3 ◈ JÚLIO

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Meu coração continua massacrando minha caixa torácica por todo o resto daquela noite.

  Me pego preso na leitura do livro de Pedro como nunca fiquei com nenhum outro antes dele. Minha surpresa foi grande quando notei que aquele livro podia ser sobre a gente, sobre nós dois. Como o trecho do capítulo cinco.

  “Se tornou rotina observá-lo de longe. Era como se ele fosse uma espécie de sol, se chegasse muito perto, acabaria sendo incinerado. Mas, então, por que eu desejava tanto tocá-lo e me perder em seu corpo? Não devia ser assim quando ele não dá nenhum sinal de reciprocidade, mas não consigo evitar — e nem tento.

  Minha respiração segue entrecortada. Tudo ainda parece um grande devaneio. Não é possível que tudo isso estar mesmo acontecendo. Há algumas horas tudo o que eu queria era deixar tudo para trás com a visita àquela livraria, mas me sinto grato por ter encontrado Pedro ali.

  Seus olhos cor de uísque continuam marcados na minha memória, a sonoridade doce de sua voz segue sendo a minha melodia favorita. É meio bugado me sentir como se ainda fôssemos dois adolescentes no ensino médio.

  A sensação é tão boa que quero continuar sentindo. É esse desejo que me faz fechar o livro e pegar meu celular, abandonando-o ao lado dos travesseiros. Salvo o contato de Pedro e abro o WhatsApp. A foto de perfil é linda, mas o garotinho que aparece me causa certa curiosidade. Será que… Me censuro mentalmente e digito.

  Oi! É o Júlio”. Apesar de já ser madrugada, espero que ele responda. Porque sei que escritores têm hábitos noturnos únicos e malucos. Não é difícil imaginá-lo sentado em frente a um computador escrevendo.

  Desejo com tanta intensidade que ele responde imediatamente.

  Oi, pensei que a essa hora você já estivesse dormindo.
[3:55 AM]

Costumo ter insônia. Mas e você?
[3:55 AM]

  Nesse horário costumo estar escrevendo, mesmo hoje não seria diferente.
[3:56 AM]

Imaginei…
[3:56 AM]

  A conversa segue. Leve e fluida. As horas passam e continuamos trocando mensagens. A noite já está se tornando dia e eu não sinto nenhum pouco de sono. Só quero continuar conversando e conversando e conversando e conversando.

  “Enfim… Acho que estar na minha hora. Tenho que organizar algumas coisas aqui.” Ele envia. Eu também preciso descansar antes de entrar em contato com meus acessores e advogados, aquela situação com os dirigentes do clube não pode continuar. Mas não quero que nossa canversa acabe aqui.

  O que acha de sairmos mais tarde?

◈◈◈

Marcamos para as sete e meia da noite.

  Não preciso falar que contei os segundos, total e completamente ansioso pelo encontro. Eu não sabia o que esperar, mas eu queria ter a oportunidade de contar tudo o que sentia, de dizer a ele que eu queria muito sair com ele, que nunca esqueci da medida de seu sorriso, o brilho do seu olhar e o cheiro de seu perfume.

  Às seis e meia, pouco antes de eu entrar no banho, ele mandou o endereço do local que escolhera para o encontro. Pesquisei no Google Maps e descobri que se tratava de um bar-karaokê. Não pude não ficar surpreso com a escolha, afinal esperava que ele fosse escolher algo como algum recital no municipal ou cinema. Mas gostei, tudo o que eu precisava era de uma noite agradável em um local simples.

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