Uma Mera Coincidência

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21/01/23

Wei Ying já estava há um tempo pensando na ligação que tinha recebido. No início, o castanho comemorou com Matteo quando estava em sua casa, eles beberam e tentaram trazer Dario para aproveitar também, porém, após chegar em casa completamente desnorteado, não demorou muito para ele começar a duvidar da veracidade de tal chamada.

Ele dormiu pesadamente e acordou ainda pensando na porcaria da ligação, no café, no almoço e em qualquer momento que decidisse deixar a mente vazia. Ele atendeu uma ligação de Dario que o parabenizou, mas ele estava tão desconfortável que não conseguiu agradecer e desligou sem responder. Foi babaca, mas o choque ainda não tinha sido absorvido bem no seu organismo.

Se ele fosse parar para analisar bem, por qual motivo uma empresa tão grande quanto a C.E.L ligaria para alguém como ele? Principalmente contando com o seu histórico de trabalho, que era equivalente a zero. Nesse meio tempo, sabendo que só faltavam três dias para a entrevista, ele roeu as unhas com a indecisão que o ameaçou.

O medo e a dúvida ainda estavam sendo os maiores desafios para ele conseguir identificar a melhor escolha nessa situação. Wei Ying apertou a almofada que ele abraçava sentado no pequeno sofar da sua kitnet, a televisão estava ligada em um filme de comédia romântica mas ele não estava prestando atenção nisso.

Com os olhos grudados na tela, mas a mente presa nos problemas que o rodeavam há dias, ele afundou o rosto na almofada e fechou os olhos. Seu cabelo caiu para frente e o som da televisão ficou baixo. Daquela forma, encolhido como um tatu assustado, Wei Ying permaneceu pelo resto das horas mal contadas do filme.

A sala estava escura, mas não era noite ainda. O menor decidiu manter todas as luzes apagadas para poupar energia e evitar gastos. Embora sua kitnet não fosse grande, ela ainda era capaz de consumir muita coisa e quanto mais isso acontecia, madame Yu ligava com mais frequência. Mesmo após bloquear o número dela, ele não sabia como, mas ela sempre dava um jeito de ligar. Isso se tornou insuportável ao ponto dele saber que não adiantaria nem trocar o próprio número.

Wei Ying já havia tentado trabalhar de diversas coisas, como padeiro, garçom e vendedor, no entanto, quase sempre as pessoas desistiam fácil de seu trabalho e ele não conseguia durar mais que um mês. Ele teve apenas alguns momentos em que não precisou usar o dinheiro dos Jiang, mas isso durou tão pouco que ele só precisou piscar para sumir.

Parecia um ciclo, sempre que ele se safava daquele fardo, ele voltava pior. Apesar de também ser filho de Jiang Fengmian, Wei Ying sabia mais que ninguém que ele nunca teria nem um pedaço sequer da herança deixada por seu pai. A família Jiang era rica, sendo os donos de um dos maiores hotéis na china, eles construíram um ótimo patrimônio para que seus filhos pudessem herdar no futuro, mas claro, Wuxian não se encaixava nisso.

Não importava se seu pai deixasse uma pequena quantia de dinheiro ou uma casa minúscula quando morresse, madame Yu iria garantir que ele não chegasse a por os olhos em qualquer coisa dada a ele. Todo o rancor que deveria ser dirigido a sua mãe, no fim, ficou para ele.

Ele havia ido embora para que tivesse um pouco de paz longe daquela mulher, mas ainda longe ela conseguia provocar o seu pior. Yu parecia sentir prazer em vê-lo tão dependente, porque assim ela teria controle sobre sua vida medíocre e humilharia ele quando quisesse descontar a raiva que sentia. Era cansativo.

Ele cresceu da pior maneira possível. Aquela mulher garantiu que ele crescesse assim.

Derrotado e muito cansado para pensar mais do que o seu cérebro aguentaria, o menor escorregou lentamente para deitar no seu sofá duro. Ele se agarrou com mais força no travesseiro e esperou que o sono consumisse o restante da sua energia.