Capítulo 2

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Marcus

Quando eu era criança, meu pai me ensinou como se deve tratar uma pessoa, principalmente uma mulher, jamais deveria levantar se quer a voz para uma por qualquer motivo. E eu vi isso nele, a forma como trata minha mãe, apesar dela ser difícil. Nunca os vi brigar na minha frente. Quando eu era adolescente, minha mãe me disse que eu não deveria ser bom para as pessoas esperando algo em troca, porque assim eu já seria uma pessoa ruim, mas que eu devia ser gentil seja quem for não importava a classe, raça ou gênero, eu fui ensinado a ver o mundo com um só.

Decidi fazer algo que de alguma forma mudasse o mundo. O que melhor do que professor. Nada se torna nada sem professor. Decidi seguir meus sonhos, de forma que eu incentivasse o sonho em outras pessoas. Já lecionei do maternal até o ensino superior, mas esse ano, para mudar de alguma forma, resolvi entrar na faculdade, dar aulas para adultos seria mais "racional" e tranquilo. Porém ainda sentia como se não estivesse fazendo o suficiente. Me candidatei para dar aulas de apoio para quem não tinha muito tempo para estudar sozinho, já que são adultos e a maioria concilia emprego e estudo. Estava fazendo isso a pouco tempo, e os meus colegas de profissão diziam para não me envolver muito. Eu tentei estar alheio a problemas pessoais, mas uma aluna capturou mais minha atenção.

Ela sempre ia, mas a maioria das vezes chegava atrasada e cansada. Eu entendo como é corrido para todos o dia a dia, mas eu sempre a via até mesmo nas aulas matutinas estava sozinha e sempre com a cara triste, nunca a vi sorrir, porém ela tem a força estampada na cara. Ela tratava todos gentilmente, mas nunca a vi com ninguém, sempre correndo, nunca tranquila. Eu sei que não devia me envolver dessa forma, mas eu queria fazer a diferença, nem que seja em uma pessoa. Mas acho que chegamos em um ponto em que não tem mais volta.

Natasha fala sobre sua vida, o que eu custei a digerir, já que eu tive uma infância e adolescência tranquilo, e por não fazer parte da minha realidade, ainda fico abismado com isso. Eu tento pensar em algo para dizer, mas não encontro palavras, nem mesmo para consolá-la. Só conseguia pensar em como ela era guerreira e forte por suportar tudo isso. Percebo que em alguns momentos ela respira fundo, como se fosse a primeira vez que ela está contando isso. Ouço atentamente ela falar sobre seu pai alcoólatra, mãe relapsa que a abandonou, e quando finalmente se viu livre desse inferno, entrou em um relacionamento abusivo, o qual com sorte se livrou com vida. Mas fala agora em como ela está desesperada por não saber como não ser despejada. Eu lhe ofereço dinheiro, porém ela é irredutível. Pisa o pé firme e não aceita de forma alguma nem msm disse o quanto está devendo, mas agora eu me sinto na obrigação de ajudá-la, de cuidar dela. Coisa que ela não teve na vida.

-eu não posso aceitar isso de forma alguma. eu não estou aqui por caridade. -vejo em seu rosto que a ofendi.

-não me leve a mal, eu quero ajudá-la de verdade.

ela levanta e vai para olhar pela janela.

-me deixe ajudá-la.

-não, eu não posso fazer isso com você. -olha em meu rosto. -Você já tem feio tanto por mim que quem tem que dar dinheiro sou eu. -limpa lágrima solitária em sua bochecha.

-ei. -me aproximo -me deixe ajudá-la.

-eu agradeço muito. -tive esperança em ela aceitar minha ajuda.-mas eu não posso.

pegou suas coisas e se foi. eu sei que deveria ir atrás dela, mas acredito que lhe faria mais mal do que bem. sento desanimado no sofá.

Esses três dias não consegui dormir direito, minha mente só rodava a imagem dela vagando sozinha na rua sem esperança e eu nunca me senti tão impotente quanto agora. Por isso hoje, segunda estou às 5 horas da manhã rodando na frente do apartamento dela tentando criar coragem de bater em sua porta, espero que o endereço ainda seja o mesmo que consta em seus dados.

eu a vejo, antes mesmo de alcançar sua porta, saindo com um saco preto e a mochila que carrega para todos os lugar. falando com um senhor.

-Srn. Sampaio. -A alcanço.

-O que você está fazendo aqui? -pergunta surpresa.

-olha. -vejo o senhor com uma cara bem fechada olhando para gente. a puxo mais distante e falo baixo. -eu sei que você não quer ajuda, mas eu quero ajudá-la e estive pensando, você pode me pagar quando puder, pode ser depois da faculdade, quando você encontrar um emprego bom ou..

-não eu não posso. -diz triste. -eu.. -morde os lábios se segurando para não chorar. 

Aulas de amorOnde histórias criam vida. Descubra agora