6 ◈ PEDRO

22 6 0
                                    

A vida é repleta de “finais”.

  São ciclos que duram pouco e outros que duram mais. Mas tudo tem um fim. Assim como todas as histórias já escritas. O que seria de nós sem a certeza de que tudo passa?

  Mas há uma coisa sobre os “fim” que precisa ser dita: eles podem ser muito dolorosos.

  Penso sobre isso ao acordar no sábado. Hoje era o fim daquela parte da nossa história — e devo confessar que eu não vejo a hora do salto para o momento exato onde nos reencontrarem os, se eu fosse o escritor era agora que pularia para o epílogo. Sinto um aperto no peito só de imaginar que nossos encontros não serão mais tão frequentes. Estou tão dependente dos toques dele como meus pulmões dependem de oxigênio.

  Demoro minutos inteiros para conseguir me levantar e tomar um banho frio. Ao abrir a cortina, o céu cinza — repleto de nuvens espessas — atrai minha visão. É um daqueles dias de primavera que mais parece de inverno.

  São oito horas quando Luan levanta e levo-lhe para o banho. Em seguida tomamos o café da manhã. A hora seguinte se passa conosco na sala de estar — eu autografando cem exemplares de livros para sorteios e Luan colorindo seu livro favorito; uma edição especial de um livro infantil protagonizado por um casal de garotos queer. Até que meu celular toca, quando estou arrumando os livros de volta nas quatro caixas.

  A primeira pessoa que me vem à cabeça é Júlio, mas é o meu editor.

  — Oi, Pedro. Tudo bem? — diz ele, assim que atendo.

  — Oi, Samuca. Tudo sim. E com você?

  — Tudo ótimo! Tenho novidades.

  Meu coração acelera. Essas “novidades” podem ser qualquer coisa. E com “qualquer” quero dizer “qualquer” mesmo.

  — Não me faça ficar ansioso — digo.

  — Calma. É coisa boa.

  — Então diga, se não vou desmaiar aqui.

  Ele ri.

  — Lá vai. E é bom que você esteja sentado. — Uma pausa dramática. — Tenho duas notícias maravilhosas. A primeira… — Outra pausa.

  — Samuel… — imploro.

  — As vendas do livro não param de subir.

  — Isso é ótimo!

  — Sim, é mesmo. Os números superaram em muito o esperado depois daquela pré-venda maravilhosa. A primeira edição já está esgotada. — Ele fez outra pausa. — E a editora já confirmou a segunda e terceira edição.

  — Cara…mba! Como assim? — questiono, incrédulo.

  E era inacreditável mesmo, porque não tinha nem um mês que o livro tinha sido lançado. E Eu não era nenhum Stephen King ou a Colleen Hoover. Por isso era muito inacreditável.

  — Aparentemente os leitores amaram o Nicholas. Mas essa nem é a melhor notícia.

  Se meu coração estava acelerado, agora parecia que ele era um corredor da prova dos 100 metros livres.

  — O que pode ser melhor que isso? Por acaso o livro está na lista dos mais vendidos do New York Times?

  — Infelizmente ainda não. Mas é tão bom quanto. Uma editora inglesa demonstrou interesse em comprar os direitos do livro para publicá-lo por lá.

  Fui ao chão. Ou eu já estava no chão. Não sei. Só sei que meu corpo virou gelatina. Eu estava sonhando, só podia ser.

  — Não… — sussurrei.

DIGA QUE TAMBÉM ME AMAOnde histórias criam vida. Descubra agora