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Assim que os empregados apagaram a última candeia do corredor, Jasmine aproximou-se da porta. O escuro não a incomodava, já havia se esgueirado tantas vezes pelos corredores do palácio que conhecia a planta do lugar como a palma de sua mão. Silenciosa, caminhou alguns passos quando sentiu algo peludo encostar em sua coxa direita.
— Rajah! — Sussurrou vendo o tigre caminhando sorrateiramente ao seu lado. — Dessa vez não, meu amigo. — O tigre grunhiu desapontado e se virou caminhando de volta para o quarto da princesa. — Desculpe.
O harém estava quieto, não havia sequer um empregado por ali, o que tranquilizou Jasmine que conseguiu chegar nos portões da ala sem maiores problemas. Do outro lado do portão de ouro, avistou a figura alta e robusta de Daren e de outro eunuco ao seu lado. Com muito cuidado, Jasmine tirou um pouco de pó de dentro da bolsa que carregava em sua cintura, se aproximou do outro eunuco e soprou.
— Yanam! (durma) — O eunuco respirou o pó e imediatamente fechou os olhos caindo no sono, não sem antes ser amparado por Daren.
— Não importa quantas vezes eu veja isso, ainda me espanto. — Daren falou com a voz extremamente grave.
— O que me espanta é você ser imune a isso, Daren. — A princesa retrucou fazendo-o sorrir.
— Cuide-se, amira. Volte inteira como sempre . — Ele pediu com os olhos gentis e recebeu um beijo no rosto antes de ver Jasmine sair furtivamente pelo palácio.
Jasmine ultrapassou os muros do palácio e saltou por cima das casas com maestria, sentindo o vento frio da noite em sua pele.
Se pudesse listar as melhores sensações da vida, essa estaria em primeiro lugar. Nada de etiqueta, conselho real, casamento forçado ou sultanato. Apenas Jasmine, o deserto e a noite.
Aquela não era a primeira vez que fazia isso, a princesa não escondia a antipatia que nutria pelo vizir. O homem sempre a olhou de um jeito que a deixava extremamente desconfortável. Ainda não sabia exatamente o que ele estava tramando, mas entendia há tempos que nada de bom poderia vir da mente daquele homem nefasto. Principalmente com essa ideia de casamento. E, enquanto não descobria o que realmente Ja'Far tinha em mente, Jasmine se divertia frustrando seus planos de extorquir os tesouros do reino.
Parou acima do complexo comercial da capital, já não havia pessoas transitando pelas ruas a essa hora e as lâmpadas estavam todas apagadas. Enquanto a cidade dormia, Ja'Far e seus homens agiam nas sombras colhendo os valores dos quais o sultão não tinha conhecimento. E não havia como Jasmine contar a seu pai sem ter que explicar como havia conseguido tais informações.
Jasmine encostou no canto da parede e se agachou, o turbante cobria seu rosto, deixando apenas os olhos à mostra. Ela olhou para baixo e observou os conhecidos soldados do vizir atravessando as ruas em silêncio com um grande carregamento de ouro. Ja'Far aumentava cada vez mais as taxas de impostos sobre os comerciantes sobre vários pretextos. Alguns corajosamente contestavam, mas a maioria era duramente reprimida pelos covardes soldados do exército particular do vizir que não perdiam uma oportunidade sequer de abusar de seu poder.
A princesa estava prestes a posicionar seu arco quando sentiu um toque em seu ombro. Em reflexo, segurou a mão do desconhecido e a torceu com força e rapidez, puxando com a outra mão a faca-lua apontada direto para o pescoço de seu oponente.
— Amin? — Arregalou os olhos vendo seu amigo com a expressão sôfrega pelo aperto em seu braço.
— Sou eu, amira. — Jasmine soltou seu braço e abaixou a faca guardando-a na cintura dando-lhe um tapa na nuca.
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A flecha do deserto
Fantasy(+12)Jasmine é a princesa do reino de Agrabah. Filha única do sultão Murad, um homem bondoso porém fraco, vive sua vida pacata e cheia de regras no palácio. Porém, quando todos estão dormindo, ela é Sahm Alsahra', a flecha do deserto, uma ladra que...