VI - Chuva de cristais.

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No dia seguinte, assim que abri os olhos, fui surpreendida por minha cabeça latejando. Não conseguia pensar sobre os recentes acontecimentos nem no que podia estar ocorrendo agora mesmo, a única coisa na qual eu de fato conseguia focar era na mordaz dor que me perturbava. Minha visão se encontrava desfocada, na companhia de uma onda de calor que parecia percorrer todo o meu corpo. Ainda que incapaz de olhar ao meu redor com plenitude pude notar que Marta não se encontrava mais ali.

De uma coisa eu estava certa, eu definitivamente não estava bem, e não sabia se teria forças o suficiente para procurar ajuda. Tentei levantar-me devagarinho, mas não teve jeito, a dor se tornava cada vez pior. E não era uma dor superficial em virtude dos cortes, muito menos comum, eu nunca havia vivenciado algo desse tipo; ela parecia vir do fundo de minha cabeça.

Tive algumas tentativas falhas em me levantar do colchão, mas consegui com muito esforço e necessidade. Minhas pernas se encontravam bambas, meu corpo pesado e uma exorbitante tontura que me obrigava a escorar-me na parede. Apesar das minhas atuais condições, consegui avançar até a metade da escada e senti algumas pessoas virem até mim para me ajudar após notarem que eu não estava muito bem, mas mesmo assim não pude identificar quem eram, apenas me apoiei em uma delas.

A dor era insuportável, mais forte do que todas as que tive durante e após os treinos, de forma que eu realmente pensei que poderia morrer ali. Meus joelhos falharam, quase me levando de encontro ao chão se não fosse pela pessoa ao meu lado. Abaixei a cabeça e fechei os olhos, desejando que eu apenas desmaiasse ali para cessar meu sofrimento.

Surpreendentemente, senti um conforto me invadir, acalorando meu interior e aos poucos aliviando toda a dor que me afetava. A cada segundo, passei a sentir as coisas que me tocavam, ouvir com clareza, minha visão se tornou um pouco mais nítida e finalmente tive a capacidade de olhar para o rosto da pessoa que me segurava.

- Jennie? O que aconteceu? - Ouço a voz de Marta logo depois de encará-la.

Agora, com o corpo mais leve, e com a dor tendo diminuído drasticamente, ajeitei minha postura e pensei um pouco.

- Eu não sei...mas estava sentindo uma dor de cabeça horrível, então achei melhor avisar alguém. - Falo com um pouco de dificuldade.

- Está melhor agora?

- Estou. É algum tipo de feitiço que você fez?

- Sim. Fico feliz que esteja melhor mas estou preocupada. Não era pra isso ter ocorrido.

- O que aconteceu com a mais linda das donzelas? - Escuto a voz de Kallias com um tom inquieto, mas nunca deixando a cortesia de lado.

- Não é nada, saia. - Huffman retruca, obviamente incomodada com o garoto.

Kai apenas me olha uma última vez antes de obedecer a senhora. Aparentemente, todos aqui a respeitavam e possuiam um sutil medo dela. E eu os entendo, de fato, Marta parece um pouco assustadora, mas tenho certeza de que ela não é tudo isso que pensam. Ela é carinhosa quando lhe convém, e com quem merece.

Me sento no sofá ao lado da professora e quase no mesmo instante algumas pessoas me servem água e frutas para que eu me recomposse. Eu me sentia extremamente melhor agora, saciando a fome e a sede com o que me trouxeram. Enquanto comia, observei sra. Huffman debater com alguns dos mais renomados alquimistas que moravam aqui sobre minha condição. A professora me encarava de vez em quando, encontrando meu olhar, mas logo desviava. Apesar de tudo, seu rosto traçava naturalidade.

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