O primeiro dia

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Quase não havia dormido na noite anterior de tanta ansiedade. Hoje era meu primeiro dia de aula na faculdade, e eu estava extasiada num misto de emoções: felicidade, medo, apreensão, curiosidade... eu estava uma pilha.

Eu era uma garota de família humilde, e que sempre deu valor a todas as oportunidades que a vida me deu. Fui agraciada com pais maravilhosos, que sempre deram tudo de si para me dar tudo o que eu precisava, e que sempre me apoiaram. Além disso, também fui agraciada com saúde e inteligência, o que me ajudou a conseguir uma bolsa de estudos para o curso de medicina em uma das melhores faculdades de Liberio. Só a classe alta ia praquela faculdade, ou pessoas que, como eu, tinham conseguido uma bolsa. Elas eram muito concorridas, e pouquíssimas pessoas conseguiam. Eu fui uma delas.

Meus pais ficaram muito orgulhosos de mim pelos meus resultados no vestibular, mas meu pai não estava muito seguro com a ideia de eu estudar naquela faculdade. Meu pai, que era mais velho e vivido, sabia dos perigos da vida, coisa que eu não entendia nada.

- Filha, você tem que tomar cuidado. Não vou generalizar, mas muitos desses jovens não sabem o valor das coisas, e não ligam para nada disso porque sempre tiveram tudo de mão beijada. Eles podem achar que são superiores a você, filha, mas eles não são. Quero que tome cuidado com esse tipo de gente, pois eles podem usar da nossa condição social para te humilhar.

- Não se preocupe, pai, eu vou saber lidar com essas pessoas. Nunca tive vergonha de ser pobre, e não vai ser por causa deles que eu terei. - Respondi, enquanto tomávamos café da manhã à mesa, algo que era costume nosso.

- Não tenho medo que sinta vergonha, mas você mesma pode se sentir inferior, por estar num ambiente do qual você não convive, com pessoas das quais você não conhecem e que vivem num mundo extremamente diferente do nosso. Só quero que saiba que as pessoas importantes e que nos amam de verdade não se importam se somos ricos ou pobres. Elas nos amam independente disso.

Terminamos o café da manhã em paz, e logo houveram batidas na porta, que minha mãe se prontificou a atender. Era Armin, meu vizinho e amigo de infância, que junto de mim também havia conseguido uma bolsa na faculdade. Eu me senti feliz com isso, tanto por meu melhor amigo ter alcançado algo louvável, quanto pelo fato de que não ficaria sozinha em um ambiente e rotina totalmente novos.

Ele esperou que eu terminasse de arrumar minhas coisas. Peguei minha mochila, meu celular, me despedi dos meus pais e seguimos para a parada do ônibus.

- Cecília, eu achei que seu pai não iria deixar você ir pra essa faculdade... – Disse, enquanto caminhávamos.

- Ah, foi preciso muita conversa e choro pra ele permitir. Mas ele sabia que uma oportunidade dessas não apareceria duas vezes. Ele se preocupa muito comigo, você sabe. Mas o fato de você também ir ajudou muito!

- Nossa, tô tão feliz por termos conseguido passar... essa faculdade sempre foi meu sonho! E agora vai ser ainda melhor, porque estamos juntos!

- Sim, fiquei tão feliz em saber que você tinha conseguido a bolsa também... temos que nos gabar, somos os mais inteligentes entre todos os que concorreram a essas bolsas!

- É, mas agora temos que estudar mais do que nunca... Medicina não é nada fácil, e aqui é que eles pegam pesado, mesmo. Não é á toa que os melhores profissionais saem daqui.

- Vamos conseguir manter nosso rendimento, Armin, você vai ver.

Chegamos na faculdade uma hora antes do horário estipulado para o início da primeira aula, pois ainda não sabíamos qual seria nossa sala, e onde ela ficaria. A faculdade de ciências da saúde de Liberio era enorme, e parecia faculdade de filmes americanos de tão linda que era. Haviam muitas árvores, ruas, lojinhas de roupas, artigos de papelaria, restaurantes, vários blocos de outros cursos, laboratórios, um hospital universitário anexado a faculdade... era como uma mini cidade dentro do campus.

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