II - A ampulheta.

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Pov: Jennie Bowen

Na sexta-feira, contra a minha vontade, não pude ir para a casa de Marta para que ela pudesse me dar aula, ou melhor, conversar. Quando minha mãe me deu a notícia, confesso que reagi com indiferença, e optei por não indagar o motivo de tal acontecimento. Às quatro da tarde, aproveitei o tempo livre para estudar um pouco de filosofia, a matéria que eu havia perdido no começo da semana, fiz algumas breves anotações sobre o assunto pois o conteúdo não era tão complexo.

No sábado a noite, eu me encontrava trancada no meu quarto completamente escuro. Apenas pequenas luzes eram vistas no teto em virtude de algumas estrelinhas ali coladas que brilhavam, e a do meu celular. Ele agora estava tocando a tão famosa música Cool for the summer, da Demi Lovato. Além do som estar no volume máximo, não hesitei em começar a cantar descontroladamente quando ouvi as primeiras notas soarem. Eu estava sentada no chão, ao lado da janela que se localizava no fundo do meu quarto, usando apenas uma camiseta que quase chegava aos meus joelhos.

Passei quase o dia todo livre, e decidi ter esse momento para desviar um pouco dos meus pensamentos. Eu não sabia o motivo, mas passei as últimas horas sem conseguir tirar a professora de biologia da minha cabeça; não exatamente ela, mas o que havia acontecido para ela desmarcar a aula. Além de que eu estava realmente curiosa sobre algumas coisas.

Certo, devo admitir que estive pensando um pouco nela sim. Estranhei o fato dela ter me tratado tão bem no pouquíssimo tempo que estive ao seu lado. Não só a forma que falava comigo, mas o jeito que ela olhava no fundo de meus olhos enquanto me ouvia falar, era algo muito bizarro. Os olhos daquela mulher eram tão bizarros quanto, pareciam opacos e mortos, não expressavam uma sequer emoção, e não tinham medo de te fuzilar de cima a baixo. Entretanto, aquele momento foi diferente. Enquanto estávamos no carro, o jeito que seus olhos brilharam tão naturalmente enquanto sorria, essa mulher era um pouco estranha.

Se eu me ouvisse falando essas coisas, acharia nojento a forma como pareço apaixonada, mesmo que não esteja. A sra. Huffman está longe de ser alguém ideal para um par romântico, muito menos de ser bonita. Ela é apenas elegante, eu diria. E talvez intrigante.

Quando voltei a realidade, notei que estava encarando o chão enquanto pensava sobre tudo isso, a música já estava quase encerrando e eu mal havia prestado muita atenção. Limpei a garganta e enrruguei o cenho. Por um momento, achei que estivesse me esquecendo de algo, algo muito importante. Fechei os olhos e me concentrei em lembrar o que foi isso, mas sem sucesso. Meu coração estava acelerado agora, tanto que nem sequer precisei encostar a mão em meu peito para senti-lo palpitando. Tinha sido como uma espécie de aviso da minha própria mente, ou intuição, eu não tenho como explicar isso detalhadamente, mas eu juro ter ouvido algo como um sussurro me alertando que eu precisava me lembrar de alguma informação.

As coisas estavam ficando estranhas demais, e eu não sabia o porquê. Tudo ao meu redor parecia me sufocar o tempo todo, e apesar de eu sempre ter tido más experiências, tudo isso parece ter começado na quarta-feira. Me distraí então quando a próxima música começou a tocar, música, desenho, poemas, arte em geral relaxava a minha alma de uma maneira surreal, e era tudo o que eu estava precisando naquele momento, ou talvez em quase todos os momentos da minha vida.

Meia hora se passou desde então, continuei cantando e dançando minhas músicas favoritas, até que minha mãe bateu na porta, e ouvi-a gritando para que eu fosse dormir. Quando peguei meu celular, me surpreendi com o fato de que já era uma da madrugada, o tempo passou rápido demais. Desliguei o som, e fui para o banheiro escovar os dentes e me preparar para ir deitar.

Domingo. Em virtude de eu ter dormido tão tarde, acabei acordando quase meio-dia. Após um tempo ouvindo Amanda fazer sua palestra sobre responsabilidade com horários, sono e que eu não deveria colocar um som tão alto, eu passei a lavar a louça do café da manhã enquanto pensava um pouco. Com isso, me lembrei do fato de que eu precisava terminar um cartaz importante para a próxima semana, e então decidi que poderia ir até a biblioteca no final da tarde, eu aproveitaria para escapar de casa, já que domingo é sempre o pior dia.

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