Juliana

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Hoje fazem 3 anos que minha mãe morreu, 3 anos que eu carrego todo o peso que ainda não estava preparada. Minha mãe e o marido morreram em um acidente de carro, enquanto voltavam de um festa de aniversário, a única sobrevivente foi uma bebê, Bia, filha deles,minha irmã, minha eterna responsabilidade. Estávamos vivendo um momento terrível, minha orientação sexual tinha acabado de se tornar evidente para a família toda. Foi difícil para minha mãe aceitar minha condição, foram inúmeras brigas, dias que não gosto de lembrar, até que um dia durante uma briga ela chorou por ter me ofendido, chorou e me abraçou , disse que me amava ,e seu preconceito acabou ali. Naquela época eu estava completamente apaixonada por uma amiga, Duda. Juramos enfrentar o mundo,quando se tem 18 anos tudo é muito intenso,e tudo parece ser eterno. Nosso amor parecia real, pelo menos pra mim, mas Duda não teve a mesma sorte que eu,sua família nunca permitiria que vivêssemos o romance. Embarcaram Duda no primeiro vôo para o Canadá, ela não se impôs e eu quase morri. Me fechei, e jurei nunca mais acreditar nas baboseiras do coração. Sem mágoas, apenas sem querer tentar mais nada. Acredito que na verdade Duda não aceitou o fato de que eu precisava cuidar da minha irmã, minha mãe tinham morrido,a casa , o dinheiro,a criança, tudo era minha responsabilidade a partir daquela tragédia. Eu assumi o meu papel, tranquei a faculdade, parei com a bebedeira e fiz o que tinha que fazer. Quando os pais da Duda descobriram nossa história, levaram ela pra longe, e ela aceitou. Não me arrependo de nada, na verdade tudo isso me tornou mais forte e madura. Hoje enquanto embalo o sono da Bia sinto uma saudade enorme da minha mãe, elas são muito parecidas, até mesmo no modo de falar. Essa noite vou em uma festa,a primeira em alguns anos, uma amiga da faculdade me convidou, sim voltei para arquitetura, curso que tranquei há alguns anos, minha eterna paixão, estou super animada, como naquele ano, feliz por voltar a seguir a vontade da minha mãe. Porém antes de ir preciso fazer uma menininha teimosa dormir, mas ela insiste em tentar tirar meus brincos, e fazer caretas.

- Bia feche os olhos. Tá na hora de dormir. Mesmo com um tom ranzinza ela sorri.

- Não quero dormir agora. Estou sem sono mãe.

- Mas é hora de meninas da sua idade fechar os olhos e não me chame assim, já conversamos sobre isso. Sou sua mana. Agora fecha os olhinhos que eu faço carinho na cabeça.

E assim ela fez. Fechou os olhinhos e me abraçou, enquanto eu fazia carinho na cabeça, ela suspirou e finalmente pegou no sono. Não gosto que ela me chame de mãe, ela tem uma mãe, não esta aqui, mas eu acredito que em algum lugar ela está olhando por nós. Por isso sempre a corrijo, mesmo eu sendo a única mãe que ela conheceu.
Pronto, estou indo nessa tal festa, sem expectativa alguma, apenas querendo socializar, afinal sou a novata na turma de arquitetura.
Antes de sair eu aviso a Bá que estou saindo.

- Que horas você volta?

- Não sei Bá, mas não me espere. Pois é, ainda tenho uma babá. Depois que minha mãe morreu, Bá nunca mais foi embora. Hoje cuida de nós. Até parece minha mãe as vezes.

- Cuidado mocinha, qualquer coisa me liga. Se cuida.

_ ok Bá. Te amo.

Liguei o carro e segui. Nervosa, ansiosa, já pensando na hora de voltar pra casa.

Um Amor De Outras VidasOnde histórias criam vida. Descubra agora