O caminho até em casa não foi nada fácil, aquele tempo no parque me fez bem, mas o maldito buraco no peito ainda estava lá.
Assim que entrei no condomínio vejo uma ambulância seguindo rapidamente a frente.Não vire a esquerda, não vire a esquerda .
A ambulância não só virou a esquerda como também parou abruptamente na frente da minha casa, rapidamente saíram dois socorristas com oxigênio, maca e urgência no andar.
Sentir minhas pernas tremerem, eu praticamente me joguei do carro.
Ao entrar em casa, dois socorristas estavam fazendo massagem cardíaca, eu nunca tive muita noção de primeiro socorros, mas não precisava ser um gênio, aquilo era grave.
- BAAAAAAA... o que aconteceu?? Meu deus, alguém me diga o que aconteceu?
- Mantenha distância senhorita, estamos fazendo tudo que esta ao nosso alcance.
Uma socorrista, me segurou antes que eu pudesse chegar perto dos três.
O desespero tomou conta de mim, eu ainda estava vivendo o mesmo pesadelo, me senti tonta, sem ar, por um momento achei que fosse vomitar.
Foram mais de 20 minutos, eles não conseguiam estabiliza- la para o transporte. Quando estavam prontos pra sair, Bá teve outra parada cardíaca.
Eu apenas chorava, soluçava e implorava mentalmente pra vida não fazer isso comigo, não de novo.
Eu não tinha ninguém para ligar, avisar, ou pedir ajuda, eu não fazia ideia do que fazer.
- senhorita, senhorita?
Um dos paramédicos precisou me chacoalhar os ombros para me trazer de volta a órbita.
-precisamos que assine aqui.
Na linha de baixo está escrito para qual hospital ela está sendo levada.- O que aconteceu? Ela vai ficar bem?
Eles passaram com a Bá na maca, muito pálida, com um cano na boca, e uma aparelho que não parava de alarmar.- Fomos chamados por vizinhos que a viram caida no Jardim, ela estava inconsciente, não sabemos precisar por quanto tempo ela estava em parada cardíaca. Perdemos ela por mais duas vezes, quadro dela é grave e temos grandes chances de perder a paciente antes de chegar ao hospital.
Meu ouvido parecia que ia explodir, eu iria vomitar, se não agora, em algum momento.
- Eu quero ir na ambulância.
Abriram espaço para eu me sentar do lado da Ba. Segurei sua mão.
- Ela tá tão fria! Porque ela tá tão gelada?
- A paciente está em choque cardiogenico, estamos colocando uma manta térmica. Assim que chegar no hospital ela ira para um aquecedor.
- Bá, porfavor fique aqui, eu preciso de você comigo. Sussurrei em seu ouvido.
Apesar da ambulância está em alta velocidade, o caminho até o hospital foi uma eternidade, os paramédicos passaram todo o trajeto em atendimento com a Bá, era notável o esforço que estavam fazendo.
Aquela mulher era forte, trabalhava para nossa família há mais de 30 anos, e nunca estivera doente, ao menos eu nunca vi. Cuidava de uma família que teóricamente não era sua, ela não tinha motivos algum pra ficar.
Já fazia anos que não era apenas trabalho, Bá cuidou de mim enquanto criança, e mesmo antes de minha mãe morrer, era o nome dela que eu chamava durante os pesadelos, foi com a Bá que eu aprendi a andar de bicicleta, patins, aprendi a pintar, aprendi o idioma do seu país natal. As vezes era perceptível o desconforto da minha mãe diante da conexão que tínhamos.