I02I - Assustada

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Estou assustada.

Porque nunca me senti tão impotente com o fato de ser apenas uma humana.

Não tenho magia, garras, presas ou sentidos aguçados. 

Estou fraca, tão fraca que não reconheço quem já fui, quem precisei ser e quem sou. Se ela ainda estivesse comigo, seria diferente? 

Balanço a cabeça tentando afastar os pensamentos e o medo. Ergo o rosto e vejo com alívio a comitiva passar intacta pelo portão principal do castelo.

Elikham a lidera. Graças aos soldados que treinou pessoalmente na Cidade do Norte, Serestia, o coração do território Lican, não apenas se mantém de pé, mas também é a principal força de oposição contra aqueles que iniciaram a quebra do Tratado.

Desempenho meu papel como assistente e porta voz do Lukoi e após anunciar um banquete para os soldados como recompensa pelos seus esforços, acompanho Elikham em silêncio pelos salões e corredores em direção a sala pessoal de Edmon.

- Como tem passado? - Pergunta, quebrando o silêncio.

Faziam três meses que ele havia deixado seu domínio na Cidade do Norte para formar e treinar um exercito na fronteira da Cidade do Sul, e dez meses que eu havia deixado a Fortaleza do Norte sem nunca retornar.

- Melhor do que você, suponho. - Respondo. 

- Então porque cheira a remédios?

Direto ao ponto, solto a respiração e ergo o rosto para olhá-lo. Não sou uma mulher baixa, mas Elikham é alto, com cabelos de um loiro escuro, olhos verdes e lábios incrivelmente finos que podem formar uma linha perfeita quando está descontente. E bem, ele está descontente, sei disso desde que o vi entrar com a comitiva.

- Cai enquanto cavalgava. - Minto, mesmo sabendo que ele pode ler a mentira facilmente, e assim ele faz suspirando pesadamente quando se abaixa e apoia um dos joelhos no chão. 

Sua atitude me pega totalmente desprevenida e eu permaneço imóvel quando ele segura a barra do meu vestido e o puxa para cima na altura do joelho, revelando os ferimentos cobertos por uma leve camada de antissépticos. 

Raladuras e lesões de quando caí, após ser jogada pelas sombras de Eksean, elas se estendiam em todos os pontos de apoio que eu podia buscar para amortecer as quedas, como em meus cotovelos e calcanhares. 

- Pode não fazer isso? - Digo, quando o vejo molhar o polegar com a intenção de me curar. - É desconfortável. 

Sem esperar por sua resposta, dou um passo para longe, me afastando. Elikham nunca me tocara voluntariamente e a ideia de que ele pudesse passar a fazer isso repentinamente, sem que eu pudesse oferecer resistência caso quisesse, era assustadora.

- Eu prometi servi-la com a minha vida, sei que não pretende retornar ao norte e que não gosta de mim, mas... - Ele começa, a voz baixa e sem expressão, tal como de quando o conheci e tolamente o apelidei de Indiferença. 

Mordo meu lábio inferior, engolindo minha idiotice. Elikham não me machucaria e a indiferença estava tão longe de integra-lo como a benevolência estava de mim. Ele salvou minha vida quando lutamos contra o antigo Mestre da Cidade do Norte e eu o salvei de ser executado pelo antigo Lukoi, não devíamos nada um para o outro. 

- Estou bem, Elikham, isso não é nada. Não se sinta obrigado a cuidar de mim, já fizeram o suficiente. - Digo, após interrompe-lo. 

Afinal, ele e Edmon haviam tido muito trabalho para esconder minha existência, sangue foi derramado, e pessoas foram silenciadas por minha causa, a fim de encobrir que a poderosa descendente Liones era agora uma humana sem valor.

Sombrio - Vermelho vol.2 [HIATO]Onde histórias criam vida. Descubra agora