Capítulo 4: Reencontro

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Lana, 19 de abril de 1749
O mercenário Jacke me contratou para limpar o convés do navio dele hoje. Ele é um mercenário rico, que possui um navio particular. Ele tem alguns contatos poderosos, mas não é muito conhecido.
Já fui contratada por eles umas 3 vezes, mas não é um trabalho tão complicado, ele mal usa. Por enquanto, é meu único vislumbre do que é a vida no mar.

Faz 3 dias desde aquele dia na fonte, e minha perna ainda dói, mas não posso tirar férias. Afinal, não tenho salário fixo, e o serviço não vai se fazer sozinho. E eu já estava acamada à 2 dias, já deu pra recuperar. Nunca tive ferimentos tão profundos, mas já tive treinamentos intensos.

- balde, vassoura, esfregão... É, estou pronta -eu disse determinada, enquanto trancava a porta.

Estava me encaminhando para a doca do navio de Jacke, onde logo o avisto, junto a outros dois homens altos e jovens. Um loiro com um dos braços mecanizados e um moreno... Pera, é o cara esquisito da fonte? Fazia dias que não o via, e eu pensava nele com uma frequência beem... Constante. Não sei porquê.

Mas estranhei... Ele estava com um sobretudo vermelho, muito parecido com os antigos uniformes da Marinha, e segurava um canhão extremamente familiar...
Pera... Eu conheço essas peças...
Não.
Não, não, não, não.
Não pode ser.

Essas coisas são do meu pai! O canhão até tem o falcão!

... Como?...

Eu estava extremamente encabulada. Como?? Isso é quase inconcebível!
Iria me esconder em algum lugar, observar melhor e tentar convencer meus olhos que não é isso. Não podia ser. Não dava.
Me escondi atrás de uns barris, tentando não chamar atenção.

- certo Jacke, vamos dar uma olhadinha nas finanças. Quando vai ser? -o moreno perguntou;
- um mês no máximo Alessio! -respondeu o mercenário.

Alessio... Esse nome é...

Permaneci em meu esconderijo até os rapazes saírem, acho que eles tem a minha idade. Demorei um pouco e fui me encontrar com Jacke.
- ah! Aí está você Lana, obrigada por vir! Isso está imundo Kkk;
- sem problemas senhor, posso começar?;
- claro jovem! às ordens! -disse ele animado.

Provavelmente estava se preparando para uma viagem. O cara esquisito comhecia ele? Como nunca esbarrei com ele antes?
Comecei a limpeza, jogando água no convés. Estava de calça hoje, afinal eu estava no porto (vento e marinheiros, acho que não preciso dar detalhes), e uma blusa branca.

Passei o esfregão e estava secando o convés, quando vejo o tal moreno pelo canto do olho.
Ele estava passando do lado de fora do barco, e ainda não tinha me visto. Ele estava com o canhão apoiado no ombro. E foi aí que meu plano precoce entrou em cena.

Pulei do convés em direção à ele, caindo sobre suas costas largas. Minha perna doeu bastante, mas ignorei. O impacto da minha queda fez ele se desaquilibrar, ficando estatelado no chão comigo imobilizando seu braço esquerdo nas costas.
- ARGH! O que? Como... ARGH, SAÍ DE CIMA DE MIM!! -ele gritou raivoso.

Percebi que só ter imobilizado um braço foi um erro. Enorme.
Ele pegou o canhão pelo apoio, puxou o gatilho e, com uma força que só pode ter vindo do além, jogou o canhão para trás. Exatamente na minha barriga.
- EU VOU ATIRAR SE VOCÊ NÃO SAIR DE CIMA DE MIM OU NÃO DISSER QUEM É! -gritou, furioso;
- na-não atira! -saí de cima dele, eu não podia levar um tiro assim. Levantei as mãos em rendição.

-ah, é você -ele disse após me reconhecer, dando um sorriso;
- é, sou eu. Olá, canhoneiro esquisito -falei, provocante;
- bom dia, menina estatelada -ele retrucou, com um sorriso de canto.

Oi?

- licença, se isso faz referência ao dia da fonte, devo dizer que O NEGÓCIO EXPLODIU NAS MINHAS COSTAS! E EU NÃO SOU GATO PRA CAIR EM CIMA DAS 4 PATAS! -Falei exasperada;
Ele, que já não estava segurando o riso, explodiu em risadas. Eh, ele tem uma risada... Contagiante. Rsrs.

-ah, ia esquecendo, sua perna melhorou? Que eu saiba você não deveria estar trabalhando assim;
-relaxa cara, não foi muita coisa. Tá melhorando já -falei, despreocupada-E eu vivo de bicos, meu sustento não vai cair do céu;

-ah, eu queria te fazer umas perguntas;
- e aquele foi o jeito de me chamar pra isso? -perguntou ele, com aquele sorrisinho provocador;
- foi o mais conveniente rsrs;
- kkk, ok, o que quer saber? -instigou;

Saco rapidamente minha adaga do espartilho, apontando para a garganta dele.
- o que faz com as coisas do meu pai? Roubou-as do Capitão à quem essa cidade deve sua paz? É melhor tomar cuidado com o que faz, ladrãozinho -falei baixo, com os olhos e aura negros, do jeito assustador que sei fazer;

Vi o espanto e o brilho de seus olhos se esvair, entristecer...
- Você... realmente não me reconhece... Lana? -perguntou com voz melancólica, uma face de sofrimento;

-como assim reconhe...-

Flashback
"Buaaaaá, vamos pegar o Biron e pendura ele! -falou uma menininha raivosa e chorona, a boca lambuzada dos doces recém-roubados;
- vamo! Eu pego a corda! -disse um moreninho, animado, com uma vozinha fofa e divertida"

"Aleeeeeeeeê, vamo treinar... -disse a menina, entendiada;
- eu tô todo estripiado aqui por culpa sua tá?!? Nem vem -falou o menino, com cara emburrada"

"-tchau papai!;
"Tchau, minha falcãozinha -um homem alto respondeu à menina de 10 anos;
- é pavãozinha! Sabe que prefiro pavões!"

Fim do flashback

Foi a minha vez de perder o brilho.
O canhoneiro esquisito, o loiro com braço de máquina, o canhão...

Como eu não reconheci meus melhores amigos?...

- Alê?... -eu balbuziei, em choque, engolindo o choro que ameaçava vir;
- oi, Lana -disse sorrindo minimamente, de um modo sincero;
- a-aquele é...;
- sim, é o Biron. Continua o mesmo idiota kkk;

Caí em choro. Esses dois foram muito importantes pra mim, eram meus irmãos de outras mães. Viviam comigo,brincavam comigo, treinavam comigo... Como eu não tinha reconhecido eles?
Estava morta de vergonha. Eles estavam na mesma cidade, tão perto de mim, quando eu pensei que nunca mais os veria.

Quando dei por mim, estava envolta nos braços robustos do meu amigo de infância, num abraço reconfortante, reconcialiador.
- eu tava com saudade... Muita saudade -ele disse, aumentando o aperto quente de que eu previsava;
- eu também... Desculpa -falei, afundando o rosto em seu peito;
- tá tudo bem - e riu.

-oii, voltei Aless... Lana?!?!?! MEU DEUS MULHER COMO VOCÊ TÁ? -Biron se jogou naquele abraço coletivo, rindo como uma criança -Lana, você tá LINDA! Que deusa! Eai, como vai a vida? Tá morando com alguém? Sentiu saudade da gente? Ah, eu senti muita saudade de você! Mas o Alessio sentiu mais, seu nome não saia da boca dele quando você foi embora! -ele me bombardeava de perguntas entusiasmadas, eufóricas como ele;
- Bi-Biron! -repreendeu Alessio.

Não consegui responder nenhuma das perguntas de Biron, apenas abri meus braços, ainda chorosa. Fui levantada ao ar por ele, num novo abraço.

É tão bom essa sensação... A sensação de estar em casa de novo. De estar com aqueles que eu achava não poder ver mais...
É tão bom.

Notas da autora:
Oioioioiii, que capítulo lindo! Finalmente ela se tocou! Kkk
Quase chorei escrevendo, espero que goste! E obrigada MelliaLi! 💝

Amor em Navênia! (Honor of Kings)Onde histórias criam vida. Descubra agora