I07I - Armadilha

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Posso sentir o balançar de uma carruagem antes de abrir meus olhos e ver o seu teto. Luz diurna se infiltra pelas cortinas que cobrem as janelas. 

Elikham que esta sentado a minha frente se move, erguendo uma mão em minha direção, como se estivesse pronto para me ajudar caso eu desmoronasse novamente. 

Sem relutar dou um tapa em sua mão, o repelindo imediatamente. A capa cinza que cobre meu corpo desliza se amontoado em meus pés. 

Por o que parece ser um minuto inteiro apenas nos encaramos. 

- Não me atrevo a cogitar o que está pensando no momento e não vou pedir seu perdão, apenas quero que saiba que meu único desejo é mantê-la segura. - Diz, apanhando sua capa, baixando seu olhar primeiro.

- Isso é algo impossível. Quão longe estamos de Serestia? - Pergunto, espiando às janelas. Os soldados leais a Elikham estavam enfileirados cavalgando em torno da carruagem.

- Chegaremos na Cidade do Norte em três dias, pode odiar a mim e aquele lugar, mas...

Suspiro, sentindo minha cabeça doer. É minha culpa que pense assim.

- Eu deveria tê-lo corrigido da primeira vez que falou isso. Não odeio você, Elikham. Estou decepcionada agora e irritada, mas ainda não odeio você. Meu ódio é algo que não pode ser esquecido, então espero que nunca me dê motivos para odiá-lo.

- Não irei. 

Sua afirmação é como uma continua promessa. 

- Meu pai deve tê-lo convencido de que eu não estava segura em Serestia.  

- Eu não teria acreditado nas palavras dele, se Edmon não tivesse continuado tão irresponsável. Sem nenhuma escolta ao seu redor você poderia ser morta a qualquer momento. - Justificou-se.

Posso ver através da sua face seria que ele realmente acredita nisso, que de alguma forma está apenas agindo para me proteger, o que é mais que qualquer um possa ter feito, mas não posso ignorar às consequências de seu ato, como a repercussão que isso teria para Edmon.

- Não sou tão fraca, Elikham. - Tenho o atrevimento de dizer.

- Você está coberta por machucados, e sem o seu poder você é apenas uma humana. Por que não me deixa protege-la? - Insiste, apesar de não levantar sua voz, de nenhum músculo se contrair perto do seu pescoço ou seus dedos se fecharem em punhos, posso sentir sua raiva, seu poder como Mestre Lican escorrendo.

É a primeira vez que o sinto. O poder mágico que apenas os Licans mais fortes possuem, que os tornam dignos de serem chamados de Mestres Lican.

Agulhas em minha nuca, um peso aterrador em meus ombros, com uma presença ameaçadora ou a projeção de seu lobo, não é nenhuma dessas formas que o poder de Elikham se manifesta. É simplesmente sútil, como folhas sendo carregadas ao vento.

Ele está se controlando muito bem.

- Não posso me apropriar da sua lealdade. É a Edmon quem você deve proteger. Disse que tomaria os desafios dele, se houvessem no banquete, mas invés disso ordenou que o mantivessem no salão do trono evitando a cerimonia. Sabe porque desmaiei?

Ele balança a cabeça.

- Acredito que tenham me drogado com algo, August deve ter orquestrado isso para que me tirasse do castelo.

- Está dizendo que... - Ele para, dando-se conta da verdade.

- Você foi enganado por aquele homem, estamos indo para uma armadilha. 

Estar em uma carruagem me faz sentir alguma familiaridade com algo que já aconteceu a muito tempo. Mas ao contrário da forma que Raymond agia, como se tivesse o mundo sobre seu controle, Elikham e eu não sabemos o que nos espera. 

Sombrio - Vermelho vol.2 [HIATO]Onde histórias criam vida. Descubra agora