Experimento

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Os dias foram passando, e fui engolida pela rotina. Foi uma semana extremamente cansativa, era a primeira semana da Bia na escolinha, estava passando por adaptação, então precisava ir várias vezes a tarde até a escola quando ela tinha ataques de choro. Eu chegava, pegava no colo, conversava com ela e mandava de volta pra sala de aula. Algumas vezes ela ganhava a briga, e voltava comigo pra casa, outras eu ficava com o coração apertado, mas a obrigava voltar pra sala. Era semana de provas na faculdade, e todo esse negócio de adaptação havia me deixado exausta e relapsa com as minha aulas. Até que recebi a primeira nota de prova. Me desesperei e resolvi que eu precisava focar nas próximas provas. Depois da aula, voltei pra casa e levei a Bia pra escola, antes que ela começasse o drama eu chantagiei.

- Bia, a mana precisa muito estudar hoje a tarde. Fui muito mau em uma prova, se você ficar a aula toda sem chorar te compro um presente.

Bia mais que depressa enxugou uma pequena lágrima que tinha começado a cair, fungou o nariz e disse.

- Mas eu escolho.

- Ok, você escolhe .

- Eu posso escolher o que eu quiser?

Foi nesse momento que comecei a me arrepender. Estava comprando uma criança, uma criança muito esperta por sinal , e que sabia muito bem o seu preço.

- Se você não me chamar essa tarde ,negociamos melhor essa proposta.

Aquela menininha não era mais um bebê, enquanto olhava pela janela a correria dos coleguinhas, ela deu um pequeno sorriso malicioso, ela sabia exatamente o que ela queria. E algo me dizia que eu não ia gostar. O meu desespero era maior. Concordei com os termos que ela impôs, dei um beijinho e ela seguiu com a professora, dando pequenos pulinhos de satisfação. Pronto, consegui meu alvará, vou me afundar dentro daquela biblioteca.
Cheguei até minha mesa de estudo com uma pilha de livros, programei o despertador do celular pra não perder o horário de buscar a Bia. Não sei quantas horas se passaram mais já sentia minha pernas dormentes. Até que senti mãos cobrirem os meus olhos, e ouvi uma voz.

- Ainda prefere ficar quietinha ?

Era ela.

- Oi menina. Como vai?

Valentina me abraçou por trás , senti o seu rosto muito próximo do meu, o perfume dela me deixou sem reação alguma. Acho que só balbuciei algo do tipo:

- Bem. Tô bem.

- Estudando muito?
Perguntou ela jogando o cabelo para o lado. Espalhando ainda mais o perfume.

- Fui mau em uma prova,preciso compensar na próxima.

- Sabe que depois da festa pedi seu número para Mariá várias vezes, e nunca acertei o número, ou você nunca me respondeu.

Foi uma semana tão maluca que meu celular ficou dias descarregado, eu ia pra casa depois da faculdade e ficava do lado do telefone de casa, esperando a escola da Bia ligar.

- Ah ..é que tive uma semana bem corrida, meu celular ficou descarregado uns dias. Minha irmãzinha está na fase de adaptação na escola, E não tá sendo fácil.

- Hum... coitadinha dela, escola não é fácil, seja em qualquer fase da vida.

O celular da Valentina começou a tocar, ela pediu licença e tomou alguns passos de distância. A conversar não parecia amigável,ela estava irritada.

- Que droga.

- O que foi?posso ajudar?

- Deixei meu carro na oficina hoje, era pra ser só uma revisão, mas o mecânico achou alguns problemas e só vai me entregar amanhã. Você poderia chamar um Uber pra mim? Meu aplicativo está travado, pra ajudar.

Um Amor De Outras VidasOnde histórias criam vida. Descubra agora