Capítulo 3: Conversas de bar

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Biron, 18 de abril de 1749
Faz dois dias que o Alessio tá estranho. Muuuuito estranho. Fica mais tempo trancado no quarto dele, revira mapas náuticos a cada dois segundos, e sempre tá com aquele olho arregalado olhando pro nada (o que significa que ele está pensando em algo importante).
Conheço ele como a palma da minha mão... A humana, pelo menos kkkk. Sempre fomos inseparáveis.

Na verdade, éramos um trio. Eu, ele, e uma menininha. Ela saiu do Batalhão com uns 10 ou 12 anos. Alessio quem mais sentiu falta dela. Afinal, eu era feito de cobaia pros dois, viviam tirando sarro da minha cara! Argh... Mas eu riu muito quando lembro disso.

Sou filho de um casal de mercenários ricos, que apoiou prontamente a causa do Batalhão Falcon. Eles ajudaram a financiar as armas revolucionárias do Capitão, e também recrutaram muitos homens. Hoje, eu trabalho como mercenário também, das causas ambientais. Sabe, quero ajudar a baía daqui, e eu sempre fui atraído pela dinâmica dos ecossistemas. É tudo tão interessante!
Mas a ação do ser humano me entristece. A exploração. Isso já está sendo predatório.

Bom, eu moro com o Alessio. Compramos uma casa juntos depois que o Batalhão se dissolveu... Até hoje eu não entendo como isso aconteceu. Eu tinha 18 anos. O Capitão tinha "morrido" recentemente, mas estava tudo bem. A notícia não repercutiu, apenas poucos familiares e amigos queridos souberam. Só lembro de acordar com o barulho estridente do alarme de incêndio e o de invasão juntos (uma combinação perfeita que até hoje estoura meus ouvidos, só de lembrar), e pessoas correndo pra lá e pra cá, desesperadas.
Enquanto estava me encaminhando para fora às pressas, vendo o estrago devastador que, o que quer que tenha sido, fez com nosso Batalhão, senti uma tristeza enorme.

Era nossa casa...
O Batalhão não era só um campo de treinamento ou uma casa de armas e estrategistas. Não era só um símbolo da derrota dos rebeldes no fim da guerra. Era nossa casa. Um lar nobre, do qual sempre vou me orgulhar. E a cicatriz no meu olho direito me lembra sempre disso. E algo mais também.

Fui ao barzinho da esquina. Ficava perto do porto, e não muito longe de casa. Estava uma noite linda, bem estrelada. Ótima pra navegar.
Me acomodei em uma mesa vazia, já fazendo meu pedido: uma cervejinha gelada. Trabalhar com projetos ambientais é cansativo tá? Não me julgue.

Estava no segundo copo quando Alessio chegou ao bar.
- O de sempre querida, leite gelado -disse ele à uma garçonete na entrada, vindo em direção à minha mesa;
- leite de novo? Quando vai voltar a tomar bebida de homem ein? - eu disse garagalhando, adotava tirar sarro da cara dele com isso;

- Você sabe muito bem porque Biron, não venha. Não posso me dar ao luxo de não estar sóbrio se algo acontecer -respondeu fechado, fingindo ofensa, mas rindo também;
- mas as revoltas pararam ultimamente;
- tudo pode acontecer meu amigo -disse ele, dando um gole no leite que tinha acabado de chegar à mesa;
- bota na conta desse loiro aqui -ele disse à garçonete;
- Ei! Seu tapado, eu não sou seu banco! -falei, irritado;
Ele só fez rir da minha cara. É isso que eu ganho com essa amizade? Conta pra pagar? Tá certo.

- tenho algo pra te contar - ele disse de repente, já na metade de seu copo;
- arroche - respondi, virando o copo enquanto conto os goles que me restavam da bebida. Um, dois, três...
- eu... Achei a filha do Capitão... Ela não mudou nada -disse ele, corando levemente, suspirando farceiro;

Estava bebendo o último gole da cerveja quando meu cérebro processou a notícia.
Quase cuspi o que tinha na boca.
QUÊ??

- ein?? Certeza que é ela?
- absoluta - respondeu com firmeza;
- mas ela não estava em Jixia? Não é tão rápido assim se formar nessa academia, tem gente que passa uma vida lá!

A Academia Jixia tinha aberto à mais ou menos 10 anos, e era muito famosa e renomada pelos seus mestres, e os prodígios de luta que a Academia formou. Boatos dizem que a filha do Capitão tinha ido pra lá, e pelo que sei, são necessários pelo menos 8 anos pra "se formar".
- não sei responder esse detalhe, mas tenho certeza que é ela. É a Lana. Ela tinha um porta-retrato da família do Capitão, um arsenal de armas em casa e, o mais crucial, ela acha que ele está morto e me deu a data exata do desasparecimento dele -disse-me, explicando os pontos;
- pelas barbas de Eliseu! É ela mesmo! -falei exasperado.

Era realmente ela! A suposta morte do Capitão foi noticiada oficialmente apenas para a família e íntimos, e só eu e Alessio sabemos a verdade.

- que mundo pequeno ein? Pensei que nunca mais ia vê-la;
- tava com saudade dela? -falei, com um sorrisinho de canto;
- e-eu mermo não! Ela tá linda, ma-mas arrogante do mesmo tanto, não consegue falar uma frase completa sem dar uma patada na minha cara! E quase me esfaqueou! -ele disse corando violentamente.

Explodi em gargalhadas altas com essa informação. É quase inacreditável conciliar a cara do Alessio agora e o fato dela ter dado patada nele! É cômico! Kkkk

- da pra para de rir da minha cara? O bar inteiro tá olhando pra gente agora. -disse, com uma bela cara de tédio;
- tá tá, tô parando... KKKKK;
-ah vai se catar mano! -disse Alessio, com uma cara mais cômica ainda.

- tá bom, parei. Eai, como vai o plano? Alguma informação nova? -perguntei, após me recuperar da crise de risos;
- algumas... Não faz muito sentido. O Capitão disse que iria proteger a cidade ao longe, mas não faz sentido. -falou apreensivo- andei fazendo viagens aos mares enevoados, e lá tá cheio de gente da Marinha;
- mas o que a Marinha está fazendo lá? É só um monte de mar e névoa!
- exatamente. Eu achei o navio com o qual ele zarpou, mas com certeza tinha sido saqueado.
- e o que você sugere? -perguntei interessado;
- ele deve ter sido sequestrado, capturado... E nós dois sabemos quem pode ter feito isso -me olhou, cúmplice;

É, eu sei quem poderia ser.

-A Milady -dissemos juntos.

Nota da autora:
Omg! Mas a Milady não estava morta? Huahahahahaha

Aquele obrigada especial para MelliaLi 💝
E obrigada por ler!

Amor em Navênia! (Honor of Kings)Onde histórias criam vida. Descubra agora