Bonita quando você chora

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A cor vermelha domina essa sala que mais se parece um culto para o satanás, mas o satanás mesmo é essa jovem adulta com tendências sociopatas, Agatha Volkomenn.

A madeira range e ela anda de um lado para o outro, acendendo velas vermelhas, organizando as prateleiras com diversos espécimes de órgãos e partes de animais esquartejados.

Você esboça uma feição de nojo quando ela abre um vidro com uma cabeça de coelho dentro e a jovem percebe seu desgosto pela coisa, voltando sua atenção para você.

" O que foi? Você não gosta disso (seu nome)...? " Ela ergue-o achando graça da sua reação.

Você tenta a ignorar, ela se aproxima de você com aquela cabeça em mãos, segurando-a pelas orelhas, com uma feição maquiavélica.

" Se não gosta, porque continua olhando?" ela ri fraco.

É horripilante olhar para essa cabeça apodrecida, mas você sente que se desviar o olhar Agatha só vai chegar mais perto e te forçar a ver com ainda mais detalhes.

" Não gosto." você diz, se sentindo fraca para falar.

Tem muito tempo que você não come nada, mas também não sente fome, essa atmosfera pesada, a neblina ficando mais densa ao seu redor, o calor das velas que derretem a cada segundo que passa aqui, o cheiro que te dá asco, não te deixam nem pensar na possibilidade de ingerir alguma coisa, essa cabeça de coelho deixa seu estômago revirado mas não há o que vomitar.

Ela coloca aquela cabeça na sua frente, testando seus limites, o cheiro podre do corpo decomposto invade suas cavidades nasais, você vê uma larva saindo de onde deveria estar o olho daquele coelho, que foi arrancado.

Já basta, aquele era o seu limite, não dava mais para aguentar, outra gota cai na sua cabeça, você se sentia enjoada desde o momento que acordou aqui, seu corpo está fraco, ele tinha acabado de se estabilizar depois de uma hipotermia e faz horas desde a última vez que você se hidratou, tem pouca água para o funcionamento do seu organismo, sua cabeça dói, você chora mas nenhuma lágrima cai.

Esse é o seu limite.

Sua visão começa a escurecer de fora para dentro, a visão daquela sala infernal à sua volta começa a ser consumida pela escuridão, até que só a garota na sua frente é visível para seus olhos cansados.

E ela parece notar que você não está mais prestando atenção na "traquinagem" dela, e fica um pouco desapontada.

" O que foi?"

Agatha não recebe uma resposta da sua parte, já que você não é capaz de falar.

" Vai chorar só por causa disso?" Ela diz zombando da sua fragilidade.

A última coisa que você enxerga antes do seu pescoço despencar e sua visão apagar é a feição sarcástica dela, de quem não se importa nem um pouco com o fato de você ter apagado.

Mas você ainda não desmaiou completamente, ainda consegue ouvir a voz arranhada e caricata de Agatha.

" Agora vai fingir que tá desmaiada?" ela diz, num tom mais alto e ameaçador, como se estivesse pedindo pra você abrir os olhos, mas você não abre, porque mesmo se quisesse, não tem controle sobre seu corpo agora, apesar de ter consciência.

Ela sacode seus ombros, sua cabeça bate forte na cadeira e despenca de novo, seu corpo está todo mole como o de uma boneca de pano.

" Para de fingir que tá dormindo!" A jovem tenta abrir seus olhos à força, mas você não enxerga nada mesmo assim, só sente unhas afiadas que forçam suas pálpebras a ficarem abertas e seus olhos ardendo.

Sangue frioOnde histórias criam vida. Descubra agora