2 ◈ PEDRO

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A vida é louca.

  Se, há cinco anos, alguém me dissesse que eu lançaria um livro meu, por uma grande editora, eu iria gargalhar na cara dessa pessoa porque eu considerava isso impossível. Claro, levando em consideração que a gente estar falando de ser um escritor no Brasil. Mas, mesmo duvidando que isso aconteceria, trabalhei muito.

  Foram quatro longos anos trabalhando como escritor independente até que um dos meus muitos lançamentos gritasse alto o bastante para que ressoasse pelo caótico mercado editorial e ser ouvido por uma das grandes do mercado.

  Foi meio de repente. Não me recordo bem o que estava fazendo, só sei que chegou um e-mail da dita cuja e, no segundo seguinte, eu estava surtando como um desvairado. Essa notícia chegou num momento difícil da minha vida. Meu irmão e sua esposa tinham morrido há poucos meses num acidente de carro e eu estava em meio a uma guerra judicial pela guarda do meu sobrinho, o filho deles, de quatro anos.

  Me sentia desgastado por conta dos trabalhos e das guerras psicológicas que estava travando — como um prelúdio para o que estava por vir, um relacionamento de quase três anos havia chegado ao fim. Eu me sentia como o Paul de Misery após cair nas garras da Annie, a enfermeira meio psicopata. A dor do coração partido deve ser equivalente a de ter seu pé amputado com o auxílio de um machadinho. Mas enfim…

  A proposta da editora funcionou como um combustível para que eu não perdesse as esperanças. Após aquele dia, como num passe de mágica — ou ação de um ser divino, o que eu duvido muito — as coisas melhoraram. Ganhei a guarda definitiva do meu sobrinho e, a chegada dele, ajudou a sarar as feridas do meu coração.

  Em compensação, o último ano foi corrido de uma forma muito boa. Passei a me dividir entre cuidar de Luan, levá-lo para a escola, fazer as mudanças necessárias no manuscrito e ser secretário do senhor Joaquim — esse último não é lá muito fácil, mas eu preciso tirar dinheiro de algum lugar.

  E agora estou aqui, me arrumando para o evento de lançamento do meu livro — isso mesmo, do MEU LIVRO. Não podia estar mais orgulhoso e emocionado. Tudo ainda parecia meio irreal.

  Estou terminando quando Luan entra no quarto já trajando a roupa que vai usar hoje.

  — Já tô pronto — ele diz, vindo até mim. Não consigo evitar sorri ao vê-lo naquele conjunto de calça e camisa social, o suspensório tira toda a minha maturidade. Ele está fofo, muito fofo.

  Vou até ele e o beijo na bochecha.

  — Você está lindo.

  — Obrigado, tio. O senhor também tá muito lindo.

  Meu sorriso se amplia e tenho que me segurar para não acabar chorando. Às vezes é péssimo ser tão emotivo.

  — Obrigado também.

  Me afasto para terminar de arrumar o cabelo e pegar meu óculos. Concluo com o perfume e saímos do quarto. Érica está na sala, digitando alguma coisa freneticamente no celular. Mas não demora para perceber nossa presença na sala.

  — Já estava quase cancelando o evento. Juro que nunca vou me acostumar com essa sua demora para se arrumar — ela diz, toda dramática.

  Érica é a minha parceira que conheci na faculdade, não sei o que seria de mim sem a amizade e o apoio dela. Não estou sendo hipérbolico ao dizer que eu já teria jogado tudo pro espaço e estaria vendendo arte na praia sem ela. Ela sempre será o Júnior da minha Sandy, a tampa da minha frigideira.

  — Não exagera, Érica. Eu nem demorei tanto assim e — verifiquei as horas no meu celular — ainda temos uma hora e meia para o evento começar.

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