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🩷 Lívia 🩵

16 de Setembro de 2023
Morro do Boi, Itaim Paulista
Zona Leste, São Paulo.

O Thiago simplesmente odiou quando soube que a nossa escolha de local para o chá do neném foi a casa do meu pai. Mas nem tinha o que fazer. Minha mãe não podia ficar colocando a cara pra fora do morro, então optamos por fazer dessa forma.

Vovó Luciana não estava mais ficando na casa do Vovô Jacaré, porque estavam em pé de guerra mais uma vez. Ela tinha continuado no morro dele, mas em outra casa.

Quando o dia amanheceu, eu nem perdi tempo e fui para o local, junto com a Beatriz, para acompanhar toda a equipe de montagem da festa, porque a ansiedade não me permitiu descansar nem um segundo.

Parecia que o meu coração ia sair pela boca.

O meu namorado ficou em casa. Ele tinha que resolver uns negócios da obra que começaríamos a fazer para o quarto do neném, com o pedreiro. A Dandara também não tinha vindo ainda. Fora isso, todos os outros já estavam rodando o pátio da casa sem parar, enquanto a equipe montava os últimos detalhes da decoração e eu largava tudo que estava fazendo a cada um minuto para ir na janela espiar o andar de baixo.

Mayara: Esse vestido ficou maravilhoso.

Nós duas estávamos trancadas no banheiro. Enquanto eu ajeitava a minha lente, a minha irmã terminava de arrumar uns cachos no meu cabelo.

Lívia: Gostou? - perguntei, passando a mão pelo tecido branco.

Minha irmã concordou sorrindo, esticando a mão para colocar na minha barriga.

Mayara: É a primeira roupa que eu te vejo usando, que já marca a barriguinha.

Eu assenti, sem esconder o sorriso. O vestido, apesar de soltinho, marcava um pouco.

Lívia: Eu que lute pra tirar esse neném daqui de dentro - choraminguei - Não quero nem pensar num negócio desses. Acho que vou morrer.

Mayara: Credo, Lívia - reclamou - Quanto drama.

Lívia: Drama? Vai achando - me olhei no espelho - É uma criança dentro de você, vou fazer como pra tirar?

Mayara: Deixou entrar, né querida?! - debochou - Agora tira.

Ignorei completamente a fala dela, sentindo todo o nervosismo voltar com força. O parto era algo que eu não gostava nem de pensar. O foco agora, era saber se seria Cecília ou Jorge.

Soltei uma risadinha nervosa, apoiando as duas mãos na pia do banheiro. A May encarou o meu reflexo no espelho e devolveu o sorriso. Eu já nem sabia dizer quem estava mais ansioso naquela casa.

Quando ela terminou de arrumar o meu cabelo, nós saímos do banheiro e fui diretamente para o quarto onde antigamente eu dividia com a minha irmã. A Beatriz e a minha mãe estavam se arrumando também, e pararam pra me olhar.

Luciana: Ai, meu coração - passei a mão no meu vestido mais uma vez, fazendo charme pra minha mãe. Ela colocou as mãos na frente da boca - Que vestido perfeito.

Lívia: Doce & Gabana.

Vi o sorriso da Beatriz se desmanchando, em uma careta engraçada.

Eu tinha vendido uma bolsa pra comprar aquele vestido, mas valeu cada centavo.

Não ia ficar mal vestida no chá do meu neném.

Luciana: Impecável.

Mayara: Thiago vai usar branco também, Lív?

Bufei. Não queria nem lembrar disso.

Lívia: Eu pedi muito pra ele usar branco. Ele não deixou eu ver a roupa dele.

Beatriz: Conta direito. Ele não deixou tu ver a roupa dele, porque tu não deixou ele ver a tua - ela falou rindo.

Me sentei na cama, colocando as minhas jóias.

Lívia: A diferença é que eu confio cegamente no meu gosto. Mas não confio nadinha no do seu irmão. E com certeza, quem vai vestir o bebê sou eu.

Antes que elas pudessem me responder, o meu pai apareceu na porta do quarto, dando duas batidinhas na madeira.

Jacaré: Posso entrar?

Concordei com a cabeça, sentindo o frio na minha espinha.

Ele até entrou, mas ficou parado no mesmo lugar. Tinha uma caixa preta em sua mão.

Mayara: A gente se encontra lá embaixo - ela sussurrou.

Beatriz: Isso.

As duas saíram do quarto tão rápido que eu nem consegui acompanhar.

Encarei a minha mãe, que não conseguiu devolver o olhar, porque estava ocupada demais secando as lágrimas que caíram de seus olhos.

Senti o choro travando na garganta, na mesma hora.

Lívia: Vocês não podem me fazer chorar hoje.

Meu pai pigarreou e esticou a caixa na minha direção.

Nem ele, nem ela e nem eu falamos nada. Eu só respirei bem fundo antes de pegar a caixinha e me sentar na cama mais uma vez. Dentro dela, havia um colar dourado, com um pingente de ursinho.

Era muito lindo e fofo.

Não consegui controlar quando meus olhos se encheram de agua, e eu olhei para os dois.

Luciana: É pra simbolizar essa nova fase da tua vida, filha. Para simbolizar também essa nova vida que veio para completar a nossa - me levantei, e me aproximei da minha mãe, antes de conseguir abraçá-la - Nós amamos muito você, e esse bebê, e sempre vamos estar aqui.

Tentei sussurrar um "obrigada", mas nem isso consegui.

Minha mãe se afastou um pouco de mim, pra passar as mãos na frente do meu rosto e secar as lágrimas que eu tinha derrubado. Quando ela fez, eu vi que em seu dedo tinha um anel, com um mini pingente de urso pendurado também... do mesmo jeitinho que no meu colar. Eu puxei a mão dela, pra ver melhor.

Lívia: É muito lindo - foi a única coisa que eu consegui dizer.

Meu pai chegou pertinho de nós, e só quando ele tirou a caixa da minha mão, eu reparei que ele também tinha um anel, bem mais grosso do que o da minha mãe, mas também com o rosto de um ursinho.

Enquanto o meu colar era um urso todinho, os anéis deles eram só o rostinho dele.

Eu sempre tive uma sorte infinita de ter aqueles dois na minha vida... mas nem se comparava com a sorte, com a atenção e com o amor que o primeiro neto ia ter.

Jacaré: Tu vai ser mãe - ele falou, quando eu virei de costas pra que colocasse o colar no meu pescoço - Tu vai ser uma mãe foda. Mas não esquece que nós vai ficar sempre aqui pra tu. Antes de tu ser mãe, tu vai ser sempre a nossa filha, tá ligada, né?

Ele terminou de prender o colar ao redor do meu pescoço, e eu puxei os dois pra um abraço, de uma vez só.

Era muito raro os momentos fofos em que os dois não ficavam se matando a cada três palavras ditas.

Lívia: Eu amo muito vocês - sussurrei, sendo sufocada no meio do abraço deles - Obrigada por tudo.

Não demorou nem mesmo meio minuto, para o meu pai falar que tinha escolhido o colar, e a minha mãe falar que ele queria outro modelo. Eles começaram a discutir e voltou a ser a loucura que sempre era, enquanto eu terminava de me arrumar.

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