XII - Outra Noite Que Se Vai

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Em respeito ao atraso homérico, não teremos uma introdução longa.

Dedicado a Luana, minha poposa.

Dedico, ainda, a Liline. Feliz aniversário adiantado!

Bem vindas à Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil. Vai ser rápido.


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"Outra noite que você passa e finge que nem vê. Não esconde o teu rancor, quer tentar me enlouquecer...

Então me diz alguma coisa, bate aqui de madrugada, pra lembrar daquele tempo. Pra sempre, ou só por um momento, me dá um beijo na boca, e depois me leva pra tua casa."

— Outra Noite Que Se Vai, composição de Armandinho.


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O Rio de Janeiro continua lindo, continua sendo. De janeiros, fevereiros, marços... julhos. Benditos julhos.


Os voos da madrugada são sempre uma saída aos que pretendem aproveitar um dia de viagem completo, mas um voo da madrugada com crianças é simplesmente um tormento, tormento total. Os sonos regrados se desregulam, o mimo triplica, e a preocupação é agonizante. O tempo era fator besta, de certa forma; alçamos às 22h, chegávamos as 00h e bem, tínhamos um dia completo no Rio antes da viagem propriamente dita.


Eu ficava na janela, observando as luzes noturnas do Rio de Janeiro, e toda bossa das suas Quiet Nights of Quiet Stars, apaixonada pela vista, enquanto que Bárbara dormia acostada ao meu braço, como um anjo. Caetano assistia qualquer desenho na poltrona ao lado, enquanto que seu pai dormia, capotado.


O plano traçado para a qualidade de tempo foi ideal: Alexandre ficaria com os meninos na Praia do Forte enquanto organizava sua mala e suas outorgas à Esotérico, enquanto eu ficaria em casa, aprontando a mala dos meninos, e a minha, por fim.  A situação da gestão da NG nesse meio termo teria sido resolvida com meia dúzia de emails enviados a equipe de gestão, alguns telefonemas a Tibério e sessões de reuniões mistas com os outros integrantes do grupo deveriam sanar a falta física de ambos os encarregados por fazer a roda da bem-sucedida empresa familiar.


Isso tudo me manteria ocupada. Ocupada, ocupada demais para não pensar como ele está.


Viramos experts em praticar a falta de comunicação nos dois dias que seguiam nossa viagem. Evitamos as pautas polêmicas, estávamos amargados pelo gosto alérgico das palavras mal ditas, intoxicados pela sua intorpecência. A guarda aumentava, e a frequência dos meninos que antes ia muito bem, parecia ter percebido o declínio natural dos pais.


Ele me disse por alto que os dois estavam introspectivos na noite em que dormiram com o pai, e pude notar pela ligação da noite. Os desejos de boa noite pareciam mais ariscos, cansados. Voltando a formação original da família, na tarde desse mesmo dia, notei certo ânimo. A empolgação de ir "para a casa do Tio Gael", explicada pela décima vez consecutiva, foi suficiente para criar sorrisos menos desanimados. Mas essa era uma percepção minha, óbvio.


E creio que isso de sentido materno vale de alguma coisa. Mesmo que nenhum sentido meu tenha 100% de acuracidade, acho que esse beirava os 90 e poucos.


Bem, uma sequência de malcriações latentes na Praia do Forte, malas infindas arrumadas, e um mal humor crasso do mais velho, concluímos a peregrinação à Cidade Maravilhosa orquestrando nossa valsa de uma nota só: Dó, dó, dó. Uma sequência de sentimentos de dó e pena, é o que poderia nos abater.


DrãoOnde histórias criam vida. Descubra agora