5 ◈ JÚLIO

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Tudo estava perfeito demais. E isso me dá forças para a reunião com meu empresário, advogado e acessores. O local escolhido é uma cafeteria em um bairro de classe alta. O céu nublado do meio da tarde me recebe quando desço do carro. Estou sem ânimo nenhum, mas sei que não posso adiar mais — as duas semanas de afastamento do clube estão terminando.

  Isso me causa uma sensação incômoda no peito, porque não me imagino mais longe de Pedro — e de Luan, que já me conquistou com seu jeitinho. Sorrio lembrando dele na última ligação de vídeo que fizemos na noite de ontem, seu rostinho dividindo a tela com o do homem da minha vida.

  Respiro fundo, passando pela porta do estabelecimento. Os tons creme das paredes não me transmitem nenhum conforto, nem o cheiro de café.

  Mesmo sem ânimo algum, caminho até a mesa que está ocupada pelo pequeno grupo de pessoas que conheço bem.

  — Boa tarde! — digo, ocupando o assento vazio.

  — Boa tarde — respondem em uníssono.

  — Como você está? — pergunta Amália, a minha empresária. Ela está usando um terninho ciano que ganha um toque especial no tom marrom de sua pele. Os cabelos são uma bagunça bonita de cachos finos.

  — Estou bem. Obrigado por perguntar. — Uma pausa. — Então, o que vocês têm pra mim?

  — Nos reunimos com os diretores do clube — diz ela. — A conversa não foi das mais agradáveis, mas já tínhamos uma proposta pronta conforme aquilo que vínhamos conversando.

  — Como você sabe — continua o advogado —, seu contrato se encerra em dois anos e a multa de rescisão é bem gorda. Conversamos com alguns dirigentes de cubles brasileiros sobre seu desejo de voltar a atuar no futebol daqui. Tivemos algumas pré-propostas e baseamos a reunião nisso.

  — Em cinco meses abre a janela de transferências — agora é um membro da minha acessoria que diz. — Então afirmamos um acordo. Você continua jogando no Manchester durante esse período até que a janela chegue. Eles farão um pedido de desculpas oficial e estão dispostos a tomar medidas mais drásticas caso as ocorrências continuem. O que acha?

  Estou surpreso. Depois do afastamento eu esperava coisas piores vindo da diretoria, mas estou satisfeito com esse resultado.

  — Esperava coisas piores e sei que sem o apoio de vocês elas teriam acontecido. Estou grato por isso — digo, sincero. — E as propostas?

  Doutor Bernardo — meu advogado — me entrega cinco pastas marrons.

  — Tomei a liberdade de selecionar as melhores — diz ele. — Agora é só você escolher.

◈◈◈

E agora?

  Esses dias foram como um conto de fadas, mas parece que sem a parte do “felizes para sempre”.

  Sempre estive ciente de que, em algum momento, eu teria que voltar para a Europa. Porém isso não me impediu de me jogar de cabeça na paixão que sinto por Pedro.

  É por causa dela que agora não faço ideia de como serão as coisas, embora eu tenha convicção de que não quero me afastar dele outra vez e de que estou disposto a tudo por ele.

  É isso que me leva ao apartamento dele no início da noite. Converso com o porteiro e ele interfona para o apartamento de Pedro. Minha subida é autorizada. O tempo que o elevador leva para chegar ao sexto andar nunca me pareceu tão torturante e longo.

  Agradeço ao bip que antecede à abertura da porta da geringonça. Caminho pelo corredor e bato na porta. Ela é aberta quase imediatamente e meu coração acelera quando meus olhos encontram Pedro vestindo um conjunto de moletom azul claro com o desenho de um cachimbo na altura do peito.

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