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Lívia

29 de Abril de 2023
Guarujá
Baixada Santista, São Paulo

Depois da minha discussão com a minha mãe, eu até tentei ficar bem com ela. Mas não deu muito certo. Me sentia extremamente arrependida, porque via o quanto ela estava magoada comigo.

Nos últimos dias me senti constrangida, humilhada e verdadeiramente mal. Como se tudo o que eu tivesse fazendo com a minha vida fosse errado.

Minha relação com o Gustavo foi de mal a pior. Por dias, eu evitei até mesmo ir pra faculdade só pra não ter que ver ele.

Mal falei com a May ou com o Luan. Fiquei só na minha mesmo, estudando em casa e gastando todo dinheiro possível no shopping, pra me livrar desses sentimentos ruins.

Mas parecia que não passava, e estar na TPM me ajudava menos ainda.

O Gustavo cansou de ficar correndo atrás e fingir acreditar na desculpa de que eu estava doente. No sábado de manhã, ele simplesmente apareceu na minha casa, mandou eu me arrumar e me arrastou pra Baixada Santista. Eu não tive escolha, a não ser ir. Mas não estava me sentindo bem. Sei lá, era como se eu estivesse fazendo algo pra envergonhar minha família.

Acho que isso era porque eu não gostava dele. Eu só gostava do que ele proporcionava, da forma como me tratava. E eu sabia que tinha outra mulher na jogada. Não era algo que alguém podia bater no peito e se orgulhar.

Ele alugou um hotel para que passássemos o fim de semana.

Não conversamos muito no caminho, e quando nós chegamos, fomos direto almoçar em um restaurante que ficava na beira da praia.

Gustavo: Amor, me conta o que tá acontecendo.

Levantei o olhar em sua direção. Ele tinha acabado de devolver o drink pra mesa. Estava de frente pra mim, perfeitamente impecável como sempre.

Lívia: Não é nada.

Ele respirou fundo.

Gustavo: Eu sei quem tem alguma coisa de errado, linda. Você está me ignorando a dias - desviei o olhar encarando o chão. Ele voltou a respirar fundo, mas puxou a minha mão pra entrelaçar nossos dedos, por cima da mesa - É por causa da minha ex, não é?

Pensei no que responder. Mas não tinha uma justificativa. Então eu tentei colher verde dessa história.

Lívia: Ela realmente é ex? - perguntei, sustentando o olhar.

O Gustavo encarou nossas mãos, e eu fiz menção em tirar a mão da dele, mas ele segurou de volta.

Gustavo: Não faz isso.

Lívia: Me solta - pedi, e ele afrouxou o aperto entre nossos dedos. Tirei a minha mão, colocando ela em minhas pernas - Quero saber da verdade.

Gustavo: A única verdade que existe é que eu quero você. Que eu sou louco por você desde o primeiro dia em que te vi, Lívia.

Eu cruzei os braços, mandando toda as regras de etiqueta pra puta que pariu.

Lívia: A verdade, Gustavo.

Ele puxou todo o ar para os pulmões, e depois soltou aos poucos, parecendo nervoso.

Gustavo: A gente tem dois filhos, não tinha como eu largar toda a minha família por algo incerto. Mas agora eu tenho toda a certeza do mundo, que quero ficar contigo pro resto da minha vida, amor - ele falou - Eu entrei com o processo de divórcio, ontem.

Ele tirou o celular do bolso e mostrou a conversa com o advogado dele, sobre o divórcio.

Eu devolvi o celular a ele, e tomei coragem pra falar.

Lívia: Cancela esse divórcio, fica com ela. Fica com a tua família.

Ele estreitou os olhos, me encarando. 

Gustavo: Não. Eu quero você.

Lívia: Mas eu não... isso não é justo com você. Não é justo com a tua mulher, que deve te amar - engoli em seco - Eu gosto de você, mas eu não te amo. Eu gosto do que nós temos e do que nós vivemos, mas não é isso que eu quero pra minha vida.

Ele negou.

Gustavo: Te trouxe aqui pra termos essa conversa, para levarmos o nosso futuro pra frente. Vamos nos assumir, tá? Eu saio da faculdade, vou dar aula em outro lugar. Isso não é um problema pra mim.

Lívia: Mas é pra mim. Eu não me sinto bem com a nossa história, e foi por isso que fiquei distante nos últimos dias - fui sincera - Por muito tempo foi bom e me fez bem, mas eu nunca tive certeza de que era o que eu queria. Me relacionei com outras pessoas no meio do caminho também, você sabe disso.

Gustavo: Eu sei, e nunca me senti no direito de cobrar nada. Eu também tinha outra pessoa. Mas não tenho mais.

Neguei com a cabeça.

Lívia: Eu não quero mais. Não posso te enganar e fingir que eu amo você, porque seria mentira.

Gustavo: A gente fica aqui no fim de semana, curte e depois a gente pensa no amanhã. Por hoje, vamos só aproveitar a companhia um do outro, Lívia - ele falou, com a maior calma e amor do mundo - Por mais que você não me ame ainda, eu sei que sou capaz de mudar tudo isso. É normal, você é muito nova.

Lívia: Eu não quero ter que adiar o que já têm sido difícil, porque eu realmente gosto da gente juntos, sabe? - ele assentiu - Mas não pra sempre. Como você disse, não vale a pena trocar o certo por uma incerteza, Gu. Eu sou incerta até pra mim mesmo.

Ele ficou em silêncio por uns minutos, e depois me olhou.

Gustavo: Só hoje. Voltamos a noite, tá?

Por fim, acabei cedendo.

Prometi pra mim mesma que não ficaria com ele, mas que curtiria essa oportunidade de aproveitar um último dia ao seu lado.

Nós almoçamos juntos, depois aproveitamos a praia e quando já anoitecia, o Gustavo disse que queria me levar a um lugar. Me arrumei o mais breve que podia e depois sai ao seu lado, até o carro.

Ele dirigiu até um parque de diversão que tinha na cidade, e confesso que aquela foi a parte mais legal do dia.

Foi muito fácil me encantar por ele. Lindo, estiloso, rico e super educado. Ele era realmente um encanto, isso ninguém podia negar. Nossa química batia, os momentos ao seu lado eram sempre muito bons, só que eu tinha que admitir que não amava ele. E seria muito injusto deixar com que ele largasse toda a sua vida, sua família, somente porque eu gostava de sua companhia.

Mas toda vez que ele me fazia sorrir, era mais difícil de entender que eram nossos últimos momentos juntos.

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