Eu não quero fazer isso!Lágrimas. Abraços. Beijos. Depois, a enfermeira me diz o que me aguarda quando eu acordar da cirurgia.
Se eu acordar.
Minha mãe segura minhas mãos. Aperta com força, mas não o suficiente para me acalmar.
- Você vai ficar com um tubo na garganta, assim como na outra cirurgia e continua a enfermeira do setor de transplantes. -Você lembra? - Como se eu pudesse esquecer o que é acordar engasgando, sem poder engolir, ou a dor no peito que tinha sido serrado ao meio. Ainda assim me forço a fazer uma expressão corajosa pelo bem dos meus pais. Percebo a dor no rosto deles. É pior do que a minha.
- Só mais alguns minutos. - A enfermeira começa a manobrar minha maca.
Eles estão prestes a me levar para a sala de cirurgia e a pitada de coragem que eu tinha se esvai. Engulo as lágrimas. Não acho que eu possa largar a mão da minha mãe.
Começo a tremer. Eu preciso dizer algumas coisas a meus pais. Coisas que andei adiando. Começo a falar rápido.
- Eu amo vocês e sei tudo que têm feito por mim. Nenhum dos sacrificios me passou despercebido. Se....
- Pare! - mamãe grita, as lágrimas escorrendo no rosto pálido. Seus olhos castanhos parecem grandes demais, com sofrimento demais. - Você vai ficar bem.
- Eu sei - minto. Meu pai também está com lágrimas nos olhos. Ótimo. Agora eu vou chorar.
- Precisamos ir - diz a enfermeira. Mas logo em seguida a anestesista entra na sala e se aproxima da maca. Ela já se apresentou. Sorri
para mim.- Pronta para começar vida nova?
Eu faço que sim, mas ainda não tenho certeza.
- Vou aplicar isso aqui em você para ajudá-la a relaxar - diz ela com uma voz reconfortante. Ela tem cabelos pretos arroxeados e olhos pretos. Ela me lembra... Ryujin.
A mulher enfia uma agulha no meu acesso venoso. Uma corrente fria e formigante corre pelo meu braço e sinto como se alguém es- tivesse estendendo um cobertor quentinho sobre mim. Meus medos flutuam para longe como vapor.
Mamãe me beija. Papai se inclina e sussurra:
- Eu te amo, boneca.
As palavras dele são a última coisa que ouço. E a última coisa que vejo é mamãe e papai olhando para mim enquanto me afasto na maca. Mamãe está chorando e limpando as mãos no jeans. Papai está sorrindo, mas
também tem lágrimas nos olhos.A última coisa que sinto é uma lágrima deslizando. A última coisa que penso é: Eu não quero morrer. Eu quero viver. Nem tanto por mim, mas por eles.
Dor. Dor Dor. Sinto como se alguém tivesse me serrado ao meio, mas, pensando bem, eles serraram mesmo. Quase dou as boas-vindas à dor, porque sei que isso significa que estou viva.
Mas fico no quase, porque dói pra caramba. E eu quero mesmo é que a dor vá embora.
Tento engolir. Não consigo. Engasgo. Lembro que é o tubo do oxigênio. Digo a mim mesma para não lutar contra isso. Para relaxar a garganta. Eles não vão tirá-lo até saber que consigo respirar sozinha Relaxe. Relaxe. Relaxe.
Uma voz profunda, distante, enche meus ouvidos. Não tenho cer teza se é alguém de fato distante ou só mentalmente distante. Mas acho que está com raiva. Não consigo entender o que está dizendo, Mas acabei de fazer uma cirurgia. Por que alguém estaria com raiva de mim?
Tento abrir os olhos. É muito dificil, minhas pálpebras parecem inchadas e pesadas.
Espero ver as paredes brancas da sala de recupera- ção, uma enfermeira pairando sobre mim. Espero ouvir o sinal sonoro dos monitores. Espero sentir no ar um cheiro amargo e adstringente.
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This Heart of Mine. - ryeji version.
Romansa{(de acordo com o livro "Eu e esse meu coração")} Hwang Yeji, de 17 anos, não tem coração. O que a mantém viva é um coração artificial que ela carrega dentro de uma mochila. Como seu tipo sanguíneo raro, um transplante se torna distante. De repente...