EPÍLOGO ◈ JÚLIO

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quase cinco meses depois...

A mensagem de Pedro com o endereço de uma livraria faz acelerar meu coração. Será que… Meu Deus, devia ser. Logo abaixo, o horário: 19h30.

  Era perfeito. Por obra do destino, o time estava na cidade para um jogo importante — aquele que seria o meu último antes do encerramento do contrato. Já contava os dias para finalmente embarcar de volta para o Brasil — de volta para o meu amor.

  Os últimos meses não tinham sido fáceis. Em muitos dias quis abandonar tudo e voltar para Pedro, mas sabia que não podia. Aguentei toda a pressão, todas as entrevistas que tive que dá.

  Para minha surpresa, fui recebido bem pelos meus companheiros de time. Mas o mesmo não se podia dizer da torcida. O auge foi quando fui vaiado e chamado de viado por um coro de vozes que ainda ressoa em minha cabeça.

  Contudo, tal episódio só me deu mais forças para lutar pela minha causa, para ter um ambiente de trabalho digno. Porque não fazia sentido que minha orientação sexual fosse mais importante do que minhas habilidades.

  Mas tento não pensar muito sobre tudo isso enquanto me arrumo. Queria descobrir logo o que Pedro estava aprontando. E também estava sentindo uma saudade estupendamente absurda dele. Nesses quase cinco meses tínhamos nos encontrado apenas uma vez quando eu consegui uma folga e voei para encontrá-lo. Lembro de como Luan também amou a visita.

  Luan era maravilhoso e me ligava quase todas as noites antes de dormir. Nós já tínhamos uma relação muito boa e ele logo começou a me chamar de namorado do titio que também é meu titio. Eu amava aquele menino.

  Respiro fundo, vestindo o sobretudo por cima da calça de alfaiataria e camisa de gola alta, um conjunto Gucci que eu adorava, principalmente pelo tom pastel de verde da camisa.

  Um táxi me esperava em frente ao hotel, estacionado próximo ao meio fio. Enquanto o motorista serpenteia pelas ruas londrinas minha ansiedade cresce gradativamente. Estou contando os segundos, os minutos. Preciso tanto de Pedro fisicamente que meu corpo chega a doer.

  O motorista estaciona em frente a uma livraria de fachada preta no Chelsea. De repente, estou de volta a São Paulo decidido a pôr um fim em algo que eu não sabia que viria a se tornar a fonte da minha força. Quando piso nos ladrilhos retangulares vejo a pequena fila que se forma em direção à uma esquina. É nostalgia pura. Tanta que chego até a duvidar que seja mesmo real.

  Meus passos são firmes, tanto quanto podem ser. Sou guiado por puro instinto até dois seguranças e uma outra pessoa que espera por mim. Entro no prédio e o cheiro dos livros me preenche. É algo único e poderoso que não consigo descrever, pois é a primeira vez que me atento a ele.

  Não demora que meus olhos encontrem ele, o homem da minha vida. Sorrio genuíno e me apresso. Logo tenho-o em meus braços. Agora é o cheiro dele que me possui, forte e intenso e doce.

  — Oi, querido! — diz ele. Sua cabeça está em meu peito, ouvindo meu coração.

  — Oi, amor — digo. — Estava com tanta saudade.

  Meu aperto se torna mais forte e me sinto completo. Não há mais nenhuma parte minha faltando.

  — Também senti saudade. Não via a hora do lançamento chegar.

  — Você nem me falou nada.

  — Queria fazer uma surpresa.

  Ele me dá um selinho rápido e aprecio seu toque mesmo quando nossos corpos se separam.

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