vi o que aconteceu com a arma. O sonho acaba quando vejo uma luz e sinto dor na tempora direita. E sempre ouço a voz furiosa, embora não consiga distinguir as palavras. Minha intuição diz que não se trata da voz de Han Soo Hee. Isso me faz acreditar que ela não estava sozinha. E isso me leva a crer que talvez Ryujin tenha razão.

Talvez Han Soo Hee não tenha se matado.

Não sou tola. Li o jornal. Há muitas noticias sobre o suicídio de adolescentes. Eu sei que isso acontece. Também conheço outras pes- soas que acreditam que foi suicidio. Mas meu coração, o coração da Soo Hee, parece pensar outra coisa. Por mais bizarro que pareça, é como se ela estivesse me mostrando o que aconteceu nos últimos minutos da vida dela.

Eu realmente acredito nisso? Sim, acredito. E essa crença me assusta demais.

A única coisa que me assusta mais do que isso é pensar como vou contar a Ryujin. Como vou dizer a ela que estou com o coração de Han Soo Hee. Como vou perguntar se foi ela quem me beijou. Como vou saber se ele me odeia porque estou viva e Han Soo Hee está morta.

Ryujin acreditaria em mim se eu dissesse que uma parte de mim me odeia também por causa disso? Que saber que Han morreu e eu estou viva parece errado?

Mas nada disso importa. Eu ainda preciso contar a ela.

Ela está desesperado para provar que a irmã não atirou em si mesma. Eu sei porque leio as postagens dela no Twitter todos os dias. Não que ela saiba que sou eu. Inventei uma conta falsa no Twitter. Sou a Jenny Hamilton, de Dallas. Winter, uma maga dos computadores, me ajudou. Ela me perguntou por que eu simplesmente não pedia para ser amiga dela.

Eu contei a ela que Ryujin, ou talvez Soo Hee, veio me dar aula aquele dia. Ela ficou brava comigo por não ter contado antes, mas superou. O problema é que ainda não contei tudo a ela. Não contei sobre o beijo nem sobre os sonhos. Especialmente não contei sobre estar com o coração de Han Soo Hee. Ela vai achar que estou louca.

E se eu estiver mesmo?

Penteio o cabelo e decido deixá-lo solto. Deixo os fios castanhos caídos sobre os ombros. Então, passo uma maquiagem leve, mas qua- se não lembro como se faz isso.

Parecer uma garota de capa de revista não é uma prioridade quando se está morrendo.

Vestida e maquiada, paro em frente ao espelho. Estou pronta? Pronta para hoje à noite e pronta para o colégio, que começa em seis
dias? Não faço ideia.

Mas endireito os ombros, me encaro nos olhos e digo:

- Pronta ou não, aqui vou eu.

Vou para a festa de Ano-Novo na casa de Winter.

This Heart of Mine. - ryeji version.Onde histórias criam vida. Descubra agora